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"Somos trabalhadoras, não somos escravas", diz baiana de festa de diretora

Angelimar (a 2a, da esquerda para direita) posou para fotos ao lado da empresária Donata Meirelles - Reprodução/Instagram.com/liciafabiolf
Angelimar (a 2a, da esquerda para direita) posou para fotos ao lado da empresária Donata Meirelles Imagem: Reprodução/Instagram.com/liciafabiolf

Da Universa

11/02/2019 08h45

Na sexta-feira (8), a diretora de moda da revista "Vogue Brasil", Donata Meirelles, comemorou seus 50 anos em uma festa realizada em Salvador, Bahia. No entanto, a decoração e o figurino usado pelas trabalhadoras na recepção aos convidados provocou revolta em parte da comunidade negra ao ser divulgada nas redes sociais.

De acordo com internautas e ativistas, as referências visuais que teriam sido selecionadas pela aniversariante remeteriam ao Brasil Colônia e as funcionárias presentes na festa estariam caracterizadas como mucamas. Além disso, muitos se incomodaram com o uso de elementos do Candomblé na decoração.

Esta não é a explicação dada pela baiana Angelimar Trindade Santos Sousa, que trabalhou no evento. Segundo ela, a proposta do figurino foi sugerido pelo próprio time contratado, com a proposta de exaltar a cultura local e suas raízes africanas. 

À Universa, ela também garantiu que Donata Meirelles não tomou decisões a respeito dos trajes e da decoração.

"Tudo o que está sendo falado sobre tema, sobre o que aconteceu, não é verdade. Fomos contratadas para o receptivo, as roupas foram decisão nossa, nós traçamos o figurino", conta Angelimar.

De acordo com a baiana, as roupas foram adaptadas como se fossem trajes do Ilê Aiyê, sem a bata e sem o camisu. 

Sobre as "cadeiras de Painho" (em referência ao personagem de Chico Anysio e o mundo do Candomblé), Angelimar conta que elas não faziam parte da decoração e foram colocadas no salão por uma questão de conforto das profissionais.

Donata Meirelles  - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Donata Meirelles na festa que celebrou seus 50 anos
Imagem: Reprodução/Instagram

"Das 10 baianas, quatro estavam com problemas. Uma se recuperando do pé quebrado, outra com problema no joelho, uma pessoa com quase 70 anos e eu com problema no ciático", conta. Segundo Gel, como a baiana se apresenta, enquanto quatro delas se sentavam, as outras seis circulavam pela festa, em um rodízio para que todas conseguissem seguir em mais de quatro horas de festa.

"Todo mundo pediu para tirar fotos com a gente. A ideia dos convidados sentados na cadeira foi nossa, para que as fotos ficassem diferentes. A foto com a Donata aconteceu quando ela entrou no salão. Nós prestamos uma homenagem a ela, pedimos para ela sentar", esclarece.

Angelimar conta que o tema - Diversidade e o Axé - foi respeitado à risca, uma vez que contava com baianas brancas, negras, católicas, cristãs e do candomblé. Gordas, magras, altas e baixas. "É isso que se fala da diversidade", disse.

"Somos mulheres, baianas de acarajés, de receptivos. Somos trabalhadoras, não escravas. Não foi ninguém que impôs roupa para gente vestir, não. Ninguém disse para gente ficar em pé, para tirar foto não. As pessoas usam da maldade, da perversidade para denegrir o outro", finaliza.