"Cansei de estar gordo"

Ivan ouviu que não passaria dos 30 anos por causa da obesidade, mudou hábitos e foi dos 120 kg para os 87 kg

Bárbara Therrie Colaboração para o UOL VivaBem Ricardo Matsukawa/ UOL VivaBem

Ivan T. B., 28, tinha somente 8 anos quando a balança marcou pela primeira vez mais de três dígitos. Aos 12, ele já pesava 112 kg e sofria de pressão alta. Aos 18, com 150 kg e no auge da obesidade, procurou uma médica para fazer a cirurgia bariátrica, mas uma frase da especialista o fez desistir da operação.

A profissional disse que Ivan precisava entender que não era gordo, estava gordo. A mensagem ficou em seu inconsciente por quase uma década, quando o impulsionou a uma mudança no estilo de vida. A seguir, mostramos o treino e o cardápio que fizeram o psicólogo chegar aos 87 kg.

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"Você vai morrer com 30 anos se não emagrecer"

Imagine uma criança de 12 anos ouvir um alerta desse do médico. Pois com Ivan foi assim. Desde criança ele tinha uma alimentação "livre". Comia o que queria e na quantidade que queria. "Eu saía da escola e comia um cachorro quente. Quando chegava em casa, almoçava e depois passava o dia consumindo bolacha recheada, salgadinho e frituras, além de tomar refrigerante o tempo todo. Só ficava saciado quando a comida acabava", relembra.

Com 8 anos e mais de 100 kg, ele vestia roupas para meninos de 14. O primeiro alerta na saúde veio quando tinha 12 anos e já pesava 112 kg. Exames de rotina apontaram que ele estava hipertenso devido à obesidade. "Minha mãe me levou ao médico. Ele disse que eu deveria emagrecer para não morrer. Se continuasse daquele jeito, não passaria dos 30."

Ivan fez sua minha primeira dieta com essa idade. Seguiu por um tempo, mas depois parou e continuou engordando. Na escola, os colegas o chamavam de baleia e bolo fofo quando queriam zoá-lo. Ele ficava triste, exagerava ainda mais na comida e seguia ganhando peso...

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Menos 30 kg duas vezes

Em 2009, aos 18 anos, Ivan chegou ao auge da obesidade e atingiu 150 kg. Então, resolveu procurar uma especialista em cirurgia bariátrica. "A médica disse que eu atendia aos critérios para fazer o procedimento, mas me falou uma frase que ficou no meu inconsciente por quase dez anos e só teve efeito no final de 2017. Ela disse que eu não era não era gordo, mas que eu estava gordo", conta.

Ao ouvir isso, Ivan decidiu não fazer a cirurgia e de 2009 a 2017, entre dietas, a prática irregular de exercícios e um eterno efeito sanfona, eliminou 30 kg. Obviamente, esse foi um ótimo resultado. Mas, com 120 kg, ele continuava obeso e ainda precisava reduzir o peso na balança.

Por isso, Ivan considera que seu verdadeiro processo de emagrecimento saudável teve início em janeiro de 2018, em um consultório de psicanálise. "Durante uma consulta, eu me lembrei da frase de quase uma década atrás da cirurgiã. Ainda estava obeso e pensei: 'Já que eu não sou gordo, mas estou gordo, eu cansei de estar gordo'".

A ideia se solidificou em sua mente e ele decidiu que queria mais do que estabelecer metas para emagrecer, desejava adotar um novo estilo de vida. "Não precisava mais da aprovação de ninguém, meu desejo era me tornar uma melhor versão de mim mesmo a cada dia". Foi com esse pensamento e mudanças no cardápio e na rotina de exercícios que ele perdeu mais 33 kg, chegando aos atuais 87 kg.

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Mudança na mente e no cardápio

O primeiro passo para atingir seu objetivo foi desconstruir a imagem que tinha de que ser gordo definia sua identidade. "Toda vez que eu afirmava que eu era gordo, a psicanalista me questionava o que isso significava. Não sabia responder. Comecei a refletir sobre a minha aparência, a analisar como eu me via e me sentia e a entender que a forma como eu estava não era definitiva", explica.

A segunda etapa foi mudar a alimentação e desmistificar a ideia de que ele era feliz comendo. "Compreendi que a felicidade não estava em um prato de comida, mas em cuidar de mim. Nesse processo, passei a pesquisar e estudar sobre os benefícios dos alimentos. Também me consultei com uma nutricionista e iniciei uma reeducação alimentar".

