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A fascinante vida de Anne Lister, a "primeira lésbica moderna"

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Imagem: Getty Images

Rebecca Woods

Da BBC News

19/05/2019 10h28

A britânica não combinava com as convenções da Inglaterra do século 19 - foi empresária, se aventurou na política e dividiu a vida 'conjugal' com uma mulher antes mesmo de a palavra 'lésbica' ser cunhada.

Ajoelhadas lado a lado sob os arcos medievais de uma pequena igreja, duas mulheres inclinam a cabeça para rezar. Rodeadas pelas chamas tremulantes de velas, elas selam assim