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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


Praticar exercício 1 hora antes da aula deixa criança mais saudável e feliz

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Imagem: iStock

Gretchen Reynolds

The New York Times

22/02/2018 16h17

Um programa de exercícios supervisionado que faz crianças pequenas correrem e brincarem por uma hora antes da escola poderia torná-las mais felizes e saudáveis, além de estar em harmonia com as necessidades e agendas de pais e professores, segundo um novo estudo envolvendo 24 escolas de ensino fundamental e médio nos Estados Unidos.

Contudo, os resultados também alertam que os benefícios podem depender da frequência com que a criança participa.

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A atividade física entre crianças na maior parte do mundo desenvolvido enfrenta um declínio acentuado há décadas. As diretrizes de exercícios nacionais nos Estados Unidos recomendam que crianças e adolescentes se envolvam em pelo menos uma hora de exercício todos os dias. Porém, segundo a maioria das estimativas, apenas 20% dos jovens são ativos e muitos raramente se exercitam. Enquanto isso, a taxa de obesidade entre crianças de dois anos gira em torno de 17%, segundo o Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA.

Compreensivelmente, muitos especialistas preocupados sugeriram uma série de intervenções com atividades físicas, desde mais programas esportivos até o uso de videogames "ativos", que permitam que as crianças se mexam sem abrir mão de telas e controladores.

Porém, muitas dessas iniciativas são caras, complexas logisticamente, demandam tempo ou não são práticas.

Assim, em 2009, um grupo de mães de Massachusetts organizou um programa de atividades simples, antes das aulas, na escola fundamental local. Elas escolheram começar antes das aulas porque queriam aumentar a quantidade de tempo que os filhos gastavam se movimentando e não mudar as aulas de educação física existentes ou atividades esportivas após a escola. Os pais que trabalham fora consideraram o horário conveniente e, ao que parece, as crianças não reclamaram por ter que acordar mais cedo.

A sessão de uma hora original, liderada por pais voluntários, consistia em aquecimento, corrida, ginástica e brincadeiras em grupo, como pega-pega. Os exercícios ficaram tão populares que outros pais começaram a perguntar se poderiam começar um programa similar na escola dos filhos.

Hoje, o programa ganhou um currículo formal, nome e acrônimo, Build Our Kids' Success (Boks – criar o sucesso de nossos filhos, em tradução literal), além de apoio corporativo do fabricante de tênis Reebok; a semelhança da nomenclatura é intencional. Ele também se tornou um dos programas de exercícios gratuitos para escolas mais disseminados no mundo. Segundo uma porta-voz do Boks, ele é empregado em mais de três mil colégios do mundo inteiro.

Contudo, popularidade não é garantia de eficácia. Assim, pesquisadores da Universidade Harvard e do Hospital Geral de Massachusetts, alguns dos quais têm filhos matriculados em um programa Boks, começaram a se perguntar sobre os impactos mensuráveis do exercício.

Eles também estavam cientes de que uma série de distritos escolares de Massachusetts planejava adotar o Boks em escolas do ensino fundamental durante os anos de 2015 e 16, e por causa do novo estudo, cujos resultados foram publicados em American Journal of Preventive Medicine, perguntaram se podiam pegar carona no começo das atividades. Diretores de 24 escolas concordaram. Alunos de várias faixas de renda foram incluídos.

A seguir, os pesquisadores perguntaram às famílias que pretendiam participar do Boks, que é sempre voluntário, se elas e as crianças gostariam de fazer parte do estudo.

Centenas de alunos do jardim de infância à oitava série e seus pais concordaram. Outros, que não participariam do programa de exercícios, concordaram em servir de grupo de controle.

Os pesquisadores mediram a altura, peso e IMC (Índice de Massa Corporal) de todos, além do nível de felicidade, vigor e outros sinais de bem-estar por meio de breves entrevistas psicológicas.

Durante 12 semanas, os alunos brincaram e correram durante o exercício antes das aulas. Em algumas escolas, o programa era oferecido três vezes por semanas, em outras, duas.

Depois, os pesquisadores voltaram e repetiram os testes.

Nessa altura, quase todos que se exercitavam antes da aula três vezes por semana viram melhora no IMC e poucos eram qualificados como obesos; muitos ganharam peso, como deve acontecer quando as crianças estão crescendo. Elas também relataram sentir conexões sociais mais profundas com os amigos e a escola, além de maior felicidade e satisfação com a vida.

Os alunos que se exercitavam duas vezes por semana também se sentiam mais felizes e cheios de vida. Contudo, os pesquisadores não constataram reduções de peso.

Os estudantes do grupo de controle apresentavam o mesmo IMC ou maior, sem mudanças na sensação de bem-estar.

A conclusão é que um programa de exercício antes da aula, com uma hora de duração, parece melhorar a saúde e a felicidade das crianças, afirma a dra. Elsie Taveras, professora de Harvard e chefe de pediatria geral do Hospital Geral de Massachusetts, que supervisionou o estudo e cujos filhos participaram do Boks. Segundo ela, o experimento foi em parte financiado pela Fundação Reebok, pelo Instituto Nacional de Saúde e por outras fontes. Taveras afirma que nenhum dos financiadores tinha controle do projeto do estudo ou de seus resultados.

Contudo, os benefícios são mais perceptíveis se a criança se exercitar "pelo menos três vezes por semana", acrescenta.

No entanto, o estudo foi de curto prazo e examinou somente alguns impactos físicos e emocionais. Taveras e colegas esperam rastrear possíveis impactos do trabalho no rendimento escolar e na aptidão aeróbica.

Talvez o mais importante, o estudo não foi aleatório. Ele envolveu crianças e famílias que desejaram participar. Os resultados, teoricamente, somente se aplicariam a crianças que levantam mais cedo, correm, pulam, saltam e gritam durante uma hora antes da aula.

Todavia, de acordo com Taveras, isso se aplicaria a todas as crianças.

"Em minha experiência como pediatra e mãe, as crianças adoram se mexer por natureza. Elas se divertem. Tiramos essa alegria delas."

Ela acredita que programas do gênero possam ajudar a recuperar parte do prazer instintivo de nossos filhos pelo movimento.

"Vi as sessões. Vimos as crianças irradiando felicidade."

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