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Não somos todos Mick Jagger: veja dois lados do que vem após aposentadoria

13/01/2017 19h22

Na quinta-feira (12), a revista “Exame”, da Editora Abril, divulgou a capa de sua próxima edição, que traz o cantor Mick Jagger como referência de trabalhador com mais de 65 anos. A publicação discute questões relacionadas ao conjunto de novas regras de aposentadoria no Brasil e afirmou que, assim como o líder da banda Rolling Stones, é possível “trabalhar velhice adentro” sem dramas. “A boa notícia: preparando-se para isso, vai ser ótimo”, cravou a revista.

A comparação entre os trabalhadores brasileiros e o rockstar revoltou boa parte da audiência na internet e levantou a discussão de que a vida após a aposentadoria não é igual para todos. O UOL ouviu os relatos de duas pessoas que já se aposentaram, mas tiveram experiências bem diferentes após essa decisão.

João Bosco Santana, 71 anos, aposentado - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

“Terei que procurar emprego. Não tem outra saída”
Não planejei minha aposentadoria. Em 1999, a empresa onde eu estava entrou em uma crise financeira e quase não tinha trabalho para os funcionários. Como eu ficava muito parado lá e já tinha tempo para me aposentar, resolvi sair e pegar a aposentadoria proporcional, de 65%. Três anos depois, comprei uma lavanderia, mas o negócio não andou como eu esperava. Quatro anos após a compra do negócio, tive que vender a lavanderia para pagar as dívidas e quitar os salários dos funcionários. Fiquei sem nada e ainda tive que fazer empréstimo. Diferentemente de quando eu trabalhava como funcionário, neste momento a minha condição financeira era a pior possível.

Voltei para o mercado de trabalho. Fiquei por um ano em uma empresa, em um projeto que tinha data definida para acabar. Depois, mais um ano em outra, da qual fui mandado embora em novembro do ano passado.

Meu último salário era cerca de 40% menor do que o que eu ganhava antes da aposentadoria. Hoje eu só consigo pagar o convênio médico e as contas da casa porque ainda recebo o dinheiro da rescisão, mas, daqui a um tempo, terei que procurar emprego. Não tem outra saída. Se eu pudesse fazer algo diferente, eu teria esperado um pouco mais para conseguir pegar a aposentadoria integral.
João Bosco Santana, 71 anos, aposentado

Ana Gislene Guimarães Amorim Silva, 49 anos, empresária aposentada - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

“Minha renda e meu patrimônio aumentaram”
Trabalhei por 28 anos, sete deles em condição de insalubridade. Então, aos 46, decidi me aposentar. A minha ideia ao sair desse mercado sempre foi abrir uma loja de artesanato e dar o nome da minha mãe, para homenageá-la. Não porque eu precisasse do dinheiro: eu poderia nunca mais trabalhar, mas era um sonho meu. Graças ao planejamento que fiz, consegui realizá-lo um mês após me desligar da empresa.

Na época, achei que diminuiria meu ritmo de trabalho, mas isso não aconteceu. Trabalho tanto quanto antes, mas gosto muito do que faço. Trabalho nunca foi sacrifício para mim e hoje sou eu quem me cobro os resultados.

A diferença é que consigo fazer coisas que antes eram impossíveis: almoçar com meus filhos, levá-los à escola e à faculdade (tenho uma filha de 11 anos e um filho de 23) e fazer as compras da semana.

Agora como empresária, minha renda e meu patrimônio aumentaram. Meu próximo passo será mudar para Caraguatatuba, no litoral de São Paulo, daqui dez anos. Dois anos após me aposentar eu comprei uma loja de uniformes lá, já pensando nisso. Será outro negócio que pretendo administrar quando for, finalmente, morar na praia. A minha empresa de artesanato também vai junto comigo para a nova cidade.
Ana Gislene Guimarães Amorim Silva, 49 anos, empresária