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Pode fazer sexo usando coletor? Veja mitos e verdades sobre o método

Ao final do ciclo, o coletor deve ser esterilizado em ?gua fervente e guardado em um saquinho de algod?o - iStock
Ao final do ciclo, o coletor deve ser esterilizado em ?gua fervente e guardado em um saquinho de algod?o Imagem: iStock

Bárbara Stefanelli

Do UOL

19/01/2017 04h10

Desde que houve o “boom” de coletores menstruais no Brasil, por volta de 2015, o interesse não parou de crescer e, após o estranhamento inicial, cada vez mais novas adeptas estão recorrendo ao dispositivo.

No entanto, ainda restam dúvidas e curiosidades sobre seu uso. O UOL conversou com moderadoras do grupo do Facebook Coletores Brasil, que tem cerca de 81 mil membros, para saber quais são as principais questões relacionadas ao copinho que surgem por lá.

E as perguntas foram respondidas por Nathália Machado Cardoso, médica residente em Medicina de Família e Comunidade pela Faculdade de Medicina da USP e parte do corpo clínico do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde; por Teresa Embiruçu, ginecologista, sexóloga e obstetra, e Danielle Garcia, usuária e criadora da página Coletor Menstrual. 

Abaixo, veja mitos e verdades sobre o dispositivo:

1) Toda mulher pode usar o copinho?
Verdade: O uso do acessório só não é indicado logo após o parto normal, principalmente se tiver pontos cirúrgicos na região. “Mulheres virgens podem usar, talvez encontrem um pouco mais de dificuldade no início, principalmente pelo medo de romper o hímen --o que, de fato, pode acontecer”, afirma Teresa. Nathália complementa: “Há poucas restrições para o uso desse método, mas não recomendamos quando há suspeita de infecções vaginais e nem para conter sangramentos do período pós-parto”.
 
2) Existe um tamanho certo para cada mulher?
Verdade: Há diversas marcas no mercado que, em geral, vendem dois tamanhos: um menor, para mulheres abaixo de 30 anos e que nunca deram à luz por via de parto vaginal, e outro maior, para mulheres com mais de 30 anos ou que já vivenciaram esse tipo de parto. “Isso, na realidade, não é uma regra. Há mulheres com mais de 30 anos ou que já tiveram partos vaginais que possuem os músculos pélvicos mais fortalecidos, então podem usar o de tamanho menor”, diz a médica do coletivo feminista.

3) Uso do acessório causa infecções?
Mito: Os coletores disponíveis no mercado são feitos de silicone ou látex e, em vez de absorverem o fluxo, como acontece com os tampões e absorventes, realizam a coleta. “Dessa forma, eles não alteram o pH nem a flora vaginal e não há evidências que comprovem aumento na chance de infecções em relação aos absorventes descartáveis comuns no mercado”, explica Nathália. Outra vantagem é que eles ainda evitam irritações na pele. “Algumas mulheres desenvolvem alergia ao contato com o plástico do absorvente comum. Quando a alergia é extensa, pode até ter alguma infecção secundária causada por bactérias de pele”, adiciona Teresa. A usuária, no entanto, não pode ficar mais de 12 horas com o coletor.

4) É mais higiênico que o absorvente descartável?
Verdade:
Conforme explicado, o coletor acumula, internamente, o sangue da menstruação. Então, a cada ida ao banheiro, a mulher não precisa limpar todo aquele sangue. Além disso, muitas usuárias relatam que se sentem mais confortáveis, já que, por conta do sangue ficar armazenado internamente, não fica qualquer tipo de odor no ambiente, que é causado pela oxidação do sangue, em contato com o ar.

