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Paola Machado

Condromalácia patelar: entenda a dorzinha “chata” que aparece no joelho

Paola Machado

28/05/2018 04h00

Crédito: iStock

A condromalácia patelar, também conhecida como síndrome da dor patelofemoral, é definida como uma dor anterior e/ou retropatelar em decorrência das alterações estruturais ou biomecânicas dessa articulação, tendo a condromalácia patelar a maior ocorrência entre os casos dessa síndrome.

Ocorre um amolecimento e enrugamento da cartilagem da patela, podendo causar edema, dor e sensação de rilhamento (ruído áspero ao atrito) embaixo da patela e está associado à fraqueza muscular .

Essa disfunção afeta mais frequentemente atletas, principalmente corredores de rua e indivíduos sedentários do sexo feminino. A condromalácia patelar pode ser causada por uma desigualdade entre forças dos músculos do quadríceps, mais precisamente entre o vasto medial e o vasto lateral, onde ocorre um estresse mecânico devido às anormalidades no padrão de movimento dessa articulação, favorecendo para o amolecimento da cartilagem articular do joelho. Estudos mostram que a atividade física é um dos tratamentos recomendados para pessoas diagnosticadas com condromalácia patelar.

Esta patologia é classificada em quatro níveis:

  1. Grau I: amolecimento da cartilagem e edemas.
  2. Grau II: fragmentação da cartilagem ou rachaduras com diâmetro inferior a 1,3 cm de diâmetro.
  3. Grau III: fragmentação ou rachaduras com diâmetro superior a 1,3 cm de diâmetro.
  4. Grau IV: erosão ou perda total da cartilagem da articulação em questão, com exposição do osso subcondral.

Entre as causas da condromalácia estão:

  • Encurtamento do mecanismo extensor: o mecanismo extensor é composto pelos músculos semitendinoso e semimembranoso e pelo bíceps femoral. Os guias, quando se apresentam em tensão devido ao seu uso excessivo, diminuem de comprimento, tracionando o osso ilíaco que causa um estiramento do quadríceps, que por sua vez tracionará a patela. Enquanto a patela está sendo tracionada, na patela superior o tendão patelar sofre uma tração na parte inferior em conseqüência de duas forças de mesma intensidade, mas em sentidos opostos, comprimindo a patela sob o encaixe do fêmur.
  • Alterações do ângulo: o aumento do ângulo Q do joelho (formado pelo tendão proximal do quadríceps e ligamento patelar) leva a um desvio lateral da patela. Os valores do ângulo Q considerados normais são de 12 graus para os homens e de 15 graus para mulheres. Ângulos superiores a 20 graus geram certa anormalidade da articulação patelo-femoral.
  • Entorse do joelho com inversão: o entorse gerada por movimentos como flexão plantar, supinação e adução vão gerar uma anteriorização do tálos e da tíbia que, por consequência, anteriorizam a fíbula, estirando a musculatura anterior da coxa e aumentando o contato femuro-patelar.
  • Enfraquecimento do vasto medial oblíquo: o vasto medial oblíquo é um dos principais estabilizadores patelares e qualquer alteração ou enfraquecimento deste músculo pode levar a um desequilíbrio entre ele e o vasto lateral causando assim uma subluxação da patela e uma futura condromalácia patelar.
  • Alterações ilíacas: um excesso na hiperextensão do joelho faz com que ocorra maior tensão sobre os elementos do platô fibroso posterior, distendendo os ligamentos colaterais e cruzado posterior, produzindo ainda sobre a patela uma tendência de deslocamento lateral causado pelo posicionamento do ligamento quadriciptal (HALL, 2000; KAPANDJI, 2000). O ilíaco em anterioridade pode causar ainda tensão dos músculos isquiotibias que irá gerar dor na articulação tíbio-fibular superior e na face externa do joelho.

Quais os sintomas mais comuns?