Os novos hábitos incluíam se alimentar de três em três horas, em quantidade moderada e ingerir comidas naturais, — verduras, legumes, frutas, ovo, carne. Ele cortou os doces, sucos industrializados, temperos prontos e comidas embutidas.

O foco na dieta foi tanto que, na época, o estudante de psicologia chegava em casa da faculdade à meia-noite e ia fazer a comida do dia seguinte. Ivan preparava seis refeições (veja abaixo o exemplo de um dia de cardápio dele) e guardava tudo na marmiteira térmica. "Procurava seguir essa rotina no final de semana e evitava comer fora. Quando combinava de jantar na casa de um amigo e sabia que ia ter uma massa, por exemplo, compensava nas refeições anteriores e não consumia carboidrato no almoço". No começo, ele determinou que não podia ultrapassar 1.800 calorias diárias. O segredo era controlar a ingestão e o gasto calórico.

Os segredos do menu para emagrecer

Boas fontes de carboidratos

O cardápio de Ivan tinha cerca de 40% de carboidratos, substância importante para dar energia para treinar, segundo Amanda Costa, especialista em nutrição aplicada ao exercício pela USP (Universidade de São Paulo). Ele investia em boas fontes do nutriente, como aveia, arroz integral, frutas e legumes, que são ricas em fibras e saciam.

Fracionamento das proteínas

"Consumir o nutriente em todas as refeições contribui para que você sinta menos fome ao longo do dia, além de garantir um bom aporte de aminoácidos, essenciais para a manutenção da massa magra, algo muito importante para um emagrecimento saudável", explica Costa. Ovo, frango, peixe, queijo, iogurte, feijão e grão-de-bico são algumas fontes de proteínas.

De olho no consumo calórico

Com orientação de um nutricionista, Ivan definiu que seu cardápio teria 1.800 calorias --menos energia que seu corpo gastava. "Esse déficit é fundamental para emagrecer, mas é preciso focar na qualidade dos alimentos. A pessoa deve ter cuidado para não restringir vitaminas e minerais importantes do cardápio ao restringir as calorias", alerta Costa.

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Mais músculos e menos gordura

Além dos novos hábitos alimentares, o psicólogo recorreu à atividade física. Ele se matriculou na academia Smart Fit e treinava todos os dias no primeiro horário, das 6h às 7h10, com folga apenas no sábado e domingo.

Ele fazia atividades aeróbicas intervaladas de alta intensidade (HIIT) e, principalmente, exercícios de musculação, que muitos se enganam ao achar que não são aliados na perda de peso. De acordo com o educador físico Jaime Damaceno, líder da Smart Fit, na unidade da Santa Cecília, o treino com pesos é importante para o emagrecimento pois aumenta a massa muscular, o que promove um aumento da taxa metabólica em repouso. Ou seja, seu corpo vai gastar mais calorias quando você não está se exercitando. "A musculação também otimiza os índices de mobilização e utilização de gordura."

Outra dica para emagrecer que Ivan adotou foi praticar exercícios multiarticulares, isto é, que utilizam mais de uma articulação durante o movimento, como agachamento, supino, afundo."Além de trabalhar vários músculos ao mesmo tempo e proporcionar um bom gasto calórico, esses exercícios produzem um grande número de microlesões na musculatura e permitem uma movimentação maior da carga, gerando maior liberação de hormônios como a testosterona, essencial para os resultados na academia", explica Damaceno.

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Meta agora é estar magro

Após seis meses seguindo essas estratégias, Ivan eliminou 21 kg e foi de 120 kg para 99 kg, um marco para ele. "Fiquei emocionado, tinha oito anos de idade a última vez que a balança marcou dois dígitos". Em um ano e meio, o saldo total foi de 33 kg a menos.

Do processo inicial para hoje, o psicólogo fez poucas mudanças, diminuiu um dia de treino, agora vai à academia quatro vezes por semana e está focado em aumentar a massa magra e diminuir o percentual de gordura. Na alimentação, elevou a ingestão de calorias para 2.500 por dia e tem uma refeição livre na semana para comer o que quiser.

Orgulhoso por sua determinação e força de vontade, ele garante que continua o mesmo Ivan de antes, mas que agora tem o controle de suas escolhas. E afirma: "Diferenciar o ser do estar [gordo] fez toda a diferença no meu novo estilo de vida".

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