Topo

Moda sustentável: brechós conscientes são nova aposta na hora das compras

Marcelly e Juliana Alberto, fundadoras da Lojinha do Bem - Divulgação
Marcelly e Juliana Alberto, fundadoras da Lojinha do Bem Imagem: Divulgação

Laura Reif

Colaboração para Universa

11/01/2019 04h00

Depois da onda dos brechós dos últimos anos, uma das tendências para 2019 é a moda sustentável. E não faltam ideias para um consumo de moda mais ecológico e humano. É superfácil encontrar brechós online no Instagram -- basta seguir um ou dois que as sugestões com mais páginas não param de brotar na tela do seu celular. Mas o consumo consciente vai além de vender peças usadas na internet por preços acessíveis. Tem gente que criou iniciativas ainda mais sustentáveis.

É o caso da produtora de moda Juliana Alberto, 24, uma das fundadoras da Lojinha do Bem. Ela e uma prima, a profissional de marketing Marcelly Alberto, promovem bazares em São Paulo e vendem roupas usadas online, mas só trabalham com doações.

"A questão é dar um novo propósito às peças. Uma roupa nova precisa de muitos recursos para ser produzida. A indústria têxtil é uma das maiores geradoras de poluentes, e a maneira como sua cadeia de produção funciona raramente é transparente", pontua Juliana. Recentemente, a marca paulistana Amíssima foi condenada por manter duas oficinas com trabalhos análogos à escravidão.

De olho nos impactos

Por fazer parte de uma mudança de comportamento, a preocupação com os impactos sociais e ambientais do consumo, especialmente na moda, ainda não está na cabeça da maior parte das pessoas. Diminuir a quantidade de compras, no entanto, é essencial para reduzir os danos. De acordo com relatório de 2017 da Fundação Ellen MacArthur, a produção de roupas quase dobrou nos últimos 15 anos e a demanda continua crescendo.

Menos de 1% de todo o material é reciclado e dá origem a novas peças, o que contribui para o aumento da poluição. De acordo com a fundação, são gastos 93 bilhões de metros cúbicos de água por ano na produção de têxteis e a indústria da moda gera 1,2 bilhão de toneladas de emissões de gases que causam efeito estufa anualmente.

Renda revertida

Além de reduzir o impacto ambiental, já que as roupas doadas ganham novos donos, a Lojinha do Bem destina sua renda a instituições de caridade. "Nos Estados Unidos, existem várias thrift shops, que são brechós superbaratos, cuja renda normalmente vai para caridade", explica Juliana. No exterior, essas lojas são populares por venderem não só roupas, mas até móveis usados, para quem busca alternativas de consumo mais baratas e ecológicas.

A Lojinha do Bem já trabalhou com o Projeto Quixote e com a Gerando Falcões. A próxima doação será para ONG Reviva, com a qual fizeram parceria em 2018 e que acabou de inaugurar uma casa colaborativa em São Paulo. As organizações beneficiadas, segundo Juliana, devem trabalhar pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas).

Outra loja que também beneficia ONGs é a Repassa. A lista é longa: Adote um Gatinho, Patas, Mães da Sé, GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), GIV (Pessoas Vivendo com HIV/AIDS), entre outras, já foram atendidas.

Funciona assim: você compra uma Sacola do Bem -- uma embalagem plástica resistente e personalizada que é enviada para sua casa -- por cerca de R$ 25. Nela, você envia as roupas que não quer mais, sem custo adicional, para que sejam vendidas no site.

A equipe monta sua lojinha online e você pode optar pelo repasse solidário. O usuário fica com parte dos lucros das vendas: de 25% a 100% do valor das peças podem ser doados para uma ONG de sua escolha. As peças que não passarem na seleção para venda são doadas.

Peças repaginadas

Ana Carolina Sanches, do Rejeitados - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Ana Carolina Sanches, do Rejeitados
Imagem: Arquivo Pessoal

A estilista Ana Carolina Sanches, 32, também abriu um brechó sustentável, o Rejeitados, em 2017, com vendas por meio do Instagram. Ela trabalha sozinha e a loja funciona como um complemento de renda para a estilista, que aproveita para dar um ar único para as roupas que são passadas a ela, em consignação.

"Geralmente, customizo camisetas e moletons. Às vezes são peças novas, às vezes são usadas, que encontro em bazar e julgo que 'falta alguma coisinha'", conta. Ela, que é estilista há 12 anos, concorda que faltam opções sustentáveis de moda. "Hoje não compro nenhuma peça. Tudo que vendo deixam comigo em consignado. Acredito que todo mundo tem muita coisa boa que dá para girar por aí sem precisar fomentar grandes lojas", diz.