Bebê com DIU no cabelo: o que pode falhar em métodos contraceptivos?
A imagem de um bebê com o contraceptivo DIU enroscado nos cabelos viralizou na internet na última segunda-feira (26) e muita gente tem questionado a eficácia desse e de outros métodos anticoncepcionais.
Em tempos de fake news, é preciso frisar que muitos médicos têm contestado a veracidade da imagem. Primeiro, porque são raríssimas as falhas de contraceptivos como o DIU de cobre (cerca de 0,8% das pacientes engravidam); segundo, porque é pouco provável que um obstetra faça o pré-natal deste tipo de gravidez sem recomendar a retirada do aparato no início da gestação. A medida é recomendável para evitar abortos, partos prematuros ou que o aparato perfure partes sensíveis do corpo do feto em desenvolvimento.
Embora a autora da foto — a norte-americana Cadesia Foster — tenha dado uma entrevista à Revista Crescer dizendo que conhece a mãe e o bebê da imagem que se tornou viral, a polêmica sobre a legitimidade da notícia segue firme e, enquanto isso, "histórias de terror" sobre falhas de métodos contraceptivos se multiplicam nas caixas de comentários das redes sociais.
Em entrevista para Universa, a ginecologista Ana Thaís Vargas, da clínica Lumos Cultural, em São Paulo (SP) explica quais são os diferentes métodos anticoncepcionais disponíveis no Brasil e de que forma cada um deles pode falhar.
No caso do DIU, Vargas também se mostra surpresa e desconfiada da foto que viralizou, mas confirma que absolutamente qualquer método contraceptivo pode falhar. "Brinco com as pacientes que a única forma 100% eficaz de evitar gravidez indesejada é não manter relações sexuais com pessoas de sexo biológico oposto ao delas ou não manter relações com ninguém".
Para a especialista, é importante ressaltar que o uso rotineiro de métodos hormonais manipulados pelas próprias pacientes (pílula, anel, adesivo ou injetáveis) é diferente do uso perfeito do método.
Uso perfeito X uso rotineiro
"O uso perfeito do método é quase impossível: são raríssimas as pacientes que tomam todas as precauções necessárias para que o índice de falha seja o 0,3% prometido na bula. Sempre existe a possibilidade de esquecer de tomar a pílula ou de trocar o anel/ o adesivo, esquecer a data da aplicação de injeção", afirma. Fora isso, o uso de alguns remédios como certos tipos de anticonvulsivantes e antibióticos também podem diminuir a ação do método contraceptivo hormonal.
O índice de falha do uso rotineiro de métodos hormonais é o mais próximo da realidade: cerca de 9% das pessoas que optam por esse método engravidam todos os anos. Quanto mais atenta e disciplinada em relação às datas e horários de uso do medicamento, mais a paciente se aproxima do que os médicos chamam de "uso perfeito" destes métodos, reduzindo as chances de gravidez.
Além dos métodos hormonais supracitados, existem os que já vêm com o "uso perfeito" porque não dependem da disciplina das usuárias. O primeiro e mais popular é o DIU de Mirena - que tem índice de falha de aproximadamente 0,2% no primeiro ano e ação espermicida local, impedindo o encontro do óvulo com o espermatozoide.
O segundo é o Implanon, um implante de silicone popularmente conhecido como chip. Ele libera progesterona lentamente no sangue durante três anos e é considerado atualmente o mais seguro da categoria. O índice de falha é de 0,02% ao ano. Ou seja, uma a cada 10 mil usuárias acaba engravidando.
Contraceptivos não-hormonais de barreira
O método anticoncepcional de barreira mais conhecido de todos é a camisinha. Embora tenha o índice de falha de 15% ao ano (ela pode se romper, ser mal colocada ou manuseada de modo inapropriado), é preciso lembrar que este ainda é o único contraceptivo que nos protege de ISTs. Ou seja: idealmente, deve ser utilizado em qualquer relação sexual que não tenha a gravidez como objetivo e, associado com outros contraceptivos, seu índice de falha quase desaparece.
Um método de barreira pouco utilizado na atualidade é o diafragma, uma espécie de chapeuzinho que obstrui o acesso do esperma ao útero. Ele exige uma confecção personalizada (do tamanho exato para o canal vaginal de cada mulher), deve ser associado ao uso de espermicidas e tem um índice de falha tão alto quanto os dos preservativos: 16% ao ano, porque tem que ser colocado e tirado corretamente. Fora isso, não protege as usuárias contra ISTs.
Contraceptivos não-hormonais cirúrgicos
A laqueadura é o ato cirúrgico de cortar as tubas uterinas e amarrá-las para que, mesmo havendo ovulação e menstruação normais, os óvulos não encontrem com os espermatozoides no útero. Ela tem um índice de falha anual de 0,5%. A vasectomia é uma intervenção cirúrgica ainda mais segura, com apenas 0,2% de falhas anuais. Apesar de ser uma cirurgia reversível na maioria dos casos, a doutora deixa um lembrete: "se o paciente faz uma vasectomia pensando que algum dia pode querer revertê-la, o ideal é utilizar outros dos inúmeros métodos disponíveis", diz.
O DIU de cobre também é um contraceptivo não-hormonal, com preço acessível (cerca de R$ 100) e pode ser colocado no SUS. No Brasil, existem implantes que podem ficar de 5 a 10 anos no corpo da paciente. Com índice de falha de 0,8% ao ano, o DIU de cobre não interfere na libido ou na menstruação, ainda que possa agravar as cólicas em pacientes que sofrem de dismenorreia. Uma das ações deste aparato é também espermicida - modificando a química natural do útero, não permitindo a sobrevivência de espermatozoides. Assim, ele não é abortivo. Apenas impede a fertilização.
"Enquanto a história da foto não tiver explicações mais contundentes, não há motivo para pânico. As pacientes podem continuar confiando nos métodos tradicionais, em especial os combinados - e cuidando para chegar o mais perto possível do uso perfeito", completa Vargas.
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