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Dieta "ostentação" promete eliminar 10 quilos em um mês por R$ 1.200

Ao todo, Jéssica Mendes emagreceu 14 quilos em três meses de tratamento - Arquivo Pessoal
Ao todo, Jéssica Mendes emagreceu 14 quilos em três meses de tratamento Imagem: Arquivo Pessoal

Thamires Andrade

Do UOL

19/01/2017 04h03

Jéssica Mendes, 28, estava muito acima do peso quando viu uma propaganda em um carro no caminho do trabalho. "Elimine dez quilos em um mês", dizia o anúncio. Interessada, a técnica de controle de custos procurou na internet mais sobre o método 5S e encontrou uma clínica credenciada. "Sou vaidosa e nenhuma das minhas roupas servia. Queria algo que me ajudasse a emagrecer rapidamente, mas sem me deixar flácida", conta ela, que emagreceu os 10 quilos prometidos na propaganda em um mês e meio.

Criadora do método 5S, a fisioterapeuta Edivana Poltronieri conta que ele surgiu de sua própria experiência com a obesidade: ela engordou muito após duas gestações e não conseguia mais voltar ao peso. "Sabia que precisava de uma reeducação alimentar, não uma dieta restritiva, inclusive o 5S não é uma dieta, e que tinha que comer de três em três horas. Formulei um suplemento natural com minerais e vitaminas que geralmente estão em falta no corpo dos obesos e que contribuem para a compulsividade, fora o tratamento estético da manta térmica, que ajuda a acelerar o metabolismo, mas ainda faltava algo que garantisse que não haveria 'efeito sanfona'", relembra.

E foi aí que a fisioterapeuta tomou conhecimento de um estudo feito na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) que relaciona o alto consumo de gordura saturada com uma inflamação no hipotálamo. "Essa inflamação mata os neurônios e, dependendo da área que essas células tiverem morrido, o obeso terá um descontrole: uns transpiram demais, outros comem muito e não se entem saciados", exemplifica.
Pensando nessa inflamação e suas sequelas, Edivana descobriu que as gorduras boas, como ômega 3 e ômega 9, teriam a capacidade de reverter esse quadro e resolveu testar o método recém-criado com um grupo pequeno de amigos e familiares. Resultado? Eles emagreceram de 10 a 15 quilos em 30 dias.

Fase de perda

A primeira etapa, chamada de fase de perda, tem duração média de 30 dias e é quando o emagrecimento realmente acontece. O paciente recebe uma orientação alimentar baseada em alimentos com poucas calorias e hiperproteicos. "A gente não dá um cardápio, mas sim, uma lista com o que pode ser consumido e as quantidades. E essa listagem é alterada toda semana. A ideia é dar um ‘choque’ no organismo para que ele continue respondendo durante o mês todo”, explica.

Edivana explica que não há grupo alimentar excluído da alimentação. “Comemos de tudo. Não tiramos carboidrato, como algumas dietas. A gente vai comer macarrão? Sim, mas não todo dia e sempre a versão integral. Ensinamos a consumir as coisas com moderação e a ideia é comer o alimento mais ‘natural’ possível. Para que usar pacote de tempero pronto, se dá para fazer uma versão com alho, sal e outras ervas em casa?”, questiona.

Apesar do cardápio diário ter 1.500 calorias, Jéssica conta que sofreu no início da dieta. “Trabalho em obra e todo mundo gosta de almoçar um lanche. Então, no primeiro dia, saí de perto dos meus colegas e chorei. Eles comendo o que eu tanto amava e eu com acelga, palmito e filé de frango no prato. Nos primeiros dias, a tentação e a fome são grandes, mas depois me acostumei e aprendi a beber água quando a fome apertava”, afirma.

A parte estética dessa etapa é feita com a manta térmica duas vezes por semana. “Nós passamos no corpo do paciente um produto para acelerar o metabolismo e queimar gordura e aí ela vai para a manta, que tem uma técnica capaz de ‘quebrar’ a gordura corporal e, na sequência, faz 20 minutos de exercício para usar essa gordura quebrada para gerar energia”, explica Edivana.

Jéssica relembra que, no início, parece que “você vai morrer na manta”, pois a massagem é dolorida. “Mas depois você se acostuma e quando vê o resultado, fica ainda mais motivada e inspirada a continuar”, diz.

Os pacientes também tomam suplementos nutracêuticos. “Com base em vários estudos, identifiquei as vitaminas e minerais que estão em baixa no corpo do obeso, como cromo, zinco e magnésio, e que estão relacionados ao metabolismo e ganho de peso e criei esse nutracêutico”, explica.

