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Atrocidades que as mulheres cometeram ao longo da história pela aparência

A atriz Kirsten Dunst, como a rainha Maria Antonieta e o ator Jason Schwartzman em cena do filme "Maria Antonieta", de Sofia Coppola - Divulgação
A atriz Kirsten Dunst, como a rainha Maria Antonieta e o ator Jason Schwartzman em cena do filme "Maria Antonieta", de Sofia Coppola Imagem: Divulgação

Heloísa Noronha

Colaboração com Universa

18/09/2018 04h00

Se hoje as mulheres podem vestir e se maquiar como quiserem e dizer não às tentativas de imposição de tendências de moda e beleza, antigamente, elas eram obrigadas a usar roupas literalmente sufocantes e cosméticos malcheirosos ou que apodreciam a pele. Duvida? Eis algumas histórias:

Cabelos nada limpinhos

Os penteados rebuscados da corte europeia --em especial, a francesa-- do século 18 escondiam um verdadeiro lixão. Quem lançou a moda, obviamente, foi Maria Antonieta. Léonard, cabeleireiro queridinho da rainha, montava uma estrutura de arame que era recoberta de lã, tecido, crina de cavalo e gaze. Tudo isso era preso à cabeça da nobre e depois coberto pelo próprio cabelo dela. Pomada e talco davam o acabamento final. Como lavar os cabelos não era um hábito da época --as pessoas, no máximo, passavam óleo nos fios-- piolhos e até ratos costumavam se enroscar nas tais esculturas capilares.

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Depilação na unha

Inventada em 1742 por Peronet, em Paris, a depilação com cera está longe um tratamento estético agradável. Acredite: no passado, as mulheres que desejavam se livrar dos pelos já passaram por coisas piores. Na Grécia Antiga, por exemplo, os pelos pubianos eram arrancados a unha, mesmo, ou queimados com cinzas quentes.

Make tóxico

Durante o reinado de Luís 14, era tendência pintar a cara de branco com alvaiade, um mineral derivado do chumbo, e depois marcar as bochechas com "ruge" feito de cloreto de mercúrio. Madame de Pompadour, amante do rei, adotava esse visual e inspirava muitas "seguidoras" da corte na época. O problema é que, por serem altamente tóxicos, os dois produtos corroíam a pele aos poucos. Ninguém ligava.

Métodos de dar enjoo

Na Idade Média, as garotas vaidosas usavam fuligem para delinear os olhos e pintar os cílios. Para deixar a pele mais fina e esticadinha, aplicavam no rosto uma gororoba feita com clara de ovo, limão e vinagre. O cheiro e o gosto, dá para imaginar, provocavam ondas de náuseas e enjoos.

Moda dolorida

Há uma cantiga popular muito antiga que satiriza "a moda das tais anquinhas" --conforme a versão, ela é chamada de "engraçada", "estrangulada" ou "arreliada". Trata-se de uma peça de arame trançados que as mulheres, entre 1870 e 1880, usavam para dar volume à parte traseira dos vestidos. Para se sentarem, elas tinham de puxar todo o volume para a cima a fim de que o arame não espetasse coxas e bundas. O acessório, indispensável no closet das influencers de outrora, causava feridas na cintura e problemas lombares.

Livro "Sutiãs e Espartilhos - Uma História de Sedução": a atriz Polaire com sua cintura de vespa em foto de 1890 - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

De dar falta de ar

Para afinar a cintura, durante muito tempo as mulheres usavam espartilhos --a peça foi extremamente popular dos séculos 15 ao 19. Só que o corpete que cobria todo o tórax e a região dos seios apertava tanto, mas tanto, que muitas sentiam falta de ar e precisavam cheirar amoníaco para não desmaiarem. Os mais resistentes eram produzidos com ossos de baleia e forrados com um tecido fino que impedia curvar o corpo para a frente. As mais radicais recorriam ao bisturi para deslocar ou até mesmo retirar algumas costelas --sim, essa cirurgia vem de longa data.

Cuidado: inflamável

Em 1830, a crinolina era uma peça bem popular... e bizarra aos olhos de hoje. Consistia numa armação em forma de gaiola que as mulheres usavam sob os vestidos, também com o intuito de deixá-los bem armados. As primeiras foram produzidas com crinas de cavalo trançadas --daí o nome--, mas a industrialização do processo substituiu essa matéria-prima por tirantes e arames finos de aço. A crinolina era, literalmente, assassina: em 1863, pessoas morreram num incêndio numa igreja em Santiago, no Chile, porque as saídas ficaram bloqueadas --as mulheres não conseguiam passar pela porta. A peça também era inflamável.

Pés atrofiados

Na China, pés pequenos sempre foram associados à beleza feminina. Durante o século 10, dançarinas usavam meias apertadas para atrofiar os pés. Aos poucos, o costume se espalhou entre as classes mais altas e por volta do século 14 atingia até mesmo as camponesas. Com o tempo, a prática se tornou mais "sofisticada": os quatro dedos menores eram pressionados para baixo do peito do pé, deixando apenas do dedão estendido. O antepé e o calcanhar eram colocados juntos, movendo o dedão para baixo e o osso do calcanhar para a frente. Ossos eram quebrados e o aro formava uma curva alta, criando uma grande fenda na sola. Alguns pés chegavam a medir 8 centímetros. 

Máscara nada apetitosa

Na virada do século 19 para o século 20, várias aristocratas faziam sucesso com seus livros sobre conselhos de beleza. Em seu manual publicado em 1902 --que rapidamente fez sucesso de Paris a Nova York--, a condessa de Tramar pregava: "Minhas irmãs, nosso único objetivo deve ser a conquista do homem! Utilizem para este fim todos os meios, mesmo os mais surpreendentes! Superem sua repugnância!". E havia muita repugnância para superar, viu? Para se ter ideia, um dos tratamentos caseiros mais populares era uma máscara de escalopes de vitela mantida durante toda a noite no rosto por bandagens.

Vai terolheira, sim!

Se hoje o corretivo é um item imprescindível no nécessaire de muitas garotas, nos anos 1910 as olheiras tinham grande valor estético. Afinal, contribuíam para o aspecto lânguido e diáfano apreciado na época. E mais: para sublinhar as veias aparentes próximas do olho com um traço de lápis azulado bem fino.

Que tal enxofre?

Na Era da Renascença o tratamento para a acne consistia em cobri-la por uma hora com enxofre e terebintina em pó (hoje usada como solvente) e, depois cobrir com manteiga fresca. Para obter o tom dourado dos cabelos retratados em quadros famosos, a mulherada aplicava um composto de alúmen (sulfato duplo de alumínio e potássio), enxofre e mel e expunha os fios ao sol por algumas horas, suportando firme e forte o odor em nome da beleza.

Parente da chapinha

Nos anos 1930, foram inventados os primeiros métodos para alisar os cabelos --uma tendência da época. Um dos mais conhecidos foi o "cabelisador", parente distante da chapinha. Tratava-se de uma haste de metal levada à brasa ou ao fogão. Não funcionava direito, pois algumas ondulações persistiam, e ainda queimava os fios.

LIVROS CONSULTADOS:
"Beleza do século" (Cosac & Naify), ensaios de várias autoras
"Fetiche - Moda, sexo & poder" (Ed. Rocco), Valerie Steele
"O guia das curiosas" (Panda Books), de Marcelo Duarte e Inês de Castro
"Última moda - Uma história do belo e do bizarro" (Publifolha), de Barbara Cox, Caroline Stafford, Carolyn Sally Jones e David Stafford