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Paola Machado

Entenda como o músculo se recupera após uma lesão

Paola Machado

18/04/2019 04h00

Crédito: iStock

A lesão muscular é a maior queixa dos pacientes em consultas ortopédicas. Estima-se que de 30% a 50% de todas as lesões associadas ao esporte são causadas por lesões musculares. Uma aparente simples lesão muscular pode afastar um atleta dos treinamentos e competições, gerando prejuízo psicológico no atleta e na equipe.

O sintoma mais evidente da lesão é a dor que surge como o primeiro sinal e tende a diminuir com o passar do tempo. Pode ocorrer espontaneamente, à palpação do local, à contração ou ao alongamento da musculatura afetada.

As lesões musculares podem ser causadas por contusões, estiramentos ou lacerações. As alterações biológicas que ocorrem na musculatura após uma lesão seguem sempre um mesmo padrão, independentemente do tipo de lesão sofrida.

Entenda o que ocorre imediatamente no local da lesão muscular

Imediatamente após a lesão, ocorrem alterações biológicas que podem ser divididas em três fases do processo. Essas fases se sobrepõem e estão intimamente relacionadas.

  1. Destruição Caracterizada pela ruptura e posterior necrose (morte da células) das miofibrilas — finíssimas fibras contráteis localizadas na célula muscular. Ocorre formação do hematoma e proliferação de células inflamatórias.
  2. Reparo e remodelação Consiste na fagocitose (ingestão e destruição) do tecido necrótico, reparo das miofibrilas e na produção concomitante do tecido cicatricial conectivo, assim como a formação de novos vasos.
  3. Remodelação Período de maturação (ganho de estrutura) das miofibrilas, de contração e de reorganização do tecido cicatricial; e da recuperação da capacidade funcional muscular.

Em relação à cicatriz, devo me preocupar?

Com o tempo, a cicatriz formada diminui de tamanho, levando as bordas da lesão a uma aderência maior. Aproximadamente 10 dias após o trauma, a maturação da cicatriz atinge um ponto em que não é mais o local mais frágil da lesão muscular.

As lesões do músculo podem se reparar sem a formação de tecido cicatricial que incapacite o músculo de funcionar perfeitamente. Mas há casos em que a proliferação de tecido é excessiva, resultando na formação de tecido cicatricial denso. Nesses casos, que ocorrem geralmente em traumas musculares graves ou rerrupturas, a cicatriz pode criar uma barreira mecânica que atrasa e restringe completamente o reparo de fibras musculares, diminuindo a função do músculo.

Tem sido demonstrado que a capacidade de reparo do músculo em resposta à lesão é menor com o envelhecimento.

Diagnóstico

O diagnóstico da lesão muscular inicia-se com uma história clínica detalhada do trauma, seguida por um exame físico com a inspeção e palpação dos músculos envolvidos, assim como os testes de função.

O diagnóstico é fácil quando uma típica história de contusão muscular é acompanhada por edema (inchaço) ou uma equimose (extravasamento de sangue/mancha roxa). Pequenos hematomas superficiais e aqueles que são mais profundos podem ser de difícil identificação. Exames de imagem como ultrassom, tomografia computadorizada e ressonância magnética geram informações para determinar a lesão com maior precisão.

O que posso fazer?

No primeiro momento após a lesão, o maior objetivo é evitar que ela se estenda, além de amenizar a resposta inflamatória exacerbada. Para isso, é importante que haja o respaldo médico.

As primeiras 24 horas após a lesão são fundamentais. Já é evidenciado pela ciência o papel do protocolo PRICE para prevenir complicações do quadro lesivo.

O que significa o protocolo PRICE?

P: Protection – proteção do local.
R: Rest – descanso.
I: Ice – gelo.
C: Compression – compressão.
E: Elevation – elevação.

Entenda os benefícios de cada etapa do protocolo PRICE

  • Proteção e repouso Previne a retração muscular tardia ou uma alteração muscular maior, por se reduzir o tamanho do hematoma e, subsequentemente, o tamanho do tecido conectivo cicatricial.
  • Gelo A crioterapia está associada a um hematoma significativamente menor nas alterações das fibras musculares rompidas, menor inflamação e regeneração acelerada. O gelo diminui a extensão da lesão por hipóxia secundária, isso significa menor área de lesão ao redor do trauma.
  • Compressão e elevação A compressão associada à elevação ajuda na drenagem e reabsorção do edema; manter o membro acima do nível do coração resulta na diminuição da pressão hidrostática, reduzindo o acúmulo de líquido.

Após essa fase inicial imediata, é importante inserir exercícios específicos e tratamentos da fisioterapia com recursos eletrofísicos como ultrassom e laser de indicação e conduta do fisioterapeuta.

A mobilização precoce de maneira passiva, alongamento e aquecimento da musculatura irão favorecer o crescimento de vasos capilares e melhor regeneração e organização das células musculares. O início imediato da reabilitação após lesões agudas é a chave para encurtar o tempo de afastamento e favorecer a recuperação ideal da musculatura.

Há indicações precisas em que a intervenção cirúrgica é necessária, por exemplo, pacientes com grandes hematomas intramusculares, lesões ou roturas completas (grau III) e lesões parciais em que mais da metade do músculo esteja comprometido.

O Protocolo PRICE é acessível por ser rápido e barato, e auxilia para que não haja uma lesão ainda mais extensa com um processo inflamatório exagerado. No entanto, há a importância do acompanhamento de profissionais de saúde. Nesses casos, o médico e o fisioterapeuta são os indicados para avaliar e traçar o tratamento específico.

*Colaboração da fisioterapeuta Doutora em Ciências da Saúde pela UNIFESP, Dra. Renata Luri e da fisioterapeuta pela UNIFESP, Dra. Bruna Barreto

Referências:
– BAYER, M. L. et al. Treatment of acute muscle injuries. Ugeskrift for laeger, v. 181, n. 8, 2019.
– BAOGE, L. et al. Treatment of skeletal muscle injury: a review. ISRN orthopedics, v. 2012, 2012.
– FERNANDES, Tiago Lazzaretti; PEDRINELLI, André; HERNANDEZ, Arnaldo José. Lesão muscular: fisiopatologia, diagnóstico, tratamento e apresentação clínica. Rev Bras Ortop, v. 46, n. 3, p. 247-55, 2011.
– MAFFULLI, Nicola et al. ISMuLT Guidelines for muscle injuries. Muscles, ligaments and tendons journal, v. 3, n. 4, p. 241, 2013.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.