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Dançar nas ruas, a aposta das chinesas para lidar com o envelhecimento

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Imagem: iStock

Paula Escalada Medrano

De Xangai, na China

28/10/2018 13h02

Dançar contra a passagem do tempo, essa é a fórmula preferida por milhões de chinesas, que saem diariamente às ruas para se exercitar ao som de músicas e se manterem saudáveis, apesar dos obstáculos da idade.

Às 19h em ponto começa a música para quem decide se exercitar quando o sol se põe. Praças, parques, calçadas largas ou os vãos entre edifícios em uma comunidade, qualquer lugar é válido.

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A afluência de pessoas é tanta que este grupo tem um nome próprio, "as damas", mulheres mais velhas, geralmente aposentadas ou donas de casa, que fazem das ruas a sua academia e também seu ponto de encontro para socializar e se desligar por um momento das obrigações familiares.

Quando se fica velho as articulações ficam menos flexíveis. Os braços e as pernas mais duros e, com este tipo de exercício, você se sente melhor com o corpo."

Dong Mei, uma aposentada de 64 anos, convencida de que este exercício também ajuda a "atrasar a demência senil".

A popularidade das "damas" é tão grande que em algumas cidades, como Pequim, os governos locais tiveram que criar leis para restringir o volume da música, diante dos protestos dos moradores por causa do barulho.

A maioria das que saem para dançar são mulheres e estas se reúnem em grupos, dependendo dos diferentes estilos musicais e das coreografias que realizam. Geralmente são movimentos simples que se repetem em série ao ritmo das canções.

"A participação é totalmente livre, qualquer pessoa pode dançar no grupo. As que dançam bem ficam na frente e as novas um pouco atrás, e repetimos a mesma rotina todos os dias", detalhou Dong, que costuma dançar em uma praça de Pequim.

Enquanto as redes de academias de inspiração ocidental se multiplicam, lotadas de jovens cada vez mais preocupados com seu aspecto físico, as senhoras mais velhas continuam preferindo as ruas e a dança, algo que, na opinião de Liu Peiqun, aposentada de 66 anos, poderia se perder com as próximas gerações.

Quando ela começou a dançar há três décadas, "havia muitos jovens", mas agora, segundo destacou, "cada vez eles participam menos porque agora têm muitas outras opções, que naquela época não havia".

Liu pratica uma disciplina conhecida como Mulan Boxing, que não é apenas uma dança, mas também "é reconhecida como um esporte", disse orgulhosa, e que muitas mulheres escolhem porque "as ajuda a se tranquilizar e a cultivar seu coração, além do exercício do corpo".

No final de semana passado foi realizado na cidade de Xangai um congresso sobre este esporte que completou 30 anos e que foi criado por uma mulher chamada Ying Meifeng, inspirada na ginástica.

Cerca de 20 mil mulheres de diferentes partes da China se juntaram em um centro esportivo para exibir suas coreografias ao ritmo da música tradicional chinesa, nas quais utilizam elementos como leques e espadas.

"É um exercício tranquilo, não muito ruidoso, com música elegante, portanto muito poucas vezes recebemos reclamações ou acusações de barulho como acontece com outras danças", assegurou Ying à Efe, orgulhosa de que aquilo que começou como um remédio para seu deteriorado estado de saúde hoje seja seguido por milhares de pessoas.

"Apenas em Xangai, há mais de 300 pontos de formação deste exercício, que é feito principalmente de madrugada, e em cada ponto há mais de 30 pessoas", contou Ying, acrescentando que as mulheres que o praticam não só fazem exercício, mas também aproveitam para "fazer novas amizades".

Sobre a possibilidade de que, no futuro, sua disciplina ou os bailes nas ruas percam força, Ying acredita que esse é um problema que tem a ver com os departamentos de educação.

"Têm que dar mais importância ao esporte e os jovens deveriam ser obrigados a fazer uma hora de exercício por dia", sugeriu.

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