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Pais fumantes, filhos viciados também? Especialistas dizem que sim

Miley e a mãe Thrish; cantora disse ao "The Sun" que voltou a fumar maconha devido ao vício de fumar da mãe - Reprodução
Miley e a mãe Thrish; cantora disse ao "The Sun" que voltou a fumar maconha devido ao vício de fumar da mãe Imagem: Reprodução

Marcos Candido

Da Universa

02/02/2019 04h00

Você cresceu e ele estava lá, entre os dedos da mãe, do pai, da tia, do tio, da prima. A fumaça sobrevoava os cômodos e o cheiro impregnava camisetas, cortinas e sofá. Quando percebeu, já estava fumando. Reconheceu a história? É assim que acontece com quem começar fumar por influência direta ou indireta da família.

Um caso famoso é o de Miley Cyrus, que admitiu que começou a fumar cigarro, e inclusive voltou a fumar maconha, por causa da mãe, Trish Cyrus. A influência não é tão estranha para quem já passou pelo mesmo roteiro.

"Quis fumar para ser igual meu avô"

A jornalista Siouxsie Rigueiras, 26, começou assim. "Meu avô fumava muito quando eu era criança, ao ponto dele ter cinzeiros em quase todos ambientes da casa e ir acendendo um cigarro em cada lugar que ia", relembra.

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"Em um aniversário de uma amiga bem próxima -- em que minha mãe estava --, resolvi fumar meu primeiro cigarro do lado da minha mãe para 'saber como era'. Acredito que na época, eu pensava que se fumasse me tornaria algo parecido ao meu avô. Eu fumei, minha mãe não brigou comigo e eu simplesmente continuei", explica. Ela até que tentou parar com os dois maços ao dia que fumava na adolescência, mas quando entrou na faculdade retomou o vício

O mesmo aconteceu com Mariana Rodrigues, hoje com 30 anos. "Lembro que quando eu era criança meu pai fumava. Eu enchia o saco dele, e até jogava o maço dele fora. Na adolescência, comecei a fumar entre as amigas, e começamos a comprar e fumar escondido", diz. A fluminense ainda fuma, mas diz que vai largar o vício se um dia se tornar mãe.

"Não quero que a cultura do cigarro perpetue como uma atividade prazerosa porque não é. Traz um tremendo estrago para o corpo".

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a tendência é que 5,5% das mulheres brasileiras com 15 a 24 anos serão fumantes em 2025. Em 2010, cerca de 12% das mulheres brasileiras da mesma faixa etária já eram fumantes.

A instituição associa essa redução no futuro às políticas antitabaco, como cigarros cada vez mais caros e fechamento dos chamados "fumódromos" em lugares como empresas e bares. Não à toa, o cigarro é uma droga social e costuma começar na própria família.

Fumar = socializar = adoecer

"A adolescência é um período de experimentação e muitos jovens não conseguem avaliar as consequências negativas do cigarro a longo prazo. Isso porquê existe o prazer imediato proporcionado pela nicotina e, principalmente, o sentimento de pertencer ao grupo de iguais (colegas que fumam)", explica Sonia Martins, coordenadora do Grupo do Trabalho de Problemas Respiratórios da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.

Os problemas de fumar estamos cansados de saber: redução na taxa de crescimento do pulmão, risco aumentado de doenças cardiovasculares e derrame cerebral. O uso do cigarro podem prejudicar a atividade física, em termos de resistência e desempenho, causar taquicardia, aumentar o risco de câncer de pulmão...

Mas o futuro terá cada vez menos fumantes. A OMS afirma que até 2025 o Brasil passará de 18% para 12% de fumantes em toda a população, se as políticas antitabaco continuarem assim.