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Por que prazer e dor caminham de mãos dadas na hora do sexo?

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Imagem: Getty Images

Heloísa Noronha

Colaboração para Universa

06/10/2018 04h00

Aprendemos, praticamente desde o nascimento, a evitar a dor e a buscar o prazer. No entanto, sem nos darmos conta, não são poucas as vezes em que relacionamos uma sensação à outra e experimentamos ambas ao mesmo tempo.

No sexo, essa associação fica mais evidente - e não só para quem curte uma pegada sadomasoquista. Duvida? Confira os fatos a seguir:

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Gozar e sofrer: uma relação ambígua

Um estudo conduzido pela Universidade Rutgers (EUA), divulgado em 2015, avaliou as imagens de tomografias cerebrais de mulheres enquanto elas se masturbavam.

De acordo com o resultado, mais de 30 áreas do cérebro estavam ativas, inclusive algumas que respondem pela dor. Segundo o autor da pesquisa, Barry  Komisaruk, há um vínculo fundamental entre dores e orgasmos.

"Observamos que expressões faciais durante o orgasmo muitas vezes não podem ser distinguidas de expressões de dor", disse na época.

A ligação entre dor e prazer é biológica

Diversos estudos da literatura científica indicam que dor e prazer compartilham os mesmos mecanismos, estruturas e caminhos no sistema nervoso central.

"Portanto, pode-se afirmar que dor e prazer se relacionam como os dois lados de uma mesma moeda", compara Cibele Fabichak, fisiologista e autora do livro “Sexo, Amor, Endorfinas e Bobagens” (Matrix Editora).

Ela explica que há um conjunto de substâncias, encabeçadas pela dopamina e pelas endorfinas, cuja produção é estimulada em ambas as situações.

Endorfinas agem como anestésico

As endorfinas estão por trás da “incapacidade” de sentir dor durante o sexo. Elas são proteínas que agem para bloquear o sinais de incômodo enviados pelo cérebro e que funcionam de modo semelhante às drogas (a morfina, em especial), gerando uma sensação de euforia.

É por isso que, durante a transa, não sentimos desconforto com arranhões, mordidas ou puxões de cabelo -- quando essas carícias são consentidas, é importante frisar. "As endorfinas não são uma molécula única. Geralmente aparecem no corpo em várias formas e podem ser de 18 a 500 vezes mais potentes no alívio da dor do que qualquer analgésico feito artificialmente.

"Elas também aparecem no chamado 'barato de quem corre' e justificam porque algumas pessoas ficam 'viciadas' em atividades tidas como perigosas, como corrida de carro, mergulho em profundezas e bungee jump", diz Cibele.

Sensação de alívio é importante

De acordo com o terapeuta sexual Oswaldo Martins Rodrigues Jr., diretor do (Inpasex), Instituto Paulista de Sexualidade, o prazer sexual provoca várias mudanças de percepção, que vão desde não sentir odores que em outros momentos consideramos ruins até ter sensações físicas ampliadas, principalmente as táteis.

"É por isso, que quando uma dor ocorre, pode ser 'superada' pelo desejo de continuidade do prazer, incluindo o alívio após o estímulo", fala Rodrigues Jr.. "Em algumas situações também sentimos o alívio como sendo prazeroso, mesmo que não seja uma sensação de prazer, exatamente", conclui.

Masoquismo tem origem na infância

Os cinco sentidos -- visão, audição, tato, olfato e gustação -- são os canais de entrada tanto da satisfação (o prazer), como da humilhação e dor, no caso do masoquismo. Os masoquistas buscam a dor por meio de atitudes e comportamentos autodestrutivos com o objetivo de, por meio dela, suprir sua necessidade de prazer e amor.

Eles geralmente se autoflagelam, estimulam ou criam situações para serem oprimidos, humilhados, explorados. Segundo a literatura médica, estruturas familiares muito rígidas e conservadoras, com fortes figuras de autoridade e de agressividade, podem levar ao desenvolvimento pelo gostar da dor. Por quê?

Porque essas pessoas entendem a opressão como uma forma de amor. De acordo com a fisiologista Cibele Fabichak, uma criança que não teve carinho ou atenção pode vivenciar na agressão ou na humilhação uma maneira de ser notada e desejada.

"Seria algo como 'melhor sentir a dor e ser considerada do que não sentir nada e não ser lembrada'. A dor acaba sendo 'aprendida' como uma compensação", explica.

Entretanto, deve-se ressaltar que mais do que a natureza da experiência vivida na infância, o fundamental é o tipo de registro feito de tal situação. Uma criança pode ter recebido muito carinho, porém, só memorizar alguns atos de agressão.

Vício na dor merece atenção

Segundo Oswaldo, que também é autor do livro "Parafilias - Das Perversões às Variações Sexuais" (Zagadoni Editora), algumas pessoas passam a precisar de estímulos cada vez mais fortes para sentir prazer e acabam se colocando em situações em que a dor oferece um perigo real; e até mortal.

Quando isso começar a acontecer, é preciso buscar ajuda terapêutica.