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Depressão pós-parto: o lado doído de ser mãe

Você sabia que uma em cada dez mulheres que dão à luz desenvolvem a doença? Informe-se e saiba como lidar com o problema

Ana Bardella Publicado em 01/06/2016, às 15h57 - Atualizado em 07/08/2019, às 17h44

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Depressão pós-parto: o lado doído de ser mãe - Shutterstock
Depressão pós-parto: o lado doído de ser mãe - Shutterstock
A chegada do bebê é o momento mais lindo, pleno e, sobretudo, feliz da vida de uma mulher. Pelo menos é assim que aprendemos que ele deveria ser... Seja nas brincadeiras de casinha ou nos filmes com finais felizes em que as mulheres aparecem com suas barrigonas, somos ensinadas desde pequenas que o nascimento de um filho é uma fase mágica. E, a maioria das mulheres, de fato, se sente realizada. Mas e quando esse acontecimento tão importante começa a gerar ansiedade, angústia e acaba desembocando numa depressão? Descubra por que isso acontece e a importância de deixar o preconceito de lado e encarar de frente esse problema tão mais comum do que se pensa:
A diferença entre depressão e melancolia pós-parto
Ao dar à luz, muitas mulheres se sentem tristes. “Esse sentimento está ligado às mudanças hormonais, à descida do leite e à percepção da mulher de que terá a responsabilidade de cuidar de um bebê”, explica Cristiana Julianelli, psicanalista com formação em psicologia perinatal e parental (voltada para grávidas e para mães e pais de recém-nascidos). Muitas vezes, a mãe se questiona se dará conta da nova função. Estima-se que 8 em cada 10 mulheres enfrentam essas dúvidas após o parto e experimentam oscilações no humor, choro fácil, ansiedade, alterações no sono e no apetite. Mas isso tudo tende a passar em um mês. Em compensação, quando os sintomas são mais fortes e vêm acompanhados de tristeza profunda, desinteresse pelo bebê e pelas atividades do dia a dia (a ponto de atrapalhar a relação com a família), é hora de procurar ajuda médica. Em casos mais graves, as mulheres podem cogitar até o suicídio. Por isso, a situação nunca deve ser subestimada.
Por que o sentimento aparece?
“A chegada de um filho pode trazer alegrias e realizações, mas é muito comum que traga também medo, insegurança e angústia devido às inúmeras mudanças internas e externas que acompanham a gestação e o pós-parto”, explica a especialista. Trata-se de uma experiência totalmente nova. Além disso, outros motivos podem interferir na maneira como a mulher enxerga sua condição de mãe:
❱ Durante a gestação, é comum experimentar o sentimento de que mãe e bebê são um só, o que gera a sensação de estar completa. Com o parto, vem a separação e, muitas vezes, o sentimento de vazio.
❱ Outra sensação corriqueira é a de que o bebê que está nos braços da mãe não é igual àquele que ela havia imaginado quando ainda o carregava no ventre.
❱ A mulher passa por uma mudança de papel bem grande. Se antes era filha, agora vira mãe. Isso pode gerar insegurança, principalmente para quem é muito exigente, se cobra a todo momento e acha que é sua obrigação dar conta de tudo sozinha. O caminho aqui é aceitar (e pedir também) ajuda, seja do marido, da mãe, da sogra, de uma amiga...
❱ O corpo fica diferente, e nem sempre é fácil aceitar esse tipo de mudança. A situação pode, inclusive, interferir na sexualidade. Aqui, o segredo é manter o diálogo aberto com o companheiro.
❱ Se a mulher é casada ou está em um relacionamento estável, a relação e a dinâmica da casa, que antes só importavam a ela e
ao marido, passam a dizer respeito também ao filho.
❱ A rotina muda completamente e, muitas vezes, a mãe se sente isolada. Essa sensação tende a ser maior nas primeiras semanas, quando o bebê ainda não interage muito. Aceitar receber visitas ajuda!
❱ A alimentação e o sono ficam prejudicados devido à demanda constante da criança.
“A maternidade está longe de ser um conto de fadas”
“Percebi que havia algo errado quando senti medo uma semana após a Mia, que hoje está com 5 meses,nascer. Um dia dormi amamentando e ela caiu no meu joelho. Não foi grave, mas senti que não seria capaz de cuidar dela. Fui me trancando em casa, não queria receber visitas, chorava e implorava para que meu marido não fosse trabalhar. Às vezes, me batia na frente do espelho. Coloquei na cabeça que este é um mundo ruim para se criar um filho, e que não seria capaz de ver a Mia sofrer. Ao mesmo tempo, me sentia frustrada, pois a gravidez foi muito planejada! Sou casada há 9 anos e finalmente estava realizando o sonho de ser mãe. Porém, não me sentia feliz. Três semanas depois, coloquei a Mia para dormir e peguei todos os medicamentos da casa. Achava que aliviar esse sentimento. Mas a Mia chorou, e não fiz nada. Depois, a situação se repetiu e cheguei a tomar alguns remédios. Mais uma vez, escutando o choro dela, me arrependi e vomitei. Foi difícil para mim e para o meu marido. Emagreci 20 kg e ele, 12 kg. Mas seu apoio foi importante – ele esteve sempre ao meu lado, enquanto os outros diziam que aquilo era frescura. Minha mãe também. Ela disse que ninguém saberia cuidar tão bem da Mia quanto eu. Tirando eles, me sentia sozinha. Mas acabou que eu criei um grupo no Facebook chamado Sou Dessas Mães, e hoje recebo relatos de pessoas que passaram ou passam pela mesma situação. Aprendi que é preciso desmistificar a figura da mulher que ‘nasceu para ter um filho e uma família’ – até porque nem é isso o que todas as mulheres querem da vida. Hoje estou bem. De vez em quando sento e choro, mas sei que a maternidade não é um conto de fadas e, mesmo prazerosa, não é fácil para nenhuma mulher...”
Monique Ranauro