Topo

Débora Miranda

"Eu, Tonya" e seis motivos por que o feminismo é essencial

Débora Miranda

16/02/2018 05h00

Um dos filmes mais comentados do Oscar chegou ao Brasil nesta semana, em poucas salas de cinema, quase que de forma discreta. Apesar de ter apenas três indicações (melhor atriz para Margot Robbie, melhor atriz coadjuvante para a maravilhosa Allison Janney e melhor edição), "Eu, Tonya" foi bastante discutido por recontar a polêmica história da patinadora artística Tonya Harding.

(Divulgação)

Apesar do gigante talento para o esporte e de ter sido a primeira americana a conseguir realizar o até então inatingível salto "triple axel", ela ficou mais conhecida por seu envolvimento no ataque a uma outra patinadora, Nancy Kerrigan, que era sua maior rival nas pistas de gelo, nos anos 1990.

Década das calças "baggy", das franjas repicadas e da maquiagem colorida, os anos 1990 foram bem mais dramáticos do que apenas uma época de gosto duvidoso. Especialmente para as mulheres. Nada de Time's Up nem de Mexeu com uma Mexeu com Todas. "Eu, Tonya" escancara isso, em forma de assédio, violência doméstica, preconceito, machismo e tantos outros absurdos, hoje combatidos numa luta incessante para que sejam, de uma vez por todas, extintos.

Veja seis situações vividas por Tonya Harding que mostram por que o feminismo é essencial:

  1. Violência doméstica

Tonya Harding sofria, em sua casa, violência física e psicológica. Apanhava constantemente da mãe, LaVona Golden, uma mulher que, segundo o filme, era cruel e agressiva, ofendia a filha, falava palavrões, atacava sua autoestima e a pressionava de formas variadas. Em uma das cenas, ela lança uma faca no braço da jovem. Em outra, chuta a cadeira em que ela está sentada, derrubando-a no chão. Várias pessoas testemunham os casos de violência, mas não fazem nada. A história tem várias versões, mas comenta-se que a única que chegou a pedir que LaVona parasse foi a técnica de Tonya.

  1. Assédio sexual

O meio-irmão de Tonya tentou diversas vezes abusar dela em casa, sem que ninguém da família –totalmente desestruturada– interferisse. Ela, por sorte, conseguiu reagir e fugir várias vezes, batendo nele com o que encontrasse no caminho.

  1. Agressão por parte do marido

Depois de passar a infância e a adolescência apanhando da mãe, Tonya se casou com Jeff Gillooly, que logo começou agredi-la. Segundo o filme, ele batia nela com frequência durante as discussões do casal. Tonya saiu de casa várias vezes, mas mantinha com ele uma relação de idas e vindas. Após a separação definitiva, chegou a acusá-lo publicamente de tê-la estuprado, o que ele negou.

  1. Preconceito

Tonya não se encaixava no perfil angelical que os juízes da patinação esperavam dela e sofreu muito por conta disso. Gostava de se apresentar ao som de música pop, o que causava estranhamento, e fazia ela própria suas roupas, que não chegavam perto da sofisticação e da elegância dos modelos usados por suas rivais. A dificuldade de se encaixar em estereótipos e o fato de os americanos a desprezarem por seu visual fizeram com que ela recebesse notas baixas repetidas vezes, mesmo diante de sua habilidade para o esporte. E, apesar de não ser mostrado no filme, Nancy Kerrigan também passou maus bocados com o preconceito, mas em situação oposta. Também de origem humilde, mantinha uma pose de princesa que rendeu a ela rótulos, apelidos maldosos e estigmas que carregou por toda a vida pública.

  1. Imprensa

A imprensa americana nos anos 1990 era CRUEL e tinha sede de sangue. Amava um escândalo e fazia com que ele rendesse semanas a fio. No filme, é mostrada a concentração dos jornalistas em frente à casa de Tonya, da de seu marido e também da de sua mãe, após o episódios com Nancy. A certa altura, Tonya sai correndo em meios aos repórteres para tentar impedir que seu carro seja guinchado. E um jornalista admite que furava os pneus do veículo e pedia o guinchamento, pois precisava que ela saísse de casa para fazer uma foto. Tanto Tonya quanto Nancy sofreram nas mãos da imprensa, misógina e destrutiva.

  1. Falta de sororidade

Para quem ainda não está familiarizado com o termo, sororidade significa a união entre mulheres, baseada na empatia e no companheirismo, em busca de objetivos comuns. Trata-se da aliança superando a rivalidade –valor importante do feminismo moderno, mas que, nos anos 1990, suspeito que nem existisse. Assim, Tonya e Nancy assumiram que eram mais do que adversárias dentro dos ringues de patinação e se tornaram, talvez até encorajadas pelo clima externo, inimigas de fato. Atualmente, as mulheres vêm incentivando cada vez mais que as disputas esportivas se restrinjam a campos, quadras e ringues. Apenas. Fora desses locais, a parceria é importante para que todas tenham as melhores e mais justas condições, não só no esporte, mas na vida. E para que cada vez mais situações como essas não se repitam.

Veja o trailer:

Sobre a autora

Débora Miranda é jornalista e editora do UOL. Apaixonada por cultura. Acredita no poder transformador do esporte. Ginástica olímpica na infância. Pilates, corrida e krav maga na vida adulta. Futebol desde sempre. Corinthians até o fim.

Sobre o blog

Espaço para as histórias das mulheres no esporte, mostrando como a atividade física pode transformar vidas e o mundo. A ideia é reunir depoimentos sobre determinação, superação e empoderamento. Acima de tudo, motivar umas às outras. Vamos juntas?