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Luciana Bugni

Beijar alguém à força nunca vai ser só uma brincadeira

Luciana Bugni

15/03/2018 12h50

Sério que a gente tem que lidar com esse tipo de brincadeira? (Foto: Reprodução)

 

Eu não sei direito como explicar isso aos homens: não é legal ser beijada à força. Já ouvi vários argumentos de amigos que, em festas, micaretas e carnavais, foram surpreendidos com beijos roubados na multidão e gostaram disso. Eu não sei se é porque é menos frequente com eles, afinal, desde os 13 anos, quando os peitos começam a surgir, a gente vive esse tipo de assédio forçado e está cansada disso. Ou será que é porque é inesperado esse tipo de atitude vir de mulheres — eu mesma nunca cheguei beijando um desconhecido na vida, ainda mais na marra (até porque sou mais fraca que a maioria dos homens que conheço).

Enfim, não sei porque os homens gostam dessa situação e chego a duvidar que, se acontecesse todo dia na balada, eles iam gostar de fato. No BBB, a própria Patricia deu uma forçada de barra para ficar com Kaysar, todo mundo caiu matando, ela deu barraco de ciúme e ainda saiu com uma rejeição monstra (a segunda maior em 18 anos de programa). Pois bem: todo mundo defende os caras, mas quando é um homem o assediado a galera acha que está errado. E está mesmo.

Não tem coisa mais chata que estar trabalhando, com a cabeça em mil coisas, como prazos e resultados, e estar sujeita às cantadas, digamos, mais invasivas. As garçonetes sabem o que estou falando: trabalhar onde os caras se divertem é uma bucha daquelas. Já tive que lutar fisicamente com um cara que insistiu em me agarrar quando eu estava cobrindo shows sertanejos em um rodeio. No fim, ele jogou cerveja em mim e molhou o bloco onde eu anotava as entrevistas. Já tive que correr o corredor de um navio, quando cobria o cruzeiro da Claudia Leitte, porque um homem insistiu que ia entrar na minha cabine — tive que mentir pra ele que meu namorado estava lá dentro e consegui entrar tremendo e chorando de medo. Nas minhas experiências como repórter esportiva, então… Já cobri jogo de 3ª divisão com parte da torcida gritando para colocar a repórter no campo e outros impropérios. Minha amiga Analy Cristofani, repórter esportiva das boas, contou outro dia os vários assédios diferentes que já viveu — e isso incluía jogador deixar a toalha cair e ficar nu em vestiário durante a entrevista, na época em que não existia sala de imprensa. A lista é grande. Olha, não é legal. Haja paciência.

Então, antes de dizer que foi uma brincadeira com a repórter Bruna Dealtry, do Esporte Interativo, que tomou um beijo do torcedor ao vivo enquanto cobria a festa do Vasco, pensa bem: imagina se fosse alguma mulher de quem você gosta muito. Ou imagina que fosse com você mesmo. Em público, no meio do seu trabalho. Ou nem trabalhando, mesmo que ela estivesse parada na boate sem fazer nada. Não dá para passar um pano e dizer que foi brincadeira. Para dizer o mínimo, é chato demais.

Sobre a autora

Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni

Sobre o Blog

Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.