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"Tudo bem ser lésbica, desde que não vire sapatão". Essa frase soa familiar para você?

Angélica Morango

29/07/2017 04h00

Eu já ouvi muitas vezes a pergunta: "Você é ativa ou passiva?" Minha resposta é sempre a mesma: "Sou flexível, depende do dia". As coisas que se gosta na cama não estão estampadas na cara.

Imagina-se que os sexualmente ativos comandam, dominam a cena numa relação sexual. Enquanto os passivos obedecem, são submissos. Será que é tão simples assim?

Pra começar, é importante entender que ser ativo ou passivo não tem nada a ver com o tipo físico. Existem gays saradões, que curtem ser passivos, e gays com uma aparência mais delicada ou andrógina que preferem ser ativos nas relações sexuais. Com as mulheres pode acontecer a mesma coisa: meninas que mantém um visual mais masculino, um look tomboy, não são necessariamente ativas, e as muito femininas, as ladies, nem sempre são sexualmente passivas.

Pode isso, Arnaldo? Pode sim! Neste caso a regra é clara: não há regras.

Há quem se fixe na ideia de que ser ativo ou passivo tenha a ver com penetração, mas eu discordo. Pensando nas preliminares, por exemplo, um homem que faz sexo oral é passivo ou ativo? E numa relação entre mulheres, sem pênis, sem dedos e sem brinquedinhos eróticos, naquela posição de encaixe, "scissor" (tesoura, em inglês): quem é a ativa e quem é a passiva? E isso realmente importa? Mais do que tesão, as relações envolvem amor, afeto, carinho.

Não estamos na década de 1970, em que a homossexualidade ainda tinha que ser velada e as preferências sexuais expostas através da cor de um lencinho e pela escolha do bolso em que ele seria pendurado na calça jeans – código gay criado para que o flerte acontecesse entre os indivíduos, mas passasse despercebido pelo restante da sociedade conservadora da época. Essa prática começou em São Francisco, nos Estados Unidos. Será que evoluímos muito de lá pra cá?

"Até pode ser gay, mas não bicha" ou "Tudo bem ser lésbica, desde que não vire uma sapatona caminhoneira". Ou ainda pior: "Os viados têm que morrer", "Essas pervertidas têm que passar por um macho de verdade pra aprender a gostar de homem".

Essas frases soam atuais e familiares pra você? Pra mim, sim. Elas são carregadas daquele preconceito que estigmatiza, dificulta a vida pessoal e profissional, e também mata.

No Brasil, um homossexual ou transexual é assassinado a cada 21 horas e, na grande maioria dos casos, a motivação é homofobia ou transfobia. O levantamento é do Grupo Gay da Bahia, a maior associação de defesa dos direitos humanos dos homossexuais do nosso país.

Preconceito é a ideia preconcebida de algo que não se conhece bem. Pra conhecer de verdade algo ou alguém é preciso renunciar aos estereótipos e enxergar o que está além do que os olhos veem. No fundo somos todos diferentes, mas com muita coisa em comum.

Mais amor e tolerância, por favor.

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!