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Socorro, meu bebê não dorme (contém dicas!)

Maria Flor Calil

04/12/2017 08h00

Entrando no terceiro trimestre da gravidez, meu sono já não está dos melhores: acordo um monte de vezes para fazer xixi, não acho posição confortável para dormir, enfim, são milhares de interrupções todas as noites.

No café da manhã, meu marido pergunta: "E aí, dormiu bem?" Fui obrigada a responder a verdade, né? E ele então disse que isso era a natureza já me preparando para as noites vindouras, depois da chegada do nosso bebê.

Taí uma das (muitas) coisas que esquecemos da maternidade: a privação de sono. Deve ser uma estratégia para a perpetuação da espécie, afinal, não dormir é um tipo de tortura e tem reflexos tão nefastos na vida que poderíamos ficar no filho único.

Sobrevivente

Puxando aqui pela memória, afirmo que Teresa foi um bebê que dormiu relativamente bem. Acordava para mamar, de três em três horas, mas tudo normal. Já a Julieta, tadinha, nasceu com um troço chamado "rinite do lactante" e até os três meses trocava o dia pela noite. É que, quando deitada, seu narizinho entupia e ela passava a respirar pela boca e até roncava! Perdi a conta de quantas noites dormi sentada, com ela no colo. E, no dia seguinte, nada de cochilar, afinal, já tinha a outra filha pra cuidar e uma loja pra tocar. Sobrevivi.

Se já está ruim agora, imagina quando o bebê chegar???

Outro dia, em um evento de lançamento de produtos para bebês, tive a oportunidade de ouvir especialistas falando sobre o sono dos pequenos. Parece que a reclamação mais constante nos consultórios é "Socorro, meu filho não dorme!". Gostei tanto das informações disponibilizadas por uma das palestrantes, a pediatra Larissa Mauro, que compartilho aqui com vocês, como serviço de utilidade pública (e pelo bem da nossa sanidade), a entrevista que ela me deu:

No consultório, qual a principal queixa com relação ao sono dos bebês?

As queixas variam conforme a idade do bebê, mas a mais comum é a de que ele não dorme a noite toda. A primeira coisa que temos que fazer é adequar as expectativas, porque a grande maioria dos bebês com desenvolvimento normal não dormirá a noite toda até os 6 meses, e isso pode ocorrer, sem que haja nenhum problema com a criança, até um ano. Além disso, é comum que alterações na rotina ou doenças interfiram no sono desse bebê.

Parece que hoje em dia os bebês têm mais dificuldade para dormir… O ritmo de vida e os hábitos da família influenciam nisso?

Como disse anteriormente, um dos pontos mais importantes é adequar as expectativas. Outra coisa é respeitar uma rotina para esse bebê. Bebês precisam de estabilidade para terem segurança e irem ajustando seu relógio biológico. Além da vida agitada, vemos hoje muitos pais que chegam em casa tarde e esse é o único período de contato com o bebê. Levamos isso em consideração e tentamos fazer ajustes para priorizar também essa convivência, mas sabemos que o mais natural e fisiológico para um bebê seria já estar dormindo até por volta de 20h30. Além disso, já é bastante comprovado que o uso de telas (TV, iPad, celulares) prejudica a qualidade do sono e elas não devem ser utilizadas pelo menos na hora que antecede o momento de dormir.

Qual a diferença entre rotina e treinamento de sono?

Rotina é criarmos um ambiente previsível e preparatório para a hora de dormir. Além de isso acontecer sempre em um horário fixo, deve conter elementos que ajudem o bebê a relaxar. Os passos da rotina devem ser sempre os mesmos, e assim o bebê sabe o que vai acontecer e a hora de adormecer será uma próxima etapa natural dentro dessa sequência. Por exemplo: às 19h o banho, seguido de uma massagem, mama, uma história e escovar os dentes. O próximo passo é dormir!

Treinamento de sono refere-se a métodos para "ensinar" o bebê a dormir. Existem vários deles, como o "Nana Nenê". Geralmente esses métodos envolvem regras para que o bebê se habitue a adormecer sozinho. Por exemplo, os pais o colocam no berço e dizem sempre uma mesma frase de boa noite, a seguir, retiram-se do quarto e se o bebê chamar ou chorar, retornam apenas a intervalos de tempo cada vez maiores.

Cada família tem um ritmo, apenas um filho ou mais, há mães que voltam a trabalhar depois da licença e outras que decidem ficar com o bebê. Levando em conta toda essa diversidade de situações, quais seriam as dicas universais para garantir uma boa noite de sono para toda a família?

Cada família é uma, e cada bebê é único, mesmo dentro de uma mesma família. A construção da rotina, porém, é uma dica universal. Ela deve ser pensada e construída para cada família, mas todas se beneficiarão dela. Reduzir o uso de mídias, principalmente perto da hora de dormir é outra! Ela vale também para os adultos, na verdade. Lembrando que a recomendação é que crianças até dois anos não devem ter contato com mídias, e que depois disso ela deve ser limitada. Sei o quanto isso é difícil, mas pelo menos até um ano de idade esse esforço deve ser grande.

Conhecer cada criança e descobrir o que é melhor para ela é importante também. Por exemplo, sabemos que há benefícios em ter o quarto totalmente escuro durante a noite, mas se a criança se mostrar mais segura e dormir melhor com uma luz noturna fraca, essa é uma opção.
Respeitar as sonecas do dia é outra dica universal. A percepção intuitiva de que se o bebê dormir menos durante o dia, dormirá mais a noite está equivocada. Quanto melhor o sono diurno, melhor o sono noturno.

Sobre a autora

A jornalista Maria Flor Calil, mãe da Teresa e da Julieta, e esperando Francisco, já trabalhou na TV Cultura, na Fundação Roberto Marinho e até foi dona de loja infantil. Depois da maternidade, foi abduzida pelo mundo da maternagem e editou o site da Pais & Filhos, a revista Claudia Filhos e lançou o livro “Quem Manda Aqui Sou Eu – Verdades Inconfessáveis Sobre a Maternidade”. Atualmente, é diretora de conteúdo do Aveq (www.averdadeeque.com.br) e editora de comunicações do Colégio Santa Cruz.

Sobre o blog

Começar de Novo, a música-tema do seriado Malu Mulher (exibido em 1979 e atualíssimo para as questões femininas), é inspiração para a jornalista grávida de um temporão. Um espaço para falar do lado B da maternidade, com uma dose de leveza e outra de profundidade.

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