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Histórias de quem mudou hábitos em busca de mais saúde


"Após um sequestro e a morte do meu pai cheguei a pesar mais de 200 kg"

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Juliana Vaz

Colaboração para o VivaBem, em São Paulo

21/12/2017 04h00

Gustavo Victor, 33 anos, ainda sofria as consequências de um sequestro na adolescência, quando seu pai faleceu de forma repentina. A depressão levou o professor de inglês a pesar 200 quilos. Há dois anos ele decidiu virar o jogo e conta como conseguiu eliminar mais de 100 quilos:

Tive dois períodos muito difíceis na minha vida que me levaram a engordar. Aos 18 anos, eu e minha família fomos sequestrados e mantidos em cativeiro. Sofri ameaças e agressões físicas. Quando o pesadelo passou, fiz acompanhamento com um psiquiatra por seis meses e como sempre fui gordinho e tinha uma alimentação desregrada, engordei mais. Vários amigos se afastaram e como forma de me sentir mais seguro, decidi estudar inglês em Londres. Não me pesava e nem percebia que estava 'grande'. Na viagem, a aeromoça me ofereceu um extensor de cinto de segurança, não sabia que aquilo existia e que mais ninguém ao redor precisava. Foi um baque.

Gustavo Victor emagreceu 100 quilos - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal
Minha alimentação em Londres era pior do que em São Paulo. Estar longe da família e dos amigos me deixava ainda mais triste e o escape era a comida. Um ano e meio depois, aos 22 anos, voltei para o Brasil. Meu pai era diabético, mas adepto de exercícios e da alimentação saudável e pegava muito no meu pé para comer melhor. Apesar do exemplo, não dava atenção. Estava focado em construir uma nova vida. Comecei a dar aulas de inglês, os amigos se reaproximaram e estava criando uma rotina.

Porém, em meio a isso, meu pai teve um infarto. Pouco tempo depois, ele sofreu um AVC hemorrágico e faleceu aos 57 anos. Ele tinha uma vida saudável e mantinha os exames sob controle. Eu tinha 24 anos e foi difícil acompanhar o luto da minha mãe e enfrentar meu próprio sofrimento. Mergulhei na depressão, comia ainda mais e ganhei peso ano a ano.

Viajar, comprar roupas que me coubessem era impossível e eu evitava ao máximo. Subir alguns lances de escada era horrível. Um dia estava em uma festa e uma cadeira dessas de plástico se quebrou. Foi o ponto decisivo para acordar: se eu não fizer algo, vou morrer jovem como meu pai. Como não me pesava, acho que cheguei a passar dos 200 quilos.

Decidi que o dia do meu aniversário, em janeiro de 2015, seria a data da mudança. Nesse momento, estava com 194 quilos e confesso que procurei a maneira mais 'fácil' de emagrecer que era a cirurgia bariátrica. Porém, a médica alertou que seria necessário emagrecer ao menos 15 quilos para operar.

Por 45 dias, tomei um medicamento para me auxiliar. Foi horrível! Afetou muito meu humor e perdi muito cabelo. Não tinha apetite e, de fato, emagreci. Foram 20 quilos após um mês de tratamento, mas o preço era alto demais. Me animei e desisti da cirurgia, pensei: 'Se consegui emagrecer tanto, vou conseguir ainda mais e usando dessa vez a minha força'. A médica suspendeu o remédio e me encaminhou para uma nutricionista.

Reeduquei minha alimentação, procurei uma psicóloga e um personal trainer para me dar força e apoio nessa transformação. Como tinha mobilidade reduzida por causa do peso, por quatro meses fiz dieta e caminhada de quatro a cinco vezes por semana. Tinha muita vergonha, já que nenhuma roupa esportiva me servia. Quando cheguei aos 160 quilos, me senti mais confiante, me matriculei em uma academia e iniciei os treinos de força.

Descobri no esporte a força para ficar em paz

Gustavo Victor - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal
Em maio de 2016, pesando 135 quilos, comecei a correr e me descobri apaixonado por esse esporte! A cada quilometro percorrido, sentia mais paz ao refletir sobre minhas questões pessoais. Conheci os grupos de corrida e fiz novas amizades que deram ainda mais vontade de treinar junto. Quem diria que eu conseguiria correr uma meia maratona? Em julho de 2017, completei minha primeira prova.

Hoje, com 94 quilos, meu foco é força e ganho de massa muscular para dar conta das corridas. É muito complicado, psicologicamente falando, ver os números da balança aumentarem e não associar diretamente com gordura, já que é o peso dos músculos aparecendo...

Acordo todo dia 4h40 da manhã para chegar às 6h na academia e treino sete vezes por semana. Conciliar a vida social é uma barreira, mas encaro como uma consequência de mudar o estilo de vida. Sigo no foco do meu próximo objetivo: fazer mais meias maratonas e, em janeiro de 2019, disputar a maratona da Disney, nos Estados Unidos.

‘Acredite na força dos seus pensamentos’ é algo que sempre digo quando me perguntam como perder peso ou chegar mais longe nos objetivos. A força da mudança vem de dentro, não adianta ninguém te dizer o que fazer. Até brinco que odiava salada e legumes com todas as minhas forças. E o foco me fez insistir tanto que, hoje em dia, não vivo sem.