Bem mais que nove meses: ser mãe é esperar eternamente
Ser mãe é um eterno esperar. Começa antes de engravidar, quando você ansiosamente aguarda a menstruação (não) vir. Depois disso, é impressionante como a gente passa nove meses segurando uma criança na barriga e não aprende nada sobre espera. Uma fome eterna, um choro entalado. Uma TPM que não tem fim. As amigas garantem: vai passar.
Chega ao final desse período, você está enorme e surtada rezando para nossa senhora do bom parto que chegue logo o momento. Ou rezando para que demore mais um pouquinho (aconteceu comigo, ué, imagina se nasce bem na semana do carnaval?). A gente espera algo o tempo todo.
Aí finalmente chega a tal hora. Você passa dez horas pedindo para aquilo acabar logo e a criança nascer (ou não, desencana, vamos esquecer esse assunto, pode ficar aí mesmo, só para de doer, pelo amor de Deus). As contrações duram 50 segundos que parecem eternos ("aceita a dor", dizia minha doula querida, "ela vai passar", e eu a fuzilava com o olhar).
É um tal de "vai passar" que não acaba mais. A dor do leite descendo. Vai passar. A dor dos pontos. Vai passar. Aquela maluquice que é o puerpério. Vai passar. O acordar de hora em hora pra mamar. O umbigo cair. O bico rachado. Vai passar, vai passar, vai passar.
Sua vida virou um eternamente esperar alguma coisa acontecer. Próximo passoooo! "Quando der quatro meses fica mais fácil", diz alguém. "Quando começar a comer, dorme melhor", outra pessoa fala. "Quando for para a escolinha, fica mais sociável", um ser humano que você nem conhece faz questão de aconselhar. Quando, quando, quando.
E tem o turbilhão de perguntas do "já". Já engatinhou? Já nasceu o dente? Já está andando? Já falou alguma coisa? Já passou no vestibular, está dirigindo, arrumou emprego, casou etc. E você lá, olhando para aquela coisinha fofa e pensando que "ainda não" para muita coisa, mas já é tanto esse pouquinho que está vivendo agora…
Sei bem pouco da vida, mas se eu pudesse dar um conselho seria: desencana do "daqui a pouco". Os três meses do puerpério parecem uma vida inteira e quando chega finalmente o quarto mês, tudo continua bem diferente do que era antes de engravidar. Aceita o agora. O dente vai aparecer um mês ou outro, não dá para saber quando vai ser o do seu filho. Ele vai falar qualquer hora dessas. Ele vai aprender a ler. Ele vai casar e você terá netos (talvez). Essa agonia não vai adiantar as coisas. Agonia nenhuma adianta nada, aliás.
Se eu pudesse voltar no tempo, eu diria pra mim mesma grávida: aceita o agora, porque daqui a pouco é daqui a muito tempo e essa ansiedade do "ainda não" não vale nada. E o agora, esse exato momento, particularmente essa soneca de 20 minutos que ele está dando enquanto esfrega o cobertorzinho no nariz, não tem depois. Mas eu não iria acreditar porque estaria ansiosa demais esperando. Ou não iria sequer ouvir porque estaria com a cara enfiada dentro de um pote de sorvete. Que saudade de tomar um pote inteiro de sorvete, aliás!
A gente espera tanto o "isso passa" que quando realmente passa vira um "que saudade" danada de um tempo gostoso que não volta mais.
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