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Paola Machado

Seu estresse pode atrapalhar (e muito!) os resultados do treino

Paola Machado

12/04/2018 04h00

estresse prejudica desempenho no treino

Crédito: iStock

Você sabia que toda a tensão provocada pelo trabalho, pelo trânsito e por outras situações do dia a dia podem dificultar a perda de gordura e o ganho muscular? Sim, isso acontece porque altos níveis de estresse –mesmo aquele você mal  percebe — estão vinculados a liberação de hormônios estressores, como catecolaminas (noradrenalina e adrenalina) e cortisol, que prejudicam os resultados do treino por diversos motivos.

Imagine você em uma situação de "luta ou fuga". Por um exemplo, você está na rua, de repente, vem um cara te assaltar e você sai correndo — sei que não é indicado, é só para a explicação fazer sentido, ok? Nessa situação, o cortisol age para aumentar rapidamente a taxa de açúcar do sangue (glicemia), dando energia para você correr em uma velocidade que nem imaginava alcançar.

Só que o cortisol tem uma grande desvantagem: ele quebra a energia estocada no tecido muscular para converter em glicose, sendo hiperglicemiante. Por esse motivo, o estresse pode levar à dificuldade de hipertrofia. De acordo com uma pesquisa realizada na Califórnia (EUA), o cortisol ainda age no cérebro para inibir a produção de testosterona, um dos principais hormônios para a construção muscular e ganho de força. Com a inibição da substância, como você conseguirá ter a hipertrofia muscular efetiva?

Recuperação pós-exercício é prejudicada

Como esse tema foi um dos quais abordei em minhas pesquisas de mestrado, gosto muito de falar. O excesso de hormônios do estresse no organismo pode causar um interferência negativa no sistema imunológico e gerar uma supressão da atividade do sistema de defesa. Isso prejudica não só a recuperação muscular, como deixa seu corpo mais suscetível a doenças. Vale lembrar que, além da tensão do dia a dia, a prática de exercícios estimula a produção de hormônios do estresse. Por isso, é necessário respeitar o tempo de recuperação entre os treinos  e a duração da atividade física — treinamentos com mais de uma hora e meia de duração estão mais associados à liberação desses hormônios e quadros de imunossupressão.

Cortisol contribui para o estoque de gordura abdominal

Como disse no primeiro tópico, devido ao  aumento da glicemia gerado pelo estresse/cortisol, seu organismo realiza um processo chamado overdrive, que é a resposta à insulina. Cada vez que seu organismo tem picos de açúcar no sangue, o pâncreas libera insulina para que ocorra a captação da glicose circulante pelo músculo, fígado e tecido adiposo. O pior é que essa glicose estocada no tecido adiposo tende a ser armazenada no "estoque de emergência", que é sua querida barriguinha e entre os órgãos vitais, aumentando o risco de doenças crônicas, cardiovasculares etc.

Aumenta a vontade de alimentos calóricos

A utilização do glicogênio (forma de glicose armazenada) no músculo não é a única tática "usada" pelo cortisol para manter a energia do organismo em alta. O hormônio do estresse provoca um aumento exacerbado do desejo por alimentos ricos em gordura e com alto teor de açúcar. Os famosos comfort foods, ou seja, alimentos que promovem conforto e são consumidos em situações de emoções extremas, pois inibem, temporariamente, a atividade estressora relacionada ao cérebro. No entanto, uma vez que esse efeito não dure muito tempo, em cerca de 30 minutos você irá buscar mais e mais fontes dessas comidas, tornando-se um ciclo "viciante" e fazendo com que engorde muito.

Lembre-se! Seu padrão de sono pode interferir, e muito, no estresse…

"Durmo oito, nove, dez horas por dia e continuo cansado." Quem não passa por situações como essa? Temos níveis de sono (o sono de ondas leves ao sono de ondas profundas, que é quando você realmente dormiu). A preocupação com o bebê que pode chorar de noite, o estresse no seu trabalho durante o dia, as metas do outro dia, tudo isto contribui para que você não durma direito. Mantendo sua mente ocupada na hora de dormir, o excesso de liberação de cortisol pode fazer com que atrapalhe muito seu sono. Aí, seu organismo anseia em uma maior busca por açúcar, gorduras e calorias, reduzindo a ação de hormônios anabólicos. Além do mais, dormir mal interfere muito no treino (abordarei esse assunto no futuro).

REFERÊNCIA:
– Kirby,E.D.; et al. Stress increases putative gonadotropin inhibitory hormone and decreases luteinizing hormone in male rats. PNAS July 7, 2009. 106 (27) 11324-11329.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.