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Modelo com marca de nascença bomba fora do país: "Gosto da minha pinta"

Mariana Mendes - Reprodução/Instagram
Mariana Mendes Imagem: Reprodução/Instagram

Daniela Carasco

da Universa, em São Paulo

28/03/2018 04h00

Toda vez que a mineira Mariana Mendes, 25, se olha no espelho, ela se orgulha do que vê. No centro de seu rosto, uma pinta de nascença salta aos olhos. É a marca que fez dela uma estrela do Instagram e tem feito seu nome e imagem percorrerem o mundo.

“Faz parte da minha personalidade”, diz. A denominação médica para o sinal como o seu é “nevo melanocítico congênito”. Estima-se que apenas 1% dos bebês do mundo nascem com ele.

Autoestima é sua marca registrada

Quando criança, por sugestão de um dermatologista, sua mãe optou por uma tentativa de clareamento. “Eu tinha 6 anos, ainda não sabia escolher o que eu queria ou não. E por medo de eu sofrer preconceito, ela acabou me levando para umas sessões de laser”, relembra. “Fiz três, e os resultados forma imperceptíveis. No fundo, nunca tinha pedido para tirar a pinta e nem achava que ela fosse tão diferente.”

Desde então, Mariana nunca tentou cobrir ou minimizar sua marca. Rejeição não faz parte de seu vocabulário, assim como maquiagem nunca foi um recurso necessário. Ela não se recorda de ter sofrido bullying na escola, mas já ouviu alguns comentários desconfortáveis nas ruas.

“Tem gente diz que acha feio, que não gosta”, diz ela, que aprendeu com a mãe a reagir com naturalidade. “As pessoas costumavam questioná-la sobre o que eu tinha no rosto, e ela sempre respondeu como algo natural. Ela sempre me disse que eu tinha uma marca linda. Foi assim que aprendi a tratá-la, também. Nenhuma reação chegou a me atingir a ponto de eu deixar de me gostar. Gosto da minha pinta e acho bonita.”

Por isso, hoje, se define como uma ativista body positive, contrária aos “padrões de beleza convencionais”. “Cada um tem seu tipo de beleza. Nossa sociedade busca um padrão que não existe. Isso precisa acabar.”

Falta apoio no Brasil

No Instagram, onde posa desinibida para as fotos, Mariana já soma 22 mil seguidores. Os números foram impulsionados por uma entrevista dada ao jornal britânico The Sun, há menos de um ano. Depois dessa aparição, seu rosto foi parar em publicações da China, Rússia, Alemanha, EUA, Itália e Chile. Com tanta repercussão, ela deixou o cargo de estilista em uma marca brasileira e decidiu seguir carreira de modelo. No Brasil, fez trabalhos pequenos. A maioria das propostas vem de fora, diz.

“A moda do país anda muito devagar no sentido da inclusão”, lamenta. “Já fiz trabalhos na Europa com modelos de todos os tipos. Lá eles dão muito mais valor.” Por isso, ainda não consegue se manter financeiramente com a carreira que não estava nos planos.

“Nunca imaginei que pudesse ser modelo. Recentemente, tive que recusar algumas propostas de fora por conta da distância. Só que, para estourar no Brasil, eu sei que a visibilidade internacional é fundamental.”

Ataque dos haters

A exposição acabou lhe rendendo reações negativas nas redes. Mas, ao contrário do que imaginava, os ataques não se dirigiram ao detalhe que torna distinta. “As pessoas dizem que eu estou onde estou porque sou magra e bonita, não por causa da pinta. É completamente o oposto da mensagem que tento passar, e acaba me chateando. Eles me enquadram no padrão que eu tento quebrar.”

A vantagem, segundo ela, é que as críticas são menos numerosas do que os elogios. Mariana é bastante procurada por meninas com baixa autoestima que se inspiram nela e por mães que temem que os “filhos fora do padrão” enfrentem bullying no futuro.

“Infelizmente, a sociedade é um pouco cruel”, diz. “Muitas vezes, a baixa autoestima vem mais do que a pessoa ouviu por aí do que de fato da maneira como ela se enxerga.”