5) É possível esvaziar em qualquer banheiro?
Verdade:
A cada troca, que normalmente é indicada de seis até no máximo 12 horas (dependendo do fluxo de cada pessoa), é necessário lavar o coletor com água corrente e sabão neutro. Por isso, muitas mulheres preferem fazer esse processo no banho. No entanto, é possível trocar em banheiros públicos ou que não tenham uma pia perto do vaso sanitário, é só esvaziar o copinho e limpá-lo com um lenço umedecido. Como plano B, leve uma garrafinha d’água para o banheiro e despeje o líquido sobre o coletor, após limpá-lo com a toalhinha. É importante que a mulher esteja com as mãos limpas durante esse processo.

6) Pode ser usado como contraceptivo?
Mito: As fontes consultadas não indicam penetração quando a mulher estiver fazendo uso do dispositivo e ressaltam que o copinho tampouco deve ser usado como contraceptivo ou forma de se proteger contra DSTs. “Durante a penetração, o acessório pode ser empurrado mais para o fundo da vagina e pode ser desconfortável. A haste que é usada para retirar o coletor, apesar de ser bem flexível pelo material de silicone, também pode incomodar o parceiro”, complementa Teresa. Danielle, no entanto, afirma que para o sexo oral é ótimo (“Não incomoda nem vaza nada”).

7) O método vaza e acaba sujando a calcinha?
Verdade:
Se o coletor não estiver ajustado corretamente à parede vaginal, é provável que ocorram vazamentos, pois acaba não criando o “vácuo” necessário para o coletor se fixar. Para inseri-lo da maneira correta, a mulher tem que encontrar a melhor dobra para o seu corpo. Os manuais de instrução são, geralmente, bem ilustrativos e mostram alguns tipos de dobraduras. “Há vários tipos de dobras possíveis e não existe uma indicação específica para cada mulher. Vai muito do conforto e da facilidade que cada uma tem para colocar. Escolha uma e experimente até encontrar aquela com a qual se sente melhor”, aconselha Nathália. Outra causa do vazamento pode ser o fluxo menstrual muito intenso. Se esse for o motivo, a usuária deve esvaziar o dispositivo em menos tempo. Mas isso ela só vai aprender com um tempo de uso e conhecendo melhor o seu ciclo.

8) Causa mais cólica menstrual? Incomoda?
Mito:
O coletor apenas recebe o sangue que já saiu de dentro do útero, então não justifica o aumento de cólica. “A dor tipo cólica não é causada por nada que esteja dentro da vagina. O que pode acontecer é que, durante o período menstrual, a região fica mais inchada e sensível, então pode aumentar o desconforto no uso, mas não a dor tipo cólica”, afirma Teresa. Nathália complementa: “A grande possibilidade, quando há cólica mais intensa, é a de que o dispositivo esteja mal inserido ou o tamanho esteja inadequado”. Danielle ainda diz que, se colocado da maneira correta, a pessoa nem lembra que está com ele. "Como é de silicone, acho que o copinho adere à parede e você acaba nem sentindo."

9) Sai mais em conta?
Verdade:
Um pacote de absorventes com oito unidades custa, em média, R$ 4,00 e é recomendável que a mulher faça a troca a cada quatro horas. Ou seja, por dia, são usadas cerca de seis unidades. Se a menstruação costuma durar cinco dias, vão 30 absorventes por ciclo, o que dá uns R$ 16. Por ano, isso sai R$ 192. Já um coletor custa por volta de R$ 80 --R$ 79,00 (Inciclo), R$ 86,40 (Alergoshop) e R$ 89,90 (Fleurity, duas unidades). Lembrando que cada copinho dura de cinco a dez anos, dependendo do fabricante.

Além da economia, também tem o fator ecológico, já que a mulher produz menos lixo, ao não usar qualquer tipo de absorvente descartável. De acordo com uma pesquisa encomendada pela fabricante do Inciclo em 2014, 53% das mulheres que compraram um coletor foi por motivos de sustentabilidade. Em segundo lugar, com 15,75%, vinha a questão higiênica. O estudo foi feito com 3.218 adeptas do coletor.