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Rumo à São Silvestre: autossabotagem e minimetas em busca dos 15 km

Luiza Oliveira, em treinamento para a São Silvestre - Arquivo pessoal
Luiza Oliveira, em treinamento para a São Silvestre Imagem: Arquivo pessoal

Luiza Oliveira

Do UOL, em São Paulo

12/12/2018 04h00

Se você clicou esperando um texto motivacional ou uma história de superação, este não é o lugar. Não que eu pensasse que seria fácil correr a São Silvestre para uma pessoa semisedentária e que não tem a disciplina como, digamos, ponto forte. Mas também não imaginava que seria tão difícil. Para não parecer muito bad vibe, tem sido um grande aprendizado. E isso não tem qualquer pretensão de autoajuda.

A ideia de correr a prova mais famosa do Brasil bem na hora que a galera já está botando o espumante pra gelar e separando flores para Yemanjá veio de supetão. A conclusão nada agradável de que estar de plantão no Ano Novo inviabilizaria qualquer pretensão de réveillon divertido na praia.

Daí meu colega Maionese viajou na brincadeira: "Lu. Quer fugir do plantão de réveillon? Vamos correr a São Silvestre!". Falei: "Para. Sério?". Nem ele sabia se era sério. Mas eu tomei para mim que sim. Aquilo começou a martelar na minha cabeça. Será que dou conta? Será que não? Não pensei muito. Paguei a inscrição e mandei para ele. Estava feito.

E agora? Bom, eu e a corrida nunca fomos melhores amigas, embora tivéssemos alguns flertes. Comecei a correr porque era o único esporte que me animava minimamente desde que parei de jogar tênis uns 15 anos atrás. E, admito, achava meio bonito aquele povo que corre. Me empolguei quando fiz 5 km na rua e tinha chegado ao meu máximo de 7 km.

Às vezes, ia para o parque, botava minha playlist de Axé ou Funk anos 90 e me jogava. Fazia meu marido passar vergonha porque quando ele passava por mim, lá estava eu correndo com os olhos fechados, dançando com as mãos e me imaginando atrás do Chiclete no Carnaval de Salvador. Ele deve ter seus motivos para dizer que sou uma mistura de Phoebe Buffay com Chaves. Mas não me importo. Preciso me conectar emocionalmente com as coisas (culpa do meu ascendente em Peixes). E foi assim que consegui correr.

Mas há algum tempo andava meio ocupada (ou preguiçosa mesmo). Havia ficado três meses sem fazer nada, absolutamente nada, por causa da cobertura da Copa na Rússia. Quando voltei, corria 5km de vez em nunca.

Bom, mas agora o negócio era sério. Eu tinha um compromisso público e três meses para não passar vergonha. Continua sendo meu único objetivo, ok? 

Luiza Oliveira - Rumo à São Silvestre - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Procurei o professor na academia e lá fui eu começar os treinos. No início estava indo tudo bem, mas o treino aumentou num nível que não consegui acompanhar. Tinha que manter 3 minutos a 14 km/h e depois a 16 km/h. Oi? Eu simplesmente ia cair da esteira. Eu não conseguia mais que 3 minutos no nível 12. E ainda assim querendo morrer.

Aí veio o primeiro bloqueio. Um desânimo, um medo da esteira, começava a olhar pra ela e procrastinar. Até sonhei! Algo estava errado. Primeiro aprendizado: não façam algo além da capacidade. E não é pelo corpo, não. Isso ferra a cabeça.

Bom. Mudei o treino, aquele clichê de um passo para trás para dar dois à frente. O negócio começou a evoluir. Meu tempo no 5 km foi caindo, caindo. Passei de 31 minutos para 27 minutos e 30 segundos. Lá estava eu feliz e confiante. Fui para a rua com meu novo pisante e tentei fazer 8 km. Foi difícil, mas rolou. Na semana seguinte, fiz 10 km pela primeira vez no Ibirapuera e fiquei toda pimpona. Fotinho no Instagram. Ainda tinha dois meses para a prova e só faltavam 5 km!! Uau! Posso até tomar uma cerveja para comemorar.

