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É um perigo imenso estereotipar a pessoa desde a barriga

Maria Flor Calil

07/11/2017 08h00

É só a barriga aparecer que as perguntas começam:
"Tá grávida?"
"Pra quando é?"
"Já sabe o que vai ser?"
Quando ouço esta última, sempre tenho vontade de responder: "Muito amado". Mas sei que, no mundo binário em que (ainda) vivemos, o interesse da pessoa é pelo sexo, menino ou menina?
Como não sou dessas pessoas evoluídas que conseguem esperar a hora do parto para ter a surpresa e já sei o que é, digo: "Um menino." Pronto, é a deixa para muitas especulações:
"Se prepara, menino é bem mais agitado!"
"Ah, que bom, seu marido deve estar muito feliz porque vem aí um parceiro pra jogar bola, né?"
"Você vai ver que delícia, menino é apaixonado pela mãe!"
Confesso que, até para mim, é difícil não criar expectativas do que seja ser mãe de um menino. Mas, como já tenho duas meninas, que, apesar de pertencerem ao mesmo gênero, são absolutamente diferentes uma da outra, prefiro pensar que espero um ser humano e que só quando ele nascer é que vou conhecer suas características e aptidões.
É um perigo imenso estereotipar a pessoa desde a barriga. Um estudo feito com crianças entre 10 e 14 anos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em parceria com Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health, recentemente divulgado, mostra que (ainda) meninas são vistas como "fracas" e meninos como "fortes". A mensagem que (ainda) as meninas recebem desde muito novas é a de que são vulneráveis e incapazes.
Nascer menino ou menina não deveria determinar o que você pode ou não fazer, seus gostos, profissões… O triste é que esses estereótipos se baseiam muito pouco em diferenças reais e biológicas entres os gêneros e muito mais em construções sociais.
Em diversas ocasiões já ouvi a neurocientista Suzana Herculano-Houzel dizer que as diferenças entre o cérebro feminino e masculino são mínimas, mas a influência cultural é enorme. Ou seja, a princípio, não existe isso de "menino é melhor em matemática", mas o menino vai ser mais estimulado e vai se sair bem. Assim, fica claro que a maior parte das diferenças entre os sexos está na expectativa das pessoas.
Então, criemos menos expectativas… Minha irmã, maravilhosa, quando estava grávida do primeiro bebê e ouvia a fatídica pergunta, respondia: "olha, eu só sei que tem um pinto, vai se chamar João e torcer pelo Corínthians." Já eu posso dizer: "olha, eu só sei que tem um pinto, vai se chamar Francisco, torcer pelo São Paulo e ser muito amado."

 

Sobre a autora

A jornalista Maria Flor Calil, mãe da Teresa e da Julieta, e esperando Francisco, já trabalhou na TV Cultura, na Fundação Roberto Marinho e até foi dona de loja infantil. Depois da maternidade, foi abduzida pelo mundo da maternagem e editou o site da Pais & Filhos, a revista Claudia Filhos e lançou o livro “Quem Manda Aqui Sou Eu – Verdades Inconfessáveis Sobre a Maternidade”. Atualmente, é diretora de conteúdo do Aveq (www.averdadeeque.com.br) e editora de comunicações do Colégio Santa Cruz.

Sobre o blog

Começar de Novo, a música-tema do seriado Malu Mulher (exibido em 1979 e atualíssimo para as questões femininas), é inspiração para a jornalista grávida de um temporão. Um espaço para falar do lado B da maternidade, com uma dose de leveza e outra de profundidade.

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