Medo da solidão, que acomete casados e solteiros, é como estar acorrentado
Somente a partir da década de 1940 passamos a associar mais intimamente casamento a amor. A entrada do amor romântico fez do casamento o meio para as pessoas realizarem suas necessidades afetivas, sendo a sociedade ocidental a única a assumir o risco de ver esse tipo de união ser estabelecido sobre o amor de um casal.
Imagina-se que assim se alcançará uma complementação total, que as duas pessoas se transformarão numa só, que nada mais irá lhes faltar e, para isso, fica implícito que cada um espera ter todas as suas necessidades pessoais satisfeitas pelo outro. Em pouco tempo essas expectativas se mostram incompatíveis com a realidade, e as frustrações vão se acumulando. Não podia ser de outra forma, o amor é uma emoção e o casamento é um compromisso, uma instituição com leis, regras e normas.
O historiador inglês Theodore Zeldin afirma que o medo da solidão assemelha-se a uma bola e uma corrente que, atados a um pé, são um obstáculo à vida plena, tal e qual a perseguição, a discriminação e a pobreza. Se a corrente não for quebrada, para muitos a liberdade continuará um pesadelo.
Segundo ele, a crença mais gasta, pronta para a lixeira, é que os casais não têm em quem confiar salvo neles próprios, o que é tão infundado quanto a crença de que a sociedade condena os indivíduos à solidão. Na realidade, existe tanta solidão entre os casados quanto entre os solteiros, e de qualquer modo ela não é uma praga moderna. Os hindus dizem, em um dos seus antigos mitos, que o mundo foi criado porque o Ser Original se sentia solitário.
Aceitar isso talvez seja o primeiro passo para relacionamentos amorosos mais ricos e criativos, longe da expectativa de que o outro nos livre da condição de seres solitários. O terapeuta e escritor Roberto Freire não tem dúvida de que risco é sinônimo de liberdade e que o máximo de segurança é a escravidão.
Freire acredita que a saída é vivermos o presente através das coisas que nos dão prazer. A questão, diz ele, é que temos medo, os riscos são grandes e nossa incompetência para a aventura nos paralisa. Entre o risco no prazer e a certeza no sofrer, acabamos sendo socialmente empurrados para a última opção.
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