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Paola Machado

Quais são os tipos de fibras musculares e como torná-las mais fortes?

Paola Machado

21/06/2018 04h00

Crédito: iStock

O corpo humano possui a capacidade de realizar uma gama de tarefas físicas, combinando misturas variáveis de velocidade, potência e endurance. Nenhum tipo de fibra muscular isolada possui as características que poderiam permitir um desempenho ótimo através desses desafios físicos, pois cada uma delas é especializada em uma função. Por exemplo, certas fibras musculares são recrutadas seletivamente pelo corpo para tarefas de velocidade e potência de curta duração, enquanto outras são recrutadas para tarefas de endurance de longa duração e intensidade relativamente baixa. Quando o desafio requer elementos de velocidade ou potência, mas possui também um componente de endurance, será recrutado ainda outro tipo de fibra muscular.

Esses diferentes tipos de fibras não devem ser considerados como sendo exclusivos. De fato, ocorre um complexo recrutamento ou comutação no músculo durante a realização de muitas tarefas. O resultado final é um músculo funcionalmente eficaz que pode responder a uma ampla variedade de estímulos e, apesar da composição do músculo poder ser mais apropriada para ter um bom desempenho nas atividades de endurance, ele ainda poderá executar tarefas de velocidade e de potência, mas em um menor grau.

Ao longo dos anos, houve uma quantidade razoável de controvérsias acerca da classificação dos tipos de fibras musculares. Além disso, ainda não foi esclarecido se esses tipos podem ou não mudar em resposta a uma intervenção, como o treinamento. Em qualquer caso, existe a concordância geral de que, em relação à realização do exercício, dois tipos distintos de fibras (tipo 1 e tipo 2) foram identificadas e classificadas pelas características contráteis e metabólicas, tais como decomposição química de carboidratos, gorduras e proteínas para a produção de energia dentro da célula muscular.

Fibras Musculares Tipo 1

As características das fibras musculares tipo 1 são consistentes com as das fibras musculares que resistem à fadiga. Assim, as fibras do tipo 1 são selecionadas para atividades de baixa intensidade e longa duração. Dentro do músculo como um todo, as unidades motoras do tipo 1 se contraem, porém nem todas se contraem ao mesmo tempo.

Além de sua resistência inerente à fadiga, a endurance é prolongada pela comutação constante que ocorre para garantir a participação do músculo "recém-chegado" à medida que prossegue o estímulo do exercício. As pessoas sedentárias possuem aproximadamente 50% de fibras do tipo 1 e essa distribuição em geral é igual em todos os principais grupos musculares do corpo.

Nos atletas de endurance, o percentual de fibras tipo 1 é maior, contudo admite-se que isso constitui essencialmente uma predisposição genética, não obstante alguma evidência sugerindo que o treinamento com exercícios prolongados pode alterar o tipo de fibra.

Essencialmente, os indivíduos mais bem sucedidos nas atividades de endurance em geral possuem alta proporção de fibras tipo 1 e isso é devido mais provavelmente a fatores genéticos suplementados pelo treinamento apropriado com exercícios. De uma perspectiva metabólica, as fibras tipo 1 são aquelas com frequência denominadas "aeróbias", porque a geração de energia para a contração muscular contínua é proporcionada através da oxidação constante (decomposição química com a utilização de oxigênio) dos substratos energéticos disponíveis. Assim, com um acúmulo mínimo de metabólicos produzidos anaerobiamente (decomposição sem oxigênio), a contração muscular submáxima contínua é favorecida nas fibras tipo 1.

Fibras Musculares Tipo 2

Na extremidade oposta, aqueles que conseguem o maior sucesso nas tarefas de potência e de velocidade de alta intensidade possuem habitualmente uma maior produção de fibras musculares do tipo 2 distribuídas através dos principais grupos musculares. Já que a geração de força é tão importante, as fibras musculares tipo 2 se encurtam e desenvolvem tensão com uma rapidez consideravelmente maior que as fibras tipo 1. Essas fibras são consideradas tipicamente como fibras do tipo 2b, que é a "clássica" de contração rápida. Do ponto de vista metabólico, essas fibras anaeróbias clássicas dependem de fontes energéticas de dentro do próprio músculo e não dos combustíveis usados pelas fibras tipo 1. Quando é introduzido um componente de endurance, como nos eventos que duram mais de alguns minutos (corrida de 800 a 1500 m, por exemplo), será recrutado um segundo tipo de fibras de contração rápida, ou tipo 2 A.

As fibras do tipo 2a representam uma transição de espécies entre as necessidades atendidas pelas fibras do tipo 1 e pelas fibras do tipo 2b. De uma perspectiva metabólica, apesar das fibras do tipo 2a possuírem a capacidade de gerar uma quantidade moderadamente grande de força , elas possuem também alguma capacidade aeróbia, apesar de não ser tão significativa quanto a das fibras tipo 1. Essa é uma ponte lógica e necessária entre os tipos de fibras musculares e a capacidade de realizar a grande variedade de tarefas físicas impostas. Uma referência à resistência da fibra tipo 2c é necessária em uma descrição completa dos tipos de fibras musculares humanas. A fibra tipo 2c foi descrita como um tipo de fibra muscular raro e indiferente que participa provavelmente na reinervação do músculo esquelético lesionado.

CONCLUSÃO

As fibras de contração rápida podem fornecer quantidades extremas de potência durante poucos segundos até um minuto. Por outro lado, as fibras de contração lenta são responsáveis pela resistência, permitindo uma força de contração prolongada por vários minutos ou até horas.

É importante ressaltar que algumas pessoas possuem quantidades maiores de fibras de contração rápida do que de contração lenta, enquanto outras exibem mais fibras de contração lenta. Esse aspecto parece ser determinado quase que totalmente pela herança genética e, de certa forma, ajuda a determinar a capacidade atlética do indivíduo.

Ambos os tipos de fibras musculares contribuem durante o exercício aeróbico e anaeróbico quase-máximo, como na corrida ou natação de meia distância e no basquete ou futebol, que combinam altos níveis de transferência de energia anaeróbica e aeróbica.

Essas informações são muito importantes, para que o Personal Trainer possa identificar através da atividade física e esportiva quais fibras musculares são mais estimuladas e predominantes a fim de elaborar um treinamento coerente e eficaz. Certifique-se de contratar um Profissional de Educação Física qualificado para elaborar seus treinos.

Referências:
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Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.