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Regina Navarro Lins

A incerteza no amor tem benefícios e pode manter a paixão viva

Universa

22/02/2018 04h00

(Ilustração: Caio Borges)

Não são poucos os casais que vivem numa relação de aparências, que pode servir de proteção do mundo exterior. Ambos podem se tornar dependentes um do outro e do próprio relacionamento. Alcançar um equilíbrio entre autonomia e dependência não é nada simples. A busca de autonomia não significa incapacidade de permanecer numa relação a dois, mas sim a recusa de pagar qualquer preço por ela.

A terapeuta de casais americana Esther Perel faz observações interessantes sobre a dependência emocional na vida a dois, que sintetizo a seguir. Quando se inicia uma relação o amor lhe agarra e você se sente poderoso e não quer que acabe. Mas também tem medo. Quanto mais você se apega, mais tem a perder. Então tenta tornar o amor mais seguro. Procura prendê-lo, torná-lo confiável.

Você assume seus primeiros compromissos e alegremente abre mão de um pouco de sua liberdade em troca de um pouco de estabilidade. Mas a emoção estava ligada a uma certa dose de insegurança. A sua excitação decorria da incerteza, e agora, ao procurar dominá-la, você acaba fazendo a vivacidade se esvair da relação.

Tentando controlar os riscos da paixão, você acabou com ela. Nasce o tédio conjugal. Embora prometa aliviar nossa solidão, o amor também aumenta nossa dependência emocional de uma pessoa. Somos propensos a acalmar nossas ansiedades através do controle. Sentimo-nos mais seguros e diminuímos a distância que há entre nós, aumentamos a certeza, as ameaças perdem a força e refreamos o desconhecido.

Existe uma forte tendência nas relações longas a valorizar mais o previsível. Mas o erotismo gosta do imprevisível. O desejo entra em conflito com o hábito e a repetição. É indisciplinado, e desafia nossas tentativas de controle.

Na vida a dois não queremos jogar fora a segurança porque nossa relação depende dela. Uma sensação de segurança física e emocional é fundamental para uma relação saudável. Mas sem um componente de incerteza não há desejo, não há frisson. A paixão numa relação é proporcional ao grau de incerteza que você pode tolerar.

No fim, modelamos um sistema de convicções, medos e expectativas – algumas conscientes, muitas inconscientes – em relação à forma de funcionamento das relações. Fazemos um pacote bem amarrado com isso tudo e o entregamos ao nosso amor.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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