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Regina Navarro Lins

Há pessoas que insistem em acreditar em erros que limitam o amor e o sexo

Regina Navarro Lins

29/11/2018 04h00

Ilustração: Caio Borges

Ninguém duvida que, desde a década de 1960, com o surgimento de métodos contraceptivos eficazes, as mudanças são muitas no que diz respeito ao amor, casamento e sexo. Valores aceitos durante milênios como verdades absolutas estão sendo questionados, por não darem mais respostas satisfatórias.

Por serem tão profundas, essas mudanças só vão ser percebidas com clareza quando todo esse processo estiver concluído. E pode ser que demore algumas décadas ainda. Entretanto, não significa que qualquer pessoa não possa usufruir desde já das vantagens de viver fora de modelos impostos. Só é necessário coragem para experimentar o novo, o que muita gente não ousa por medo. Fica mais fácil se agarrar aos padrões de comportamento conhecidos, apesar de todas as frustrações.

A terapeuta de casais Esther Perel aponta que "para a maioria das pessoas, a menção a relações sexualmente abertas faz acender o sinal vermelho. Poucos assuntos ligados ao compromisso do amor evocam uma reação tão visceral. E se ela se apaixona por ele? E se ele nunca mais voltar? A ideia de amar uma pessoa e fazer sexo impunemente com outra assusta. Tememos que a transgressão de um limite acarrete a violação potencial de todos os limites. Contra essa "decadência", a única barricada é formar um casal. Isso nos protege de nossos impulsos. É nossa melhor defesa contra a animalidade desenfreada."

Mas, afinal, que mudanças tão profundas são essas? A mulher poder dividir o poder econômico com o homem e ter filhos se quiser e quando quiser é a transformação radical que comanda todas as outras subsequentes. Porém, a modificação da maneira de pensar não atinge a todas as pessoas ao mesmo tempo e é por isso que encontramos anseios e comportamentos tão diversos num mesmo grupo social.

Ainda existem pessoas insistindo em acreditar em equívocos que limitam a própria vida. Como são muitos, posso citar alguns que me ocorrem de imediato e você pode pensar em outros além desses:

—   Só é possível a realização afetiva no casamento

—   Ninguém pode ser feliz sem um par amoroso

—    Não é possível amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo

—   Quem ama não sente desejo por mais ninguém

—   O amor materno é da natureza da mulher e toda mulher deseja ter um filho

—   O pai não tem condições de criar um filho tão bem quanto a mãe

—   A iniciativa da proposta sexual cabe naturalmente ao homem

—   O amor romântico é o único amor verdadeiro

—   No sexo o homem é por natureza ativo e a mulher passiva

—   No casamento é importante ceder sempre para se viver bem

Esta lista pode se estender por muitas páginas. Isso tudo e muito mais nos foi ensinado desde cedo. Quem acredita, sofre. Abre mão das próprias singularidades e nunca se arrisca a novas experiências. Mas, felizmente, cada vez é maior o número de quem duvida dessas afirmações.

O desejo crescente, que se observa em homens e mulheres, de não participar de relações amorosas tradicionais é provavelmente consequência da diminuição do ideal de fusão com uma única pessoa, característica do amor romântico.

Sobre a autora

Regina Navarro Lins é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e "Novas Formas de Amar". Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

Sobre o blog

A proposta deste espaço interativo é estimular a reflexão sobre formas de viver o amor e o sexo, dando uma contribuição para a mudança das mentalidades, pois acreditamos que, ao se livrarem dos preconceitos, as pessoas vivem com mais satisfação.

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