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Paola Machado

Tem problema comer a mesma comida todos os dias?

Paola Machado

14/04/2019 04h00

Crédito: iStock

Conheço muita gente que não liga de comer os mesmos alimentos em suas refeições todos os dias e há anos repete esse cardápio fielmente. Mas será que não tem problema comer os mesmos alimentos sem variações dia após dia?

Por que será que os grandes centros de estudo em nutrição sempre recomendam variar a alimentação para alcançar uma alimentação equilibrada?

Para começarmos a entender esta questão, podemos usar como exemplo a seguinte situação: será que uma criança pode ficar "trancada" em casa todos os dias sem ter contato com outros ambientes? Bom, pensando nessa situação os pediatras sempre recomendam o contato com diferentes ambientes, solos — grama, areia, terra –, contato com animais etc; para criar anticorpos suficientes para aquele ser humaninho que está em fase de desenvolvimento.

O alimento é a mesma coisa; se ficarmos dentro de uma caixa, sem trabalhar muito a variedade no nosso paladar, o sabor dos alimentos e as suas diferentes texturas, deixaremos de desfrutar dos benefícios que cada nutriente pode nos proporcionar. Não devemos nos privar desta experiência.

Por que não é a melhor opção comer os mesmos alimentos todos os dias?

Ingerir somente os mesmos alimentos todos os dias pode contribuir para:

  • Monotonia alimentar  Comer os mesmos alimentos deixa a dieta sem graça, entediante e pobre do ponto de vista nutricional, uma vez que os nutrientes recebidos serão sempre os mesmos, nas mesmas proporções e padrão de aproveitamento; isto sem contar a atratividade do prato, que aos poucos vai acabando, uma vez que você já sabe as cores, aromas e texturas que vai encontrar, ficando sem muita motivação para provar novos alimentos e preparações, reforçando um círculo vicioso.
  • Ausência na variedade de nutrientes, principalmente as vitaminas e os minerais  Comer a mesma coisa todos os dias limitará sua dieta de certos nutrientes, podendo até privá-la de substâncias importantes e essenciais para sua saúde e para a garantia de um plano de refeições saudável e equilibrado.
  • Desenvolvimento de "intolerância adquirida", ou seja, a falta de exposição do organismo a determinados alimentos, podendo contribuir com o desenvolvimento de "intolerância" ao se expor ao mesmo novamente.  Já escrevi um texto aqui sobre "intolerância adquirida". Quando seguimos dietas restritivas, monótonas e hipocalóricas sem orientação nutricional adequada, a deficiência de nutrientes pode comprometer a formação das novas células, comprometendo suas funções fisiológicas e metabólicas. Nutrientes diversificados como vitaminas, minerais e ácidos graxos poli-insaturados são os que naturalmente executam as ações anti-inflamatórias, antioxidantes, anticancerígena, detoxificante e anti-alérgica; por isso a necessidade de variar a qualidade nutricional dos alimentos.
  • Deixar de ter acesso a texturas e sabores diferentes Quando incluímos novos alimentos nas nossas refeições, ampliamos nosso paladar e o deixamos mais apurado para certas escolhas.

Como variar?

Para vocês terem uma ideia, um estudo mostrou que variar a alimentação — é claro, com alimentos saudáveis e "de verdade" — auxilia em um aporte nutricional adequado, além de um melhor acompanhamento e atenção à qualidade nutricional. Por isso, temos que variar, mas sempre com a devida atenção a nossas escolhas alimentares, e estar alinhado a uma educação alimentar com sua nutricionista, para saber os alimentos que têm equivalência calórica e nutricional àqueles que serão substituídos pela alimentação "base".

Além disso, pesquisas recentes sugerem que comer uma variedade maior de alimentos saudáveis ​​pode melhorar a saúde de forma significativa –estando associado a uma menor probabilidade de desenvolver síndrome metabólica — fatores de risco que aumentam suas chances de problemas cardíacos e de saúde.

A seguir observe algumas das figuras que ilustram a base para uma refeição, almoço e jantar, de qualidade e proporção nutricional adequadas.

Sabendo a estrutura, há diversas formas de distribuirmos nossas calorias durante o dia. Isso deve ser elaborado junto com a sua nutricionista  de acordo com suas necessidades diárias nutricionais e individuais. Segue um exemplo de acordo com a taxa metabólica basal, ou seja, a caloria diária utilizada para seus processos basais (respirar, coração bater, sangue circular, pensar).

Podemos variar de diferentes formas, de acordo com os grupos alimentares equiparados com a quantidade calórica.

Seguem os grupos alimentares para ficarem atentos.

 

Variar com alimentos saudáveis, comer várias vezes ao dia, prestar atenção na qualidade e quantidade de alimentos e mastigar o suficiente sempre é a melhor opção para o seu resultado em saúde. Não pode ser tão difícil, então, vamos em frente.

*Colaboração da nutricionista clínica, comportamental e pesquisadora UNIFESP Dra. Samantha Rhein 

Referências:
– Otto, M.O.; et al. Everything in Moderation – Dietary Diversity and Quality, Central Obesity and Risk of Diabetes. PLOS | ONE. October 30, 2015. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0141341.
– Vadiveloo, M.; et al. Greater Healthful Food Variety as Measured by the US Healthy Food Diversity Index Is Associated with Lower Odds of Metabolic Syndrome and its Components in US Adults. The Journal of Nutrition, Volume 145, Issue 3, March 2015, Pages 564–571, https://doi.org/10.3945/jn.114.199125.
– Michels, K.B.; et al. A prospective study of variety of healthy foods and mortality in women. International Journal of Epidemiology, Volume 31, Issue 4, August 2002, Pages 847–854, https://doi.org/10.1093/ije/31.4.847.
– Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.