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Paola Machado

Dor na parte interna do joelho? Pode ser tendinite de pata de ganso

Paola Machado

01/05/2019 04h00

Crédito: iStock

Incômodos no joelho são uma queixa muito comum. Pode ser uma dor ou até um desconforto na região interna dos joelhos ao subir ou descer escadas e ladeiras, ou simplesmente ao dobrar os joelhos ou levantar-se de uma cadeira.

Existem vários diagnósticos para essa dor, entre eles, a tendinite da pata de ganso. Este é o local onde se encontram os tendões de três músculos da região interna do joelho: o sartório, o grácil e o semitendinoso, que são músculos responsáveis pela flexão (dobrar) do joelho e que auxiliam na rotação da tíbia, protegendo contra o estresse em valgo, isto é, o "joelhos em X".

De uma forma bem didática, é importante entender que a musculatura é responsável por "segurar" as articulações do corpo, ou seja, juntamente com os tendões e ligamentos, a musculatura estabiliza sua respectiva articulação.

Quando fadigada ou cansada, a musculatura deixa de "segurar" a articulação, que passa a ser realizar o papel do músculo –no papel de segurar a articulação, claro. Assim, por exemplo nos joelhos, se a musculatura do quadríceps e bíceps (coxa) estiver desequilibrada, aumenta-se o risco de lesão de menisco, cartilagem e até de ligamentos.

O que pode causar a tendinite?

  • Fraqueza e encurtamento muscular
  • Sobrecarga muscular (esforço maior do que o músculo está preparado)
  • Degeneração do tendão e/ou artrose
  • Repetições exageradas de um movimento
  • Traumas locais
  • Joelhos em valgo
  • Instabilidades dos ligamentos colaterais
  • Obesidade
  • Diabete (hoje já existem muitos estudos correlacionando a doença com maior prevalência deste tipo de tendinite)

Evite os fatores de risco

A prevenção é tão importante quanto o tratamento. Estudos realizados nos últimos anos têm mostrado que o hábito de se exercitar vem crescendo e com isso os riscos de lesões também se elevam.

Nos mais jovens, os riscos estão associados ao osso em fase de crescimento, já nos mais idosos podemos relacionar às lesões degenerativas articulares, musculares e nos tendões. Isso porque consideramos que a partir dos 30 anos a musculatura, os ligamentos e o alongamento tendem a declinar e após os 50 anos a resistência e capacidade óssea também estão diminuídas.

Claro que tudo depende das condições individuais de cada um. Não podemos generalizar as informações, cada pessoa apresenta uma condição física diferente.

Nível de atividade física, fatores somáticos (idade, estatura, peso corporal, sexo, estado de saúde físico e emocional), nutrição (hábitos alimentares como ingesta de álcool) e se a pessoa é fumante ou não influenciam nos riscos de lesões.

Como tratar?

O ideal é que seja feito repouso e fisioterapia associada ou não à medicação, tudo indicado pelo médico.

Na fisioterapia devem ser priorizados os recursos anti-inflamatórios, como ultrassom e laser; as correntes analgésicas; alongamentos; exercícios de fortalecimento muscular, principalmente de quadríceps, bíceps femoral e glúteos com foco em resistência (mais repetições e menos carga) e a crioterapia (o bom e velho, gelo! – lembre-se da técnica PRICE).

Outras terapias como a acupuntura e liberação miofascial são sempre válidas, e todas os demais recursos da fisioterapia que auxiliam no manejo da dor e do processo inflamatório.

Prevenir é sempre melhor do que remediar

Nossas atitudes diárias influenciarão diretamente o nosso organismo em um curto período de tempo, portanto a grande chave está na prevenção.

Um dos principais quesitos para é a avaliação dos fatores que podem gerar o quadro inflamatório/lesivo. Muitas vezes a causa tem correlação direta com a sua biomecânica (joelhos em "X", por exemplo), portanto o planejamento dos exercícios de fortalecimento muscular e alongamentos deve ser sempre elaborado por profissionais especializados.

Além disso, o acompanhamento com uma equipe interdisciplinar é de grande valia –médico, educador físico, fisioterapeuta, nutricionista e psicólogo trabalhando juntos podem levar ao sucesso do tratamento.

*Colaboração de Renata Luri, fisioterapeuta e doutora em ciências da saúde pela Unifesp; e Pedro Sasaki, doutor pela Unifesp e fisioterapeuta do HCor.

Referências:
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Carrillo-Esper R, Zepeda-Mendoza AD, Pérez-Calatayud A, Díaz-Carrillo A, Peña-Pérez C, RiveroMartínez JA. Bursitis anserina. Rev Invest Med Sur Mex. 2014; 21 (2): 77-80.

Sobre a autora

Paola Machado é fisiologista do exercício, formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício e imunologia) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias - Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Sobre a coluna

Aqui eu compartilharei conteúdo sobre exercício e alimentação para ajudar você a encontrar o caminho para um estilo de vida mais saudável. Os textos são cientificamente embasados e selecionados da melhor forma possível, sempre para auxiliar no seu bem-estar. Mas, lembre-se: a informação profissional é só o primeiro passo da sua nova jornada. O restante do percurso depende 100% de você e da sua motivação para alcançar seu objetivo.