  • Dor no joelho lesado ao correr, subir e descer escadas, levantar da cadeira.
  • Dor em volta da patela do joelho lesado, especialmente ao dobrar a perna.
  • Ardência ao ficar muito tempo com a perna dobrada.
  • Sensação de estalos no joelho ou crepitação (sensação de areia dentro do joelho).
  • Edema no joelho lesado.

O tratamento:

  • Analgésicos e Anti-Inflamatórios (prescritos pelo médico).
  • Fisioterapia para melhora da dor (aplicação de aparelhos com fim analgésicos como TENS o famoso "choquinho"  e melhora da  inflamação  (aplicação terapêutica de Ultra Som).
  • Exercícios de alongamento muscular da cadeia flexora, que fica na parte posterior da coxa (Músculo Isquiotibiais), fortalecimento muscular da cadeia extensora da parte anterior da coxa (Músculo Quadríceps), alongamento da musculatura anterior da coxa  em caso de seu encurtamento (Quadríceps) para melhorar função do joelho e posicionamento da patela.
  • Avaliação postural, principalmente do quadril, joelhos e pés.
  • Treinar a marcha (caminhar) com o acompanhamento de um fisioterapeuta e educador físico especializado e treino de equilíbrio.
  • Casos mais graves são indicativos de cirurgia.

Exercícios:

O treinamento em cadeia cinética fechada, de acordo com Ellenbecker (2002), promove uma melhor co-contração muscular, podendo gerar um aumento na ativação dos mecanorreceptores da articulação,melhorando assim a propriocepção articular e consequentemente melhorando o mecanismo de controle neuromuscular coordenado,necessário para a estabilidade da articulação.

Outra vantagem importante desses exercícios é a produção de movimentos funcionais dos membros inferiores por meio de contrações concêntricas e excêntricas dos músculos envolvidos nos movimentos das articulações do quadril, do joelho e do tornozelo.

Mas para que nós, Profissionais de Educação Física, possamos prescrever um treinamento para pessoas com essa síndrome necessitamos de um trabalho multidiciplinar com seu Fisioterapeuta e Médico alinhando o grau de sua condromalacia e nível de dor para que a atividade física auxilie na recuperação e qualidade de vida e possa desempenhar seus exercícios da melhor maneira possível.

Voltando para área do treinamento através de estudos os exercícios de cadeia cinética fechada continuam sendo um dos melhores recursos para auxiliar no tratamento da condromalácia nas fases finais dos protocolos de reabilitação, fortalecimento e propriocepção da articulação e musculatura envolvidas do joelho.

Caso tenha dores na região dos joelhos consulte um médico ortopedista para que ele possa diagnosticar a causa e um trabalho individualizado possa ser realizado para melhora da patologia.

Dicas para condromalácia Grau 1 e 2:

Você pode sim praticar exercícios de musculação, pois eles ajudam no fortalecimento da musculatura. Porém, é necessário um acompanhamento de um fisioterapeuta ou educador físico especializado, que coloque cargas leves, respeitando o limite da sua dor.

Se a dor for muito forte e impedir que realize musculação, treinamentos de natação e pilates são ótimos para ajudar no tratamento.

Já a condromalácia 3 ou 4 deve ser acompanhada com um médico e um fisioterapeuta.

Para prevenção:

  • Manter boa postura.
  • Manter o peso ideal de acordo com a sua altura.
  • Não extrapolar em exercícios de impacto como corridas e saltos, principalmente quem sente já algum tipo de dor.
  • Não exceder no uso de salto alto.
  • Praticar musculação, pilates ou natação para manter a musculatura alongada e fortalecida.

*Colaboração Fisioterapeuta Dr. Pedro Sasaki (UNIFESP e HCor)

Referências:
– ELLEMBECKER, T.S. Reabilitação dos ligamentos do joelho. São Paulo: Manole, 2002
– BUSQUET, I. As cadeias musculares. Belo Horizonte: Busquet, 2001.
– HALL, S. J. Biomecânica Básica. 3ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan, 2000.
– KAPANDJI, I. A. Fisiologia Articular. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan, 2000.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.