Topo

Paola Machado

Conhece a termografia? Exame indolor ajuda no acompanhamento de lesões

Paola Machado

26/06/2018 04h00

Crédito: iStock

Desde o período de Hipócrates, a temperatura corporal tem sido utilizada como indicador de doença. A produção de calor (ou termogênese) é um processo fundamental para a vida. Ela representa o efeito combinado do metabolismo de nutrientes, fluxo sanguíneo e gasto energético.

Pequenas mudanças termogênicas em tecidos específicos podem refletir em doenças, alterações genotípicas ou mudanças da função fisiológica. Estas alterações são capazes de ser regularizadas por medicações e tratamentos não medicamentosos. A mensuração desta propriedade intrínseca da vida pode fornecer conhecimentos para o diagnóstico e tratamento de diversas doenças em seus estágios mais precoces.

O que é termografia?

De acordo com a ABRATERM (Associação Brasileira de Termologia), o exame baseia-se em um novo conceito de avaliação por imagem, empregando a última tecnologia em sensores infravermelhos, originalmente desenvolvidos para uso militar na Guerra do Golfo.

Também conhecido como termografia infravermelha e termometria cutânea, o procedimento, com uso de filmagem, registra atividade metabólica, microcirculação e a função vasomotora cutânea em imagens térmicas 3D de alta resolução e em tempo real.

Pode ser realizado o exame de corpo todo sem nenhum risco ao paciente e com muito mais informação diagnóstica.

Como é realizado o exame?

Qualquer objeto com a temperatura acima do zero absoluto emite radiação infravermelha ou radiação térmica. A imagem infravermelha mensurada ou termografia constitui um método de diagnóstico que capta e mensura a radiação que é emitida pelo corpo, propiciando uma imagem da distribuição térmica da superfície cutânea.

Esta radiação é detectada por uma câmara infravermelha de alta resolução, com capacidade de detectar variações térmicas de 0,05 a 0,1°C. A captação desta imagem térmica depende, portanto, da detecção da emissão de radiação da superfície da pele.

Qual a utilidade da termografia?

A termografia pode ser utilizada para investigar uma ampla variedade de condições clínicas e possui uma elevada especificidade e sensibilidade diagnóstica.

É utilizada para estudo da dor, pois, como identifica calor, consegue detectar processos inflamatórios que estejam ocorrendo no corpo, ainda em fases iniciais.

Entre as respostas que podem ser constatadas com a termografia estão: estudos metabólicos, lesões do esporte e trabalho, síndromes dolorosas, alterações vasculares relacionadas a enxaqueca e riscos de AVC, distúrbios neurovegetativos relacionados a fibromialgia e Raynaud.

É um método capaz de localizar e quantificar objetivamente reações inflamatórias do sistema músculoesquelético.

Quais as vantagens do método?

Este método apresenta vantagens como:

  • isenção de radiação ionizante;
  • inocuidade;
  • baixo custo;
  • indolor;
  • inexistência de contato físico;
  • não invasividade;
  • não-intrusividade;
  • capacidade de disponibilizar as temperaturas de uma superfície em imagens de tempo real;
  • possibilidade de localizar a lesão;
  • é capaz de demonstrar mudanças metabólicas e fisiológicas em um exame funcional.

Termografia e treinamento

A ferramenta possibilita a mensuração metabólica e de composição corporal, assim como pode auxiliar no acompanhamento de lesões musculares e pontos em que é necessária a liberação miofascial.

Dessa forma, pode evitar o acometimento de lesões, com base em um acompanhamento mais estreito e supervisionado de atletas profissionais, amadores e praticantes de exercícios físicos.

Podem ser identificadas alterações neurológicas, músculoesqueléticas, metabólicas, vasculares, reumatológicas, tendo uma grande sensibilidade no exame de mamas em mulheres jovens.

O exame é utilizado para finalidade médica e acompanhamento multi e interdisciplinar.

Discussão da minha termografia

Eu passei por essa experiência incrível do exame de termografia. De biquíni, fiquei em uma sala para estabilização térmica por 15 minutos, em ambiente termicamente controlado (23ºC), com convecção mínima de ar (0,2 m/s) e umidade relativa do ar abaixo de 60%.

Foram diversos achados na minha análise como descritos nas imagens sequentes.

