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União entre LGBTs divide Taiwan, primeiro país da Ásia a reconhecê-la

Marcello Camargo/Arquivo/Agência Brasil/Agência Brasil
Imagem: Marcello Camargo/Arquivo/Agência Brasil/Agência Brasil

Francisco Luis Pérez

da EFE, em Taipé

24/11/2018 08h47

A senhora Chang mobilizou toda a família para defender o casamento tradicional em relação aos cinco referendos sobre o chamado "casamento igualitário" e a educação obrigatória sobre a homossexualidade nas escolas, convocados junto com a votação local deste sábado em Taiwan.

"Minha mãe nos pediu apoio à convocação de um referendo para que não se chamasse 'casamento' as uniões entre pessoas do mesmo sexo e espera nosso voto neste sentido, sem saber que eu seria uma das afetadas", disse Annie Yang, uma jovem profissional que mantém uma relação amorosa com outra mulher.

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Outros como Leslie Hsu e Victor Chen estão fazendo campanha para que não sejam somente aprovadas as uniões entre pessoas do mesmo sexo, mas também que elas sejam chamadas legalmente de "casamento" e possibilitem os mesmos direitos.

"Há mais de dez anos que vivo com meu companheiro e esperamos o minuto em que seja aprovado o casamento igualitário para nos casar imediatamente", disse à Agência Efe, Chen, de cerca de 40 anos e que trabalha em uma agência de viagens em Taipé.

O casamento igualitário se tornou em Taiwan um tema complicado e em uma "batata quente" para os políticos, visto que as pesquisas mostram que há um apoio muito equilibrado às duas opções, e os políticos não querem perder votos.

"É frustrante que, após a sentença do Tribunal Constitucional em maio de 2017 a favor da aprovação das uniões de pessoas do mesmo sexo, pioneira na Ásia, e de seu envio ao Parlamento para que as aprove no prazo de dois anos, os legisladores não tenham feito nada", comentou Kelly Wang, uma empresária.

Embora exista uma leve maioria a favor da legalização das uniões entre homossexuais, em uma recente pesquisa da Fundação Opinião Pública de Taiwan, 77% dos entrevistados se mostraram favoráveis a que o Código Civil mantivesse a palavra "casamento" só para as uniões permanentes entre um homem e uma mulher.

Taiwan está dividida em relação ao tema do casamento totalmente igualitário e a divisão está muito ligada à idade, ao credo religioso e inclusive às profissões.

"A maioria dos opositores ao casamento igualitário são idosos, cristãos e budistas tradicionais", disse Alex Yang, professor universitário de Sociologia em Taipé.

Agora que as uniões entre pessoas do mesmo sexo com direitos similares aos do casamento já está assegurada pela sentença constitucional, o debate se centra no modo de sua aprovação e em manter o recém-aprovado ensino da homossexualidade a todos os níveis educacionais.

Grupos tradicionalistas e religiosos se opõem ao casamento igualitário, por medo de que a estabilidade social seja afetada, degrade o casamento tradicional e faça o pouco número de nascimentos cair ainda mais.

Além disso, estes grupos se opõem também ao ensino da homossexualidade nas escolas.

"Muitos mudam a orientação sexual. Na puberdade, com a grande instabilidade emotiva, não se deveria ensinar homossexualidade, porque influencia e pode transformar as crianças em homossexuais", disse o diretor-executivo da Aliança Nacional de Presidentes de Associações de Pais (NAPPA), Yang Chun-tzu, proponente de um dos referendos.

No lado oposto, Chen Ming-yen, da Aliança de Taiwan para Fomentar os Direitos de Associação Civil (TAPCPR), afirmou que "a orientação sexual não é uma escolha" e que a educação sobre a homossexualidade "melhora a consciência de igualdade de gênero dos estudantes e os ensina a respeitar as diferentes identidades de gênero".

"O conhecimento das diferenças é a base para o respeito", afirmou Chen.

Ao longo desta semana, 30 empresas nacionais e internacionais, associações de jornalistas e a favor dos direitos humanos, e cantores como Amber An, Tai Ay-ling, Lotus Wang e o grupo Chthonic e o de Hong Kong Takki Wong (Wang Ruoqi) apoiaram a opção igualitária.