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Retrofit: técnica deixa casa com cara nova sem tirar charme original

Rafael Renzo/ Divulgação
Imagem: Rafael Renzo/ Divulgação

Léo Marques

Colaboração para Universa

29/11/2018 04h00

O termo retrofit surgiu na Europa diante de um problema comum no velho continente: revitalizar e modernizar antigos e históricos edifícios e outras construções inutilizadas sem descaracterizá-las. De lá, o principio ganhou os Estados Unidos e, mais tarde, o resto do mundo.

O conceito nada mais é do que colocar o antigo em forma, reaproveitando materiais e estruturas ao se reformar um imóvel. É uma ótima opção para aqueles que valorizam e enxergam beleza no passado. “A grande vantagem de um bom retrofit é que ele agrega valor à edificação por se destacar dos demais projetos convencionais e por preservar a história”, acredita o arquiteto Fabio Marins.

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Confira cinco aspectos fundamentais dessa técnica:

1 - Diferença entre reforma comum e retrofit

Uma reforma comum, normalmente, busca uma simples atualização estética ou adequações às novas necessidades da família. Por exemplo, o nascimento de um bebê ou a troca de revestimentos pelo desgaste dos materiais. Já o retrofit irá atualizar, reformar e renovar o ambiente respeitando a história da construção. “Esse tipo de reforma aproveita os elementos arquitetônicos da edificação original, que lhe conferem personalidade e identidade. Na reforma comum, não existe tanto essa preocupação”, diz Marins.

2 - A morada atual pede novos equipamentos

Já não moramos como antes. Novos costumes e a tecnologia mudaram completamente nossas necessidades. Se a ideia é preservar a identidade de um imóvel antigo sem abrir mão do conforto da modernidade, o retrofit fará essas adequações tendo em vista novas soluções para fachadas, instalações hidráulicas, circulação e proteção contra incêndio, por exemplo.

“A parte elétrica é um dos itens que precisam ser adequados. O quadro de luz possui, atualmente, dispositivos de segurança que devem ser atendidos. Mas não só isso. A própria demanda, devido aos equipamentos elétricos e eletrônicos, mudou. Há 30 anos, por exemplo, poucas casas tinham micro-ondas, e as tomadas, fiação e disjuntores não estavam adequados”, diz a arquiteta Cristiane Schiavoni.

3 - Os cuidados numa reforma tipo retrofit

Se o retrofit for feito em residências muito antigas ou as mudanças nos ambientes forem muito grandes, é importante avaliar a questão estrutural com cuidado, respeitando vigas e pilares de sustentação para evitar tragédias.

Nestes casos, um acompanhamento profissional é ainda mais importante. “A construtora/engenheiro e o arquiteto devem trabalhar juntos para garantir que tanto a parte criativa, estética e histórica como funcional fiquem em harmonia. O arquiteto deve selecionar a construtora com base nas especialidades em reformas e especificar quais aspectos da construção têm maior peso na manutenção do estilo da época”, ressalta Lais Delbianco, diretora de desenvolvimento de projetos da Todos Arquitetura.

A arquiteta Livia Cavalca chama atenção também para a forma como os elementos antigos são preservados. “Muitos deles são frágeis e podem ser danificados no processo de reforma, por isso, é importante protegê-los”, observa. Os cuidados passam pelo desmonte de alguns elementos que devem ser feitos de forma a não danificar as peças e também uma boa triagem do que irá se aproveitar.

4 - O conceito passa pela sustentabilidade

O retrofit é um tipo de reforma que traz consigo muitos aspectos sustentáveis. A começar pela preservação de materiais originais em boa conservação ou que podem passar por uma restauração e ficarem como novos. Isso diminui a quantidade de descarte de entulho e resíduos, além de retirar menos recursos da natureza. 

“Se há um piso de madeira original num apartamento, não faz sentido retirar, e, sim, trabalhar em conjunto com ele para manter um pouco da memoria do local, evitando desperdícios e a necessidade de comprar mais material”, aponta Lais Delbianco.

Quando o elemento não tem mais serventia para sua função original, é possível ainda aproveitá-lo de uma maneira criativa para a manutenção da identidade do projeto, como, por exemplo, usar uma janela de madeira como moldura de quadro ou TV.

Por outro lado, a modernização da construção cria uma enorme chance para que ela ganhe sistemas inteligentes de infraestrutura elétrica, hidráulica e de ar-condicionado, por exemplo, visando baixar o consumo. A iluminação também entra nesse mérito, com muitas opções em LED, sensores de presença e automação. Há ainda redutores de pressão de vazão da água, arejadores de torneira, entre outros recursos.

5 - Quando não vale a pena optar pelo retrofit

Se o imóvel estiver numa situação de deterioração muito grande, a ponto de não ser possível sua conservação, restauro ou manutenção, o jeito é partir para uma reforma comum. O mesmo vale para a necessidade de muitas alterações estruturais ou quando o processo de recuperação das peças e elementos construtivos exigir grandes intervenções de profissionais terceirizados, tornando a obra muito cara.

É preciso avaliar também se a construção original apresenta um valor histórico relevante que justifique o custo do reaproveitamento. “Construir do zero muitas vezes sai mais barato, mas o valor do retrofit não se mede apenas no preço”, ressalta Livia Cavalca.