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Luciana Bugni

2018 e a gente ainda precisa mesmo trabalhar oito horas por dia?

Luciana Bugni

08/12/2017 08h00

Você prefere mandar um e-mail para seu chefe ou dançar com o Drake? (Foto: Reprodução)

 

Nunca entendi muito bem o conceito de bater ponto. Aquela fila de pessoas numa maquininha do século passado (ou retrasado?) esperando dar 17h para apertar um botão que vai libertá-las do trabalho… não parece algo muito arcaico? Qual o problema de a pessoa sair cinco minutos, ou sei lá, meia hora antes porque é aniversário da sogra naquele dia? Ou chegar 40 minutos depois do horário porque estava… transando? Gente que faz sexo melhora a produtividade, dizem as pesquisas. Chegar depois por esse motivo é até interessante para a empresa. Estou exagerando? Quem disse que é obrigatório passar oito horas por dia no trabalho?

Eu sei, eu sei. Tem gente que é braço curto, fica no serviço fazendo hora e, se não tiver esse controle, aí que avacalha de vez. Eu sei que tem gente desonesta que acha que trabalhar menos e deixar o colega sobrecarregado é a maior das espertezas. Mas para mim isso diz muito mais sobre ser confiável do que sobre produtividade em si. Se todos fossem honestos, como se espera que sejam, há necessidade de obrigar todos os funcionários a trabalhar o mesmo número de horas por dia? E mesmo sendo obrigado a ficar lá oito horas por dia… quem garante que o cara não passe o dia no Facebook e WhatsApp escondido?

Outro dia estava no carro, ouvindo Drake. Embiquei na garagem do trabalho animadona, Drake ali me dizendo que precisava de one more dance. Olhei no relógio; estava na hora de entrar. Imagina o drama de negar uma dança para o Drake? Só iria durar três minutos! Pois eu neguei. Disse não para o Drake e fui lá mandar e-mail, dar bom dia para o chefe, pegar café. É justo um negócio desses?

Quando entrei no jornal, a internet já existia. Mas os computadores só tinham DOS, aquela tela preta escrita em verde, lembra? Sem mouse. Só havia um computador com Windows por editoria, onde ficava um e-mail (cada profissional ter seu próprio e-mail era algo bem distante). Esse computador era à manivela, tinha uma fila para mandar e-mails e as coisas eram muito mais rápidas por telefone. A editora perguntava: "mas que cor era a roupa com que a cantora entrou no palco?" Repórter ligava para a assessoria de imprensa da cantora e consultava antes de responder. Conseguir o telefone de alguém podia demorar cinco ou mais ligações. As fotos eram feitas com filme. Precisava esperar revelar para ver a cor do vestido de um artista. Isso demandava tempo.

Hoje, se um editor perguntar para um repórter que cor era uma roupa, ele coloca no Google e recebe milhares de fotos da ocasião imediatamente. As fotos ficam prontas no momento em que são tiradas. Em vez de ligar para alguém, podemos mandar WhatsApp, e-mail, direct… E as respostas chegam muito mais rápido. Faz sentido, com tanta tecnologia, que tenhamos que trabalhar as mesmas horas que trabalhávamos há 20 anos?

E eu não estou falando de ganhar menos para trabalhar menos horas, não. Estou falando de ganhar igual, para trabalhar igual, mas em menos tempo. Não seria importante pensar nisso?

De novo: eu sei, eu sei. As equipes foram enxugadas nos últimos anos de crise e quem restou tem muito mais trabalho do que duas décadas atrás. Mas isso é um outro assunto. Sei também que não ter o controle de horas pode fazer com que as pessoas corram para entregar tudo em 30 minutos e façam o serviço mal feito para ir… à praia. E, lógico, há os empregos de atendimento. Se a recepção de um lugar funciona das 8h às 18h, é fundamental que haja alguém ali esse tempo todo para receber as pessoas. Mas há tantas outras funções em que a produtividade podia ser medida pela demanda de trabalho (não ultrapassando as 8h da lei, claro) e pelo bom senso…

O que vocês acham?

Sobre a autora

Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni

Sobre o Blog

Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.