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Deu Match!?

Pressão psicológica, ofensa e agressão: o lado perigoso dos apps de paquera

Deu Match!?

06/06/2019 04h00

Em um mundo no qual cada vez mais as pessoas tendem a resolver as coisas com a ajuda do smartphone, conhecer pretendentes por essa via passou a ser um caminho óbvio. O problema acontece quando a conversa que caminhava bem destoa para o lado da opressão e do desrespeito, ou pior, quando a agressividade vem à tona ao encontrar o pretendente pessoalmente.

"Sofri violência verbal por ter me negado a transar"

Bianca Moraca, 26, conta ter vivido uma experiência assim. "Já sofri violência verbal  em um encontro por me negar a transar com o cara". A atendente de balcão diz ter conversado por um tempo com um rapaz, quando ele a chamou para sair. A ideia inicial era encontrá-lo para bater um papo e se rolasse interesse mútuo, ficarem um com o outro. "Fomos até uma praça. Porém, enquanto conversávamos, notei que o lugar era assustadoramente escuro e deserto", relembra.

Após experiências ruins, Bianca Moraca aprendeu a ser direta quando encontra pretendentes inconvenientes. Crédito: Arquivo pessoal

Eles se beijaram e, quando percebeu que a coisa começou a esquentar, Bianca disse que queria ir para outro lugar, já que, além de se sentir exposta, achava que o lugar não era seguro.  "Ele começou a ficar bravo porque não estava rolando como ele queria, mas em momento algum me chamou para ir a outro lugar. O cara só sabia forçar uma situação. Até que eu parei e falei que não continuaria daquele jeito".

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"Ele me chamou de otária, escrota, p… barata. Disse que não acreditava estar ali perdendo o tempo dele, porque tinha coisas e mulheres muito melhores e mais corajosas do que eu. Eu pedi calma, ele me peitou, mostrou o dedo do meio bem próximo ao meu rosto, me xingou, e simplesmente me deixou ali sozinha, sem bateria no celular. Fui salva por um motorista que me orientou sobre como faria para chegar a estação de Metrô mais próxima dali".

Três anos após o ocorrido, Bianca vive em Portugal com a família e diz ter se deparado com homens com esse perfil também por lá. A diferença é que atualmente ela sabe como agir diante de situações como essa e não aceita qualquer tipo de desrespeito. "Com o tempo, aprendi a ser mais bocuda e faço questão de deixar claro que o cara com esse tipo de comportamento está sendo bem baixo".

"Ele me deu um tapa bem forte no rosto"

A estudante MC*, 23, passou por uma experiência que, por pouco, não acabou em algo pior. Ela conta que antes de encontrar com alguém que conhece no app sempre conversa muito, em alguns casos, por meses e com esse pretendente não foi diferente. "Combinamos de sair e quando entrei no carro, de repente, sem razão alguma, ele me deu um tapa bem forte no rosto". Desesperada, como ela diz, pensava em sair do automóvel, mas ao mesmo tempo imaginava o que poderia acontecer se a porta estivesse trancada.

"Fiquei com a voz trêmula pedindo para ir embora. Aí ele disse que em uma de nossas conversas eu falei que gostava de tapas. Reafirmei que sim, no sexo, mas não de maneira aleatória e fora de contexto! Achei que ele tinha entendido, mas depois disso o cara apertou meu peito e colocou a mão na minha vagina, me machucando, antes que eu pudesse sair dali. Parecia que ele era meio psicopata. Foi péssimo e traumático para mim", recorda-se.

"Muitos homens não sabem ouvir 'não"'

Letícia Camargo acredita que muitos homens ainda precisam entender que "não é não". Crédito: arquivo pessoal

A estudante Letícia Camargo, 19, diz que o grande problema de muitos dos rapazes com quem conversou no aplicativo é não respeitar os limites impostos por ela.  "Já teve cara que mandou nudes sem meu consentimento, que depois de ter algum de seus pedidos negados, como só sair para sexo, partiu para a ofensa e tentou me menosprezar".

Para Letícia, o problema de se tornar agressivo após a negativa feminina não é algo que ocorre só nos apps, mas na vida fora das telas. "É tênue a linha dos limites, só eu sei onde quero ou não chegar. Evidentemente que não são todos, mas muitos homens acham que podem falar e fazer o que querem pelo simples fato de sair com eles ou até mesmo, conversar. Por isso é tão difícil se relacionar hoje em dia".

Na maioria das ocasiões, ela bloqueia o contato desagradável para não se estressar. "Já fui chamada de vagabunda e coisas que não tinham nada a ver porque me neguei a seguir numa conversa desconfortável para mim. É como se fôssemos obrigadas a aceitar esse tipo de situação e servi-los. Comigo não rola", pontua.

"Fui xingada por ter deixado claro o perfil de homem que procurava no app"

Caroline Araújo desistiu dos aplicativos de paquera após experiências desagradáveis. Crédito: arquivo pessoal.

Caroline Gonçalves Araújo, 24, relata ter passado por situações de desrespeito simplesmente por tratar o aplicativo de relacionamento, como o que ele é de fato: um cardápio de pretendentes que procuram pessoas dentro de determinadas características para se relacionar. "Eu sempre criava perfis dizendo que procurava algo sério e o que me atraía em um rapaz. Alguns homens não conseguiam ver isso como algo normal e me mandavam mensagens terríveis, que, inclusive, me fizeram chorar".

Em uma delas um cara a chamou de ridícula e disse que deveria aceitar o primeiro que aparecesse interessado nela. "Me questionei se ele realmente estaria com a razão. Hoje sei que estou certa, que o importante é eu me gostar e que ninguém de fora tem que opinar a respeito da minha aparência. Estou em processo de reconstrução e sou feliz assim", conclui.

"Ele tentou me pôr para baixo criticando minha aparência"

A estudante Vitória Guimarães relata ter vivido situação semelhante àquela relatada por Caroline. "Conheci uma pessoa que me passou confiança pelas suas palavras e então resolvi tentar. Marcamos um encontro no shopping e ele me pediu em namoro".

Como o rapaz já havia sido apresentado à família da estudante, Vitória passou a questioná-lo sobre quando conheceria os pais do namorado, que sempre se esquivava.  "Ele começou a falar coisas sobre meu corpo para me deixar para baixo e, apesar daquilo abalar minha autoestima, sempre deixei para lá, achava normal. Logo terminamos, porque descobri que ele me traía com outra menina".

A experiência acabou sendo positiva para Vitória que, ao dar uma nova chance aos aplicativos de paquera meses depois, já sabia que não deveria se submeter a certas situações. "Há três meses, conheci uma pessoa no app que me faz muito bem e me ajudou a esquecer as coisas ruins que aconteceram", finaliza.

*Nome trocado a pedido da entrevistada.

Por Eligia Aquino Cesar, colaboração para a Universa

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Notícias, curiosidades e muitas histórias de quem já se deu bem ou quebrou a cara nos apps de paquera.

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