  • Alterações neurológicas. Presença de lesão neuropática em tornozelo esquerdo.

Arquivo Pessoal.

  • Alterações musculoesqueléticas. Disfunção miofascial leve em ombro direito.

Arquivo Pessoal.

  • Alterações musculoesqueléticas. Lesão incipiente em tendão de Aquiles a esquerda e presença de sinais inflamatórios leves no músculo tibial anterior a direita.

Arquivo Pessoal.

  • Alterações musculoesqueléticas. Presença de sinais inflamatórios em arcos costais.

Arquivo Pessoal.

  • Alterações metabólicas. Presença de gordura marrom.

Arquivo Pessoal.

  • Temperatura central adequada.

Arquivo Pessoal.

  •  Baixo metabolismo basal: 1188 kcal/dia/repouso.

O que achei mais interessante de todo exame foi descobrir os pontos de liberação miofascial e detectar alguns problemas que hoje não me geram desconfortos, porém podem causar problemas futuras.

Por esse motivo o exame é uma estratégia de tratamento e também preventivo.

Além do mais, como já relatei aqui em textos anteriores, tenho um problema inflamatório nos meus arcos costais, o que foi evidenciado nesse exame.

Foi detectado também a presença de gordura marrom (boa), que auxilia ainda mais no processo de termogênese. Porém, meu metabolismo é baixo e, por esse motivo, preciso focar ainda mais no aumento da minha massa magra.

Em poucos minutos de exame, consegui prestar atenção em diversos sinais que estão surgindo no meu corpo, seja por estresse ou treinamento excessivo ou mesmo por fatores herdados geneticamente. É uma intervenção rápida, sem nenhum tipo de desconforto e eficaz.

Lembrando que é um exame com finalidade médica. Profissionais que tenham a certificação podem realizar o exame, porém somente o médico pode dar o diagnóstico. Assim que o diagnóstico é comprovado, é necessário intervenção clínica medicamentosa ou terapêutica.

*Colaboração do Neurocirurgião Dr. Leonardo Lo Duca

REFERÊNCIAS:
– Berz, R., & Sauer, H. (2007). The Medical Use of Infrared-Thermography History and Recent Applications. Thermografie Kolloquium, 1–12.
– Brioschi, M. L., & Colman, D. (2005). Estudo da Dor por Imagem Infravermelha. Revista Dor, 6(3), 589–599.
– Brioschi, M. L., Yeng, L. T., & Teixeira, M. J. (2009a). Indicações da termografia infravermelha no estudo da dor. DOR é Coisa Séria, 5(janeiro), 8–14.
– Brioschi, M. L., Yeng, L. T., & Teixeira, M. J. (2009b). Infravermelha No Estudo Da Dor, 5, 8–14.
– Carvalho, A. R. De, Medeiros, D. L. De, Souza, F. T. De, Paula, G. F. De, Barbosa, P. M., Vasconcellos, P. R. O., … Bertolini, G. R. F. (2012). Variação de temperatura do músculo quadríceps femoral exposto a duas modalidades de crioterapia por meio de termografia. Revista Brasileira de Medicina Do Esporte, 18(2), 109–111. https://doi.org/10.1590/S1517-86922012000200009
– Jones, B. F., & Plassmann, P. (2002). Digital Infrared Thermal Imaging of Human Skin The Control of Body Temperature. IEEE Engineering in Medicine, 21(6), 41–48. https://doi.org/10.1109/MEMB.2002.1175137
– Lahiri, B. B., Bagavathiappan, S., Jayakumar, T., & Philip, J. (2012). Medical applications of infrared thermography: A review. Infrared Physics and Technology. https://doi.org/10.1016/j.infrared.2012.03.007
– Marcos, P., Brioschi, L., Dra, P., & Tchia, L. (2007). Diagnóstico Avançado em Dor por Imagem Infravermelha e Outras Aplicações. Medicine, (April 2016), 93–98.
– Tan, J.-H., Ng, E. Y. K., Rajendra Acharya, U., & Chee, C. (2009). Infrared thermography on ocular surface temperature: A review. Infrared Physics & Technology,52(4), 97–108. https://doi.org/10.1016/j.infrared.2009.05.002
– Webb, S., & Flower, M. (2012). Webb's physics of medical imaging. Physics Today.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.