Distanciamento e mistério são essenciais para a paixão
É muito raro encontrar alguém que nunca tenha se apaixonado. Nós todos aprendemos, desde cedo, a desejar viver uma paixão. Não se sabe nada do outro, vemos o que queremos ver, e a pessoa por quem estamos apaixonados faz o mesmo. A conversa dura pouco, mas isso não impede de que se façam planos e se imaginem situações. Na maior parte das vezes, a emoção que se sente, nesse caso, é de um amor totalmente idealizado. Por isso, certo distanciamento e mistério são essenciais para a paixão; em geral, as pessoas não se apaixonam por alguém que conhecem bem.
A terapeuta de casais belga Esther Perel, com consultório em Nova York, diz que "apaixonar-se por alguém é dar permissão a essa pessoa para uma mistificação consentida. A cristalização de nossos desejos num individuo específico significa que o descobrimos tanto quanto o inventamos, correndo o risco de "dourá-lo" nesse percurso. Os mais perfeitos embustes se valem sempre das linguagens do entusiasmo e da devoção. Mesmo que o outro esteja sendo sincero no momento em que declara sua paixão, nada garante que manterá sua palavra, pois assim como eu, não tem o controle das próprias emoções."
Para o sociólogo inglês Anthony Giddens o amor apaixonado é marcado por uma urgência que o coloca à parte das rotinas da vida cotidiana, com a qual, na verdade, ele tende a se conflitar. O envolvimento emocional com com o outro é invasivo — tão forte que pode levar o indivíduo, ou ambos os indivíduos, a ignorar as suas obrigações habituais. O amor apaixonado tem uma qualidade de encantamento que pode ser religiosa em seu fervor. Tudo no mundo parece de repente viçoso, mas é especificamente perturbador das relações pessoais e arranca o indivíduo das atividades cotidianas e gera uma propensão às opções radicais e aos sacrifícios.
Ansiosos por experimentar as emoções tão propaladas desse amor, quase todos no mundo ocidental constroem a história que bem entendem, sem nem se dar conta disso. Há quem questione se uma paixão desse tipo pode ser duradoura. A questão é saber se entre a pessoa real e a imagem que se formou dela existe grande distância. Se existir, em pouco tempo a convivência com o outro se torna frustrante e surge o desencanto.
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