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'Aceitei a paixão por comida': busca por fetiche em engordar cresce na rede

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Marcos Candido

Da Universa

03/05/2018 04h00

Entre 2014 e 2018, houve um aumento de mais de 611% em buscas por vídeos que envolvam algum tipo de “feederism” no Pornhub, um dos maiores sites pornográficos do mundo.

A grosso modo, a prática consiste em ter prazer sexual e emocional ao se alimentar ou ser alimentado. O site rotula como fetiche. Já seus praticantes, como estilo de vida.

Nesse meio existem alguns tipos de perfis. Os que se denominam "foodee", que sentem prazer em comer até se sentir estufado, mas sem ganhar peso. Também há o "feeder", que se satisfaz em alimentar um companheiro e o "feedee", que obtém prazer em comer e engordar. Dentro dessas relações também existe o "mutual", que gosta de alimentar e assistir ao outro que come.

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O Pornhub elenca quais as categorias favoritas dos usuários. “Feedee” e “belly stuffing” (algo como ‘barriguinha estufada’) são as mais buscadas. “Enquanto exploram esse fetiche, as pessoas geralmente também combinam outros termos para achar os vídeos que elas estão atrás, como ‘ganho de peso” [em inglês], seguido por ‘belly inflation’ [“barriguinha inchada”, em tradução livre]”,explica o relatório publicado pelo site.

Personagem famosa do ramo desiste de carreira fetichista

Em vídeos do tipo, costuma-se ter uma interação entre duas pessoas feeders, que comem ou exibem o corpo na frente da câmera. Um dos casos mais famosos é o de Donna Simpson, britânica que chegou a engordar mais de 250 quilos ao ser paga para comer na frente da webcam. Por volta de 2011, ela anunciou que estava desistindo da carreira por problemas de saúde e retomar a “vida normal” na educação da filha.

Com a palavra, uma praticante

A terapeuta L.*, que só topou dar entrevista por e-mail à Universa, é admiradora do Feederism há seis anos, quando conheceu um companheiro e também adepto. Ela se considera uma feedee, que sente prazer em engordar -- mas não revela o peso atual. L. não acredita apenas na face erótica do feederism.

“Desde criança eu tive uma doutrina muito rígida de como deveria ser meu comportamento social e como deveria ser minha aparência, como a maioria das mulheres recebe e é cobrada desde a infância. Ao ponto de quando tive um sobrepeso aos dez ou 12 anos, muito longe de ser uma obesidade infantil, fui levada a uma endocrinologista e tomei remédio para emagrecer e tive uma dieta rígida. Mas por ser uma criança gulosa, que adorava comer, sempre fui muito podada até ser convencida a seguir o modelo”, explica a administradora do blog ‘Feederism Brasil’.

Ela continua: “resolvi virar 'rata de academia' malhando 4 dias por semana só pra poder comer o quanto eu quisesse alguns dias na semana e compensar na academia e assim manter o peso. E quando via que tinha engordado alguns quilos, fazia dieta rígida por semanas e me sentindo culpada e angustiada”.

L. afirma ter mudado de hábitos ao engordar após a gravidez. Não satisfeita em assistir ao próprio corpo se transformar, diz ter visto uma mulher gorda passeando pela rua, que ela achou confiante e atraente. “Acho que foi esse momento chave, que me desprogramou de tudo que recebi desde a infância”, diz.

Hoje, além de analisar comportamentos na rede, ela diz interagir e observar adeptos nos núcleos no Brasil e em sites estrangeiros. “Eu passei a me aceitar uma apaixonada por comida que não se censurava mais por isso.”