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Rejeição dentro de casa é mais do que dolorosa para jovens gays: é perigosa

Itaberli Lozano Rosa, 17, foi encontrado morto no fim do ano passado; mãe é principal suspeita - Reprodução/Facebook
Itaberli Lozano Rosa, 17, foi encontrado morto no fim do ano passado; mãe é principal suspeita Imagem: Reprodução/Facebook

Natália Eiras

Do UOL

13/01/2017 18h27

No fim do ano passado, o corpo do jovem Itaberli Lozano Rosa, 17, foi encontrado carbonizado em um canavial próximo a Cravinhos (SP). Na quarta-feira (11), a mãe dele, Tatiana Lozano Pereira, foi presa e confessou ter assassinado e queimado o filho. Na sexta (13), ela mudou o depoimento e negou o crime. Parentes do adolescente dizem que mãe não aceitava a homossexualidade do filho. 

Um levantamento de 2013, realizado pelo Instituto Data Popular, deu conta que 37% das 1.264 pessoas de todo o Brasil ouvidas pela pesquisa não aceitariam ter um filho gay. Segundo o banco de dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), 318 pessoas LGBT foram assassinadas em 2015. Seria um crime de ódio a cada 27 horas.

Maju Giorgi, coordenadora do grupo Mães pela Diversidade, diz que muitos jovens gays sofrem violência nas mãos das pessoas em quem eles deveriam mais confiar. "Eles são torturados dentro de casa, são espancados e até passam pelo cárcere privado", fala.

A advogada Maria Berenice Dias, presidente da Comissão Nacional da Diversidade Sexual e Gênero da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), afirma que o preconceito do próprios pais é a “segunda opressão” vivida pelo homossexual. "A primeira é a da própria pessoa, que se autorrejeita e não se aceita", afirma.

A discriminação por parte dos pais, no entanto, vem do conceito de que uma pessoa feliz é aquela que segue a fórmula: crescer, conseguir um trabalho estável, casar e ter filhos. “Quando o filho não segue esse caminho, a tendência é os pais relutarem a aceitar”, diz. Assim, tanto o preconceito de fora como o de dentro do seio familiar são estruturados em cima de um mesmo conceito: a heteronormatividade.

Por mais que tenham as mesmas raízes, a opressão que acontece no lar é mais dolorosa para o jovem gay. "A criança negra, que sofre discriminação na rua, tem o colo dos pais negros para chorar e se reconstruir. A família deveria ser um oasis, mas a criança LGBT, muitas vezes, volta para um lugar tão ou mais opressor", explica Maju.

É por isso que contar para os pais sobre a orientação sexual costuma ser um assunto delicado para a população homossexual. "A pessoa fica com a ideia de que a mãe não ama quem ela é e, por isso, deve falar sobre o assunto. Porém, às vezes o amor deixa de ser incondicional por causa da orientação", narra Dias.

Não tendo o apoio familiar, o jovem gay se torna muito mais vulnerável a violência. "Ele acaba se sujeitando a situações agressivas por não ter outra forma de sobreviver. Às vezes, a dependência não é só financeira, como também emocional", diz Maria Berenice Dias. A falta de acolhimento em outros ambientes, como a escola, facilitam abusos. "Ele não tem portas para bater", completa a advogada.

Levantar a mão ou o cárcere privado não são, no entanto, as únicas formas que famílias usam para "agredir" um jovem LGBT. Silenciá-lo é visto, por Maju e Maria Berenice, como uma forma de isolá-lo e causar sofrimento. "Fingir que a homossexualidade do seu filho não existe é jogá-lo na invisibilidade, anulá-lo", diz a coordenadora do grupo Mães pela Diversidade.

Ambas acreditam que o melhor jeito de contornar este preconceito é falar abertamente sobre o assunto dentro de casa. "Os pais precisam ler bastante, buscar informações. Ir a grupos de apoio para ajudar na harmonização da família", aconselha Maju.