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Sexo e amamentação: é possível conciliar?

Retomar a vida sexual no pós-parto pode ser assustador, mas é possível se for feito com calma - Getty Images/iStockphoto
Retomar a vida sexual no pós-parto pode ser assustador, mas é possível se for feito com calma Imagem: Getty Images/iStockphoto

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

05/06/2019 04h01

A retomada da vida sexual na fase pós-parto costuma ser um momento assustador para uma parcela significativa das mulheres.

Afinal de contas, a profusão de hormônios circulando no organismo costuma afetar a lubrificação vaginal, tornando a penetração, em alguns casos, difícil e dolorosa. É claro que, com calma, uma sessão gostosa de preliminares e um frasco de lubrificante íntimo à base de água, tudo pode se desenrolar de maneira mais tranquila.

A alteração hormonal influencia diretamente na libido. "No pós-parto, a prolactina, que é o hormônio que possibilita a amamentação, pode inibir o desejo físico e emocional da mulher, que, evidentemente, está com a atenção quase toda voltada ao bebê", explica a psicóloga e sexóloga Rosely Salino, que também atua como terapeuta de casal, de São Paulo (SP). "Algumas conseguem voltar à frequência sexual após três meses, mas vemos casos que podem alcançar um ano. A nova rotina, a falta de sono e o cansaço dificultam esse retorno".

É preciso ter paciência e lembrar que alimentar o bebê exclusivamente com o leite materno é uma orientação da OMS (Organização Mundial da Saúde) para que a criança se desenvolva bem. Amamentar também despende energia, o que aumenta ainda mais a fadiga. Portanto, o casal tem que encarar a situação com diálogo. E, à medida que forem retomando as transas, os dois precisam lidar com naturalidade com a situação -- porque, respondendo à pergunta que dá título à reportagem, é possível, sim, conciliar amamentação e sexo.

Novos papéis

"Um dos passos fundamentais para isso é ambos compreenderem que os papéis que exercerão em suas vidas terão espaços, tempos e funções diferentes, ou seja, na hora do relacionamento sexual, a principal função ali não é de pai ou mãe, e sim de namorados", fala a psicóloga Denise Figueiredo, sócia-diretora do Instituto do Casal, em São Paulo (SP). Enquanto a mulher não se sentir segura nem à vontade para transar, o casal pode investir na intimidade de várias formas: ficando só nas preliminares, trocando carícias, tomando banhos juntos, através de massagens etc.

Como os seios são uma zona erógena, é possível que por causa dos estímulos aconteça um vazamento de leite durante a transa. Se os dois estiverem cientes disso, a situação não provocará desconforto nem alarde. "O jorro do leite, para casais que já tinham pouca intimidade sexual, pode causar afastamento. No geral, porém, as pessoas lidam bem com a novidade, incorporando em muitos casos até como uma fantasia.

Aleitamento adulto

O aleitamento adulto é muito praticado, mas ainda considerado um tabu. Não há nenhum problema se o parceiro quiser experimentar o leite, desde que a mulher se sinta confortável com a prática", observa Rosely, que avisa que a brincadeira de mamar na parceira não causa danos à criança." A única coisa que pode ser prejudicial à criança é quando a prática se torna uma parafilia e o parceiro acaba exagerando e deixa o bebê sem alimento", pondera.

Uma boa higiene, no entanto, é necessária. De acordo com o ginecologista e obstetra Vamberto Maia, diretor da rede Clínica Mãe, os seios são muito suscetíveis a machucados, infecções e feridas. "Ao se colocar a boca no seio, bactérias são trocadas. E isso pode ser perigoso para o bebê, que ainda tem poucas defesas", diz. Portanto, depois da transa é preciso limpar bem a região com água e sabonete líquido neutro.

Usar o seio para alimentar o bebê e usá-lo como uma região erótica envolvem prazeres completamente distintos. No entanto, para algumas mulheres a vivência dessas experiências pode provocar conflito e até culpa. "O autoconhecimento é muito importante nesse momento, para que ela possa definir o que a faz feliz e realizada.

Na amamentação é possível engravidar, sim

A maternidade não deve ser encarada como um problema ou algo limitante na prática sexual. Se ainda assim a mulher se sentir confusa ou culpada, é essencial que procure um sexólogo que a ajude a entender seu momento e a retomar a vida sexual com qualidade, confiança e segurança", fala Rosely.

Logo após o nascimento do filho, é essencial que o casal converse com o ginecologista sobre os métodos contraceptivos. Antigamente, havia uma crença de que mulheres amamentando não podiam engravidar, mas ela já caiu por terra.

Para evitar uma nova gestação indesejada, é bom pensar em alternativas como camisinha ou DIU (dispositivo intrauterino). "Outra opção são pílulas anticoncepcionais contendo apenas progesterona. Contraceptivos combinados com estrogênio e progesterona não são recomendados pela possibilidade de o estrogênio ser absorvido pelo bebê via leite materno", explica Vamberto.