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Assédio a fãs de atriz mirim alerta pais; saiba proteger crianças nas redes

Prints mostram conversa de falso fã-clube de Larissa Manoela pedindo fotos a crianças - Reprodução/Facebook
Prints mostram conversa de falso fã-clube de Larissa Manoela pedindo fotos a crianças Imagem: Reprodução/Facebook

Denise de Almeida

Do UOL

20/01/2017 04h01

Você sabe o que seu filho conversa nas redes sociais? Vários pais se assustaram após um falso fã clube no Facebook pedir fotos de crianças com roupas curtas, prometendo, em troca, a chance de conhecer a atriz Larissa Manoela. A postagem que denunciou a conversa e expôs os prints tem, até agora, mais de 45 mil compartilhamentos e mais de 17 mil comentários.

Apesar de parecer óbvio que os pais tenham cuidado com que as crianças olham na internet, um em cada três filhos muda seu comportamento quando sabem que estão sendo vigiados (33%) e cerca de metade das crianças e adolescentes brasileiros (48%) esconde algumas de suas atividades dos pais, segundo apontou a pesquisa "Realidade cibernética: O que os pré-adolescentes e adolescentes estão fazendo online", feita pela Intel Security, em 2015.

O estudo global, que ouviu 507 jovens brasileiros entre 8 e 16 anos e seus pais, ainda mostrou que 23% dos filhos apagam o histórico do navegador e 20% apagam mensagens. Qual seria, então, a melhor forma de proteger o que as crianças acessam?

Qual é a magia das redes sociais? 

Para a psicóloga Fernanda Grimberg, é preciso deixar muito claro para a criança que não existe magia nas redes sociais. "Ninguém vai dar um milhão de dólares, ninguém vai trazer seu ídolo para você. Não existe uma proposta mágica que seja verdade ali".

“Crianças pequenas não deveriam estar acessando a internet sozinhas”, acredita José Matias Neto, diretor de suporte técnico da Intel Security. "Infelizmente o que a gente vê com muita frequência é gente que usa o celular e o tablet como uma babá". Ele recomenda que os pais tenham alguma ferramenta no equipamento que controle o acesso à internet ou que bloqueie o acesso a outras aplicações. “Existem várias ferramentas hoje em que você consegue criar dois perfis e um deles você configura para criança e também bloqueia a navegação”, explica.

A pesquisa Tic Kids Online, que entrevistou cerca de três mil crianças e seus responsáveis, aponta que os pais brasileiros não têm tanto a cultura do monitoramento, ao contrário de outros países da Europa. Mais de 70% dos pais dizem conversar com os filhos sobre o acesso e 46% efetivamente senta com a criança enquanto ele usa a internet.

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Imagem: Getty Images

A pesquisa ainda mostrou que 40% dos filhos tiveram contato na internet com alguém que não conheciam. Para Fábio Senne, coordenador de projetos e pesquisas do Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), órgão responsável pela pesquisa Tic Kids Online, o dado precisa ser visto com cautela. “Isso pode envolver casos problemáticos, como esse do falso fã-clube, mas pode ser também casos de grupos de estudos no Facebook, por exemplo. Não necessariamente o contato com alguém que você não conhece é negativo”, ressalta.

Matias Neto explica que não basta ter filtros nos equipamentos, o diálogo entre pais e filhos é fundamental. “Existem várias ferramentas de controle parental, algumas gratuitas, para que você possa ter um pouco de subsídio para seguir o que seu filho está fazendo na internet. Mas é importante que o adolescente entenda que você está fazendo isso para ajudá-lo. Tem que ser uma conversa tranquila, falar ‘existem esses riscos e eu vou te ajudar com isso’. E não um ‘não pode porque não quero’, isso não funciona”.

"Os pais não fazem isso nem na vida offline, muito menos na vida online"

Embora o Facebook estabeleça 13 anos como idade mínima para uso, muitas crianças têm perfis na rede, às vezes criado pelos próprios pais. A atitude é criticada pela psicóloga Fernanda. “Os pais mostram que pode burlar regras, o que é ruim. Acaba apoiando uma situação onde a criança mente e isso abre precedentes para outras coisas. Lá na frente, quando você falar que ela mentiu, ela vai mostrar que foi você que ensinou. Tem que mostrar que regras são regras e você tem que seguir”.

Matias Neto alerta que, algumas vezes, perfis são criados pelas crianças sem autorização dos responsáveis. “A criança criou aquilo num momento em que os pais não viram ou não conversou com os pais antes. Ou fez porque o amigo tem, porque o primo mais velho tem. Eles querem fazer parte de algo, pertencer a um grupo e acabam entrando nesses tipos de problema”.

Se o filho já está na rede, a melhor alternativa é o diálogo aberto com eles. “Precisa entrar, supervisionar, conversar muito sobre isso. E contar os casos negativos sempre que aparecerem na mídia, não tem que omitir isso das crianças. E sempre que achar uma coisa estranha, ao monitorar, deve sentar e conversar. 'Olha, estou achando esquisito isso aqui. Quem é essa pessoa, você conhece? Pediu pra você fazer alguma coisa? Pediu pra você ficar em frente da câmera?'. Tem que perguntar objetivamente para as crianças”, explica Fernanda.

“A gente tem que participar da vida dos nossos filhos. Os pais não fazem isso nem na vida offline, muito menos na vida online. E as justificativas geralmente são ‘ah, não tenho tempo’, ‘isso eu deleguei para a escola’, coisas desse tipo. A gente tem que achar esse tempo”, reitera Matias Neto.

Para monitorar o filho vale ter senha?

O compartilhamento da senha do filho é um tema polêmico. “Existem várias discussões sobre isso, não só aqui no Brasil, mas também nos EUA e na Europa, principalmente. Senha é um negócio pessoal, então se estou compartilhando com alguém, não importa se é com meu pai, eu estou permitindo a invasão da minha privacidade. A fronteira dessa discussão é até onde isso é uma invasão de privacidade e até onde isso é legal”, explica Matias Neto.

Já a psicóloga Fernanda é a favor de que os pais tenham a senha. "Acho que até uma certa idade a criança tem que ser muito monitorada, de verdade. Os pais têm que ter acesso a senhas, a conversas. Existe uma idade onde o critério do certo e errado ainda é difícil para a criança. Não significa invadir. É checar que páginas ela está vendo, que páginas ela foi ontem, se ela está falando com as amigas. Acho que é uma questão de segurança".