Segundo Edivana, os pacientes podem tomar esse suplemento para o resto da vida, pois ele ajuda a baixar a compulsão alimentar. O ômega 3 e 9 também são indicados pela fisioterapeuta pelo resto da vida, pois atuam, justamente, para desinflamar o hipotálamo.

WhatsApp como aliado e ausência de atividade física

Uma ferramenta que Edivana encontrou para monitorar os pacientes à distância foi o WhatsApp. “Com essa rede social, a gente consegue supervisionar e acompanhar se eles estão comendo certo. Eles precisam mandar imagens, então não tem como mentir. Também usamos a ferramenta para motivá-los a não sair da linha”, explica.

Todos os pacientes do 5S entram em um grupo de WhatsApp e têm como obrigações diárias postar foto do peso ao acordar e das refeições. “Acho que uma das coisas mais legais do tratamento é o grupo, pois você recebe ajuda e pode contribuir e motivar os outros também”, explica Jéssica.

Outro ponto que chamou sua atenção e a fez pagar R$ 1.500 por mês para participar do 5S, foi o fato de emagrecer sem praticar atividade física. “Para mim, não precisar ir para academia foi outro diferencial do método, já que sempre fui sedentária. Agora comecei a fazer caminhada e aula de Zumba para manter o peso que perdi”, conta. Ao todo, Jéssica emagreceu 14 quilos em três meses.

Edivana explica que é comum os pacientes emagrecerem e depois procurarem uma nova atividade. “Às vezes o obeso não quer fazer exercício por vários motivos, como desgaste físico e vergonha de ir até a academia. Então, quando emagrece, busca uma atividade. Apesar do método não exigir, nós sempre frisamos que é importante para a saúde cardiovascular praticar atividade física”, explica.

Manutenção e reeducação

Depois que o paciente chegou ao peso desejado, ele entra na fase de manutenção para, depois, seguir para a reeducação. Além de incluir novos alimentos na dieta, a manta térmica não precisa mais ser feita duas vezes na semana. “O tratamento estético fica mais personalizado nessas etapas. A esteticista pode associar algum outro aparelho à técnica da manta, tudo de acordo com a queixa do paciente, como celulite”, exemplifica.

Edivania estima que mais de sete mil pacientes já foram tratados no Brasil e mais de 150 toneladas de gordura foram eliminadas. “De 85 a 90% deles têm mantido o peso e não tiveram efeito sanfona. Os que voltaram a engordar foi ou por que abandonaram o método no meio do caminho ou desistiram do tratamento, pois preferiram permanecer com os velhos hábitos alimentares”, acredita.

Preço

Interessado em adotar o 5S? Prepare o bolso. Segundo a criadora, os preços variam entre as 218 unidades espalhadas pelo Brasil. “Meu desejo era tabelar o preço no Brasil, mas não tem jeito. Tem clínica que atende classe A e B e que coloca um preço maior do que um espaço em uma cidade pequena”, diz.

Assim, a fisioterapeuta estipulou como preço mínimo R$ 1.200 por mês pelo tratamento. Ou seja, se o paciente ficar três meses, desembolsará R$ 3.600.

Generalização da obesidade

Durval Ribas Filho, presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), e Maria Edna de Melo, doutora em endocrinologia pela USP e presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade), veem o método com ressalvas. Ainda que os dois concordem que o consumo de gorduras saturadas realmente inflama o hipotálamo, eles acreditam que desinflamar a região não é a salvação para quem sofre de obesidade. “Não dá para generalizar a obesidade, pois ela é uma doença muito complexa e multifatorial. Para alguns pacientes, a regulação do hipotálamo pode resolver, mas para outros não. Não dá para simplificar e criar uma receita de bolo para todo mundo”, opina Maria Edna.

Outro questionamento do presidente da Abran são os suplementos padronizados do método. “É preciso pedir exames laboratoriais específicos para saber se o paciente tem alguma deficiência ou não. O excesso de minerais ou vitaminas tem ação oxidativa, favorecendo o aparecimento de doenças crônicas degenerativas”, explica Filho.

Proximidade do paciente é ponto positivo

Um dos pontos positivos colocado por Maria Edna do método é o fato da listagem de alimentos ser trocada toda semana. “A monotonia alimentar muitas vezes cansa o paciente e vira mais um motivo para que ele abandone a reeducação alimentar”, explica a presidente da Abeso.

Outro fator positivo é a aproximação dos pacientes graças aos grupos do WhatsApp. “O ser humano precisa ter um pouco de pressão para seguir em frente”, explica Filho. “Geralmente o paciente vem ao consultório e só depois de meses retorna, então, essa proximidade com o paciente tem um aspecto positivo para ele aderir ao tratamento”, afirma Maria Edna.