Meus amores, é aí que mora o perigo! Essa coisa maravilhosa chamada autossabotagem que me acompanha desde sempre. Viajei para Belo Horizonte, minha terra natal, para ficar uma semana a trabalho e a lazer. Fiz várias entrevistas, vi amigos, família e o que mais? Bebi todos os dias, comi até morrer e não corri nem um diazinho.

"Preguiça hoje. Amanhã eu vou".

"Hoje, to apertada de trabalho".

"Ah... Quando voltar, volto forte e focada".

"Tudo bem. Uma semaninha treinando e estou nova".

Mas não é assim que a banda toca. Essas desculpas da nossa mente para nos ferrar cobram a conta. Voltei para São Paulo e fui para o GP do Brasil de Fórmula 1, que é uma cobertura bem intensa. No fim das contas, foram 8 dias sem correr e uns 14 sem musculação. Nem parece tanto, mas o estrago estava feito.

Quem disse que conseguia voltar a correr? A 1 mês e meio da prova, 5 km virou um sacrifício. Fui tentar 8 km, parei no 4º. No fim de semana, fui para o parque tentar 10 km ou 12 km, parei no terceiro. Bom, tínhamos um problema. E eu já não sabia se era o corpo ou a cabeça. Tentei de tudo. Treinei 12 dias seguidos, ou aumentei o descanso, segui à risca a dieta da nutricionista. E eu seguia cansada sem conseguir correr.

Nesse dia no parque, quando as coisas estavam difíceis, eu pensei: "estou no terceiro no sacrifício e ainda faltam 8 km? Qual a chance de eu ir até o final?" Parei na hora! E aí vem a frustração e todos os sentimentos de incapacidade que só meu querido narrador interno é capaz de falar. Queria sentar no banco e chorar. Queria desistir da prova. E vi que nem podia pelo compromisso firmado.

E aí numa conversa minha comigo mesma pensei: "Por que diabos você está correndo? Por causa de um tênis? Do seu chefe? Não! Porque era algo que te fazia bem e te fazia cantar Rap do Salgueiro a plenos pulmões. Então, faça-me o favor e reconecte-se com isso". E lá fui eu andando e correndo até fazer 10 km. Foi um tormento, é verdade. Também é verdade que saí frustrada por fazer 10 km em 1h10min. E com a conclusão de que teria que andar para concluir a prova, o que para mim era um atestado de fracasso.

E aí vieram mais dois ensinamentos fundamentais. E se tiver que andar? E se demorar 10 minutos a mais? E se eu demorar mais de 2 horas para completar? Está tudo bem! Você não precisa ser perfeita. Você não é atleta, nunca nem tinha pensado em fazer essa prova. Pare de ser tão algoz de si mesma. (OK, essa é a teoria e ainda estou tentando me acostumar com a ideia).

E a mais importante de todas e que serve para tudo. Crie minimetas!!! Juro, isso muda a vida. Não adianta pensar no fim sem dar um passo de cada vez. Voltei a correr na semana seguinte no Ibirapuera com a meta de fazer 5 km sem parar. Cheguei no quilômetro 5, vamos só até o 6? Até o 8? E assim, enganando a minha mente, cheguei no 12 km. Quase morri no fim, mas quebrei meu recorde pessoal. Me joguei na grama do parque e foi a melhor sensação da vida.

Agora estamos aqui. Subi a temida Brigadeiro Luis Antonio pela primeira vez. Intercalei corrida e caminhada e me perdoei por essa andadinha. Prometi dar um gás na reta final e me privar de todos os excessos do fim de ano. Uma tacinha de vinho por semana. Que difícil! Ainda temos umas 3 semanas até a prova, mas vamos lá. Não sei como vai ser. Mas o que importa é me divertir cantando funk no último dia do ano.

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