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Paola Machado

Bebês de obesas são mais pesados. Veja como ter uma gravidez saudável

Paola Machado

21/04/2018 04h00

gravidez saudável

Crédito: iStock

A obesidade é um doença crônica, de caráter multifatorial e heterogênica, que deve ser controlada durante toda a vida. Não podemos associá-la a um só fator e sim a diversos, como a genética, fatores ambientais, estilo de vida, sendo que esse diagnóstico precisa ser elaborado individualmente.

Já é comprovado que a obesidade reduz a expectativa de vida em 10 anos e está associada a diversas patologias as quais chamamos de síndrome metabólica.

O que é novidade, é que, de acordo com o estudo longitudinal "Association of maternal obesity with longitudinal ultrasonografic measures of fetal growth: finding from the NICHD fetal growth studies-singletons", publicado pela revista Jama Pediatrics, os fetos de mulheres obesas seriam maiores e mais pesados a partir do meio da gravidez, quando comparados a mulheres não obesas, podendo nascer com uma diferença média de 100 gramas.

Foram comparadas 468 mulheres obesas grávidas (IMC pré-gestacional > 30) com 2334 mulheres não obesas (IMC pré-gestacional de 19 a 29,9) sem doenças crônicas importantes.

Todas as medidas fetais foram realizadas nos exames, incluindo comprimento úmero fetal, comprimento do fêmur, diâmetro biparietal, circunferência de cabeça e abdominal.

A partir da vigésima primeira semana de gestação, foi possível notar que os fetos de mulheres obesas cresceram significativamente quando comparados aos fetos de mulheres não-obesas, sendo que as diferenças persistiram até a trigésima oitava semana de gestação.

Além disso, a partir da trigésima semana, os fetos de mulheres obesas eram 20 gramas mais pesados quando comparados a mulheres não obesas e essa diferença aumentou com a idade gestacional, chegando a 100 gramas de diferença ao nascer.

As consequências desses achados em longo prazo não foram esclarecidas.

A gestação na obesidade requer grandes cuidados, pois pode levar a severas complicações durante a gravidez e no momento do parto, tanto para a mãe quanto para o bebê. Por esse motivo,  é importante buscar por um atendimento multidisciplinar para que consiga controlar o quadro do excesso de peso ou até obter o peso adequado na gestação.

Além disso, são necessários alguns cuidados alimentares durante a gravidez para que o peso não aumente substancialmente em uma momento crucial para a saúde da mãe e do bebê, como mostro a seguir:

1- GORDURA SATURADA: a ingestão excessiva durante a gestação pode favorecer uma desregulação no desenvolvimento cerebral de controle do apetite do bebê, favorecendo um consumo alimentar calórico excessivo na infância e ao longo da vida, e consequentemente, o desenvolvimento de sobrepeso e obesidade na infância. Por outro lado, na gestante o excesso de ingestão de gordura saturada pode favorecer o desenvolvimento de resistência insulínica, o que é considerado um estado pré-diabetes. São alimentos com elevada quantidade de gordura saturada: linguiça, salsicha, mortadela, fiambres, presunto, gordura aparente da carne, creme de leite, leite integral, banha de porco, manteiga, gordura da carne, queijo processado, nata, hambúrguer industrializado, lanches de fast foods, óleo de coco e óleo de palma.

2- BEBIDAS ALCOÓLICAS: as bebidas alcoólicas devem ser evitadas pelas gestantes. O álcool tem a capacidade de atravessar a placenta e afetar o bebê. O consumo excessivo de álcool pode promover a síndrome alcoólica fetal. Neste caso, as crianças podem sofrer alterações físicas e mentais, levando ao comprometimento do crescimento, comportamento e má-formações.

3- CAFEÍNA: evitar o consumo de alimentos e bebidas fontes de cafeína: café, chá preto, chá verde e chás no geral, bebidas de cola, suplementos alimentares e chocolates. Esse cuidado deve ser tomado porque a cafeína pode atravessar a placenta e causar alterações na frequência cardíaca, na respiração fetal e no comportamento neurológico do bebe.

4- LEGUMES E VERDURAS: as verduras e legumes devem ser consumidos diariamente. Quanto mais colorido o prato, maior a variedade de vitaminas e minerais. Entretanto, evite o consumo de salada crua fora de casa, nesta ocasião opte sempre por verduras e legumes cozidos. Quando for consumir salada crua, tenha garantia de que as verduras cruas foram bem higienizadas.

5- HIDRATAÇÃO: a hidratação materna precisa ser adequada. Bena cerca de 2 a 3 litros de água por dia. Líquidos como água de coco e sucos naturais podem e devem ser consumidos, aos poucos, durante o dia. É importante que se evite a ingestão de líquidos durante as refeições e na primeira hora após seu término, para não  prejudicar o processo de digestão e absorção de nutrientes.

6- PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS: evite o consumo diário e frequente de produtos industrializados, como pratos congelados, temperos prontos, molhos artificiais, embutidos (linguiça, salsicha, peito de peru, mortadela, salame, carnes processadas em geral), gelatina colorida, bolachas recheadas, salgadinhos de pacote, balas, bolos industrializados, margarinas e todo o produto que você tenha duvida sobre sua composição. Em geral, estes produtos possuem poucos nutrientes, são refinados, possuem altas quantidades de sódio, gordura trans, açúcares e aditivos químicos.

7- REFRIGERANTES: evitar refrigerantes, inclusive na versão diet, light e zero, mesmo que possuam a inclusão de vitaminas e minerais em sua composição. O consumo regular de refrigerantes e sucos artificiais é nocivo à saúde. Essas bebidas não possuem nenhum valor nutricional e ainda podem conter substâncias que inibem a absorção de nutrientes que nutrem o feto.

8- CHÁS E PLANTAS MEDICINAIS: apesar de naturais, alguns chás e plantas medicinais podem ser prejudiciais durante a gestação por conterem cafeína e/ou por estimularem a contração uterina. Evitar o consumo de chás neste período é o mais recomendado! Entre os chás e plantas que possuem esta capacidade estão: chá verde, chá branco, chá vermelho, chá amarelo, chá mate, chá preto, chá de alecrim, chá de canela, chá de cravo da índia, erva doce, efedra, cavalinha, hibisco, camomila, espinheira santa, hortelã, guaco, arnica, carqueja, boldo, capim santo, quebra-pedra, jaborandi, tanchagem, cascara sagrada, ruibarbo, alecrim, arruda e sálvia.

9. DIETAS: neste período da vida as gestantes NÃO DEVEM fazer dietas restritivas em nutrientes ou dietas da moda. A gestante deve manter uma alimentação saudável, de forma a suprir as necessidades nutricionais dela e do bebê. Realizar dietas restritivas para perder peso ou para não engordar pode comprometer o desenvolvimento do bebê. Mantenha hábitos alimentares saudáveis, privilegiando alimentos naturais e evitando produtos industrializados e acrescidos de aditivos químicos.

10. ADOÇANTE: os estudos sobre os efeitos dos adoçantes na gestação ainda são recentes e inconclusivos. Por isso, o uso de adoçantes durante a gestação deve ser reservado para pacientes que precisam controlar o seu ganho de peso e para portadores de diabetes. Sacarina e ciclamato de sódio devem ser evitados na gestação. Se for necessário o uso de adoçantes, priorize o aspartame, a sucralose, o acessulfame e a estévia. Entretanto, a melhor opção seria evitar.

Pesquisas recentes demonstram que a alimentação materna durante a gestação pode favorecer ou reduzir os riscos de desenvolvimento de doenças no bebê ao longo da infância e inclusive na vida adulta. Por este motivo, nesta fase da vida, a alimentação precisa atender as recomendações de nutrientes para garantir a saúde da mãe e o desenvolvimento saudável do bebe.

O acompanhamento obstétrico e nutricional são essenciais para se acompanhar o desenvolvimento da gestante e o estado nutricional neste período. Os cuidados com a alimentação são importantes para evitar as complicações associadas ao excesso de peso (ou baixo peso materno), ou ainda provenientes de desequilíbrios nutricionais ocasionados por uma alimentação deficiente ou excessiva em determinado nutriente.

REFERÊNCIAS:
– Ministério da Saúde. Manual Técnico Pré-Natal e Puerpério. Atenção qualificada humanizada. Brasília-DF. 2006.
– Carreiro DM, Correa MM. Mães Saudáveis têm Filhos Saudáveis. 2011.
– Torloni MR et al. O uso de adoçantes na gravidez: uma análise dos produtos disponíveis no Brasil. 8 Rev Bras Ginecol Obstet. 2007; 29(5):267-75.
– Vítolo MR. Nutrição – Da Gestação ao Envelhecimento. 2008.
– The Global BMI Mortality Collaboration. Body-mass index and all-cause mortality: individual-participant-data meta analysis of 239 prospective studies in four continents. The Lancet. Vol 388, no. 10046, p776-786, 2016.
– Zhang, C.; et al. Association of Maternal Obesity With Longitudinal Ultrasonographic Measures of Fetal Growth: Findings From the NICHD Fetal Growth Studies-Singletons. Jama Pediatrics. 172 (1); Página: 24 – 31; 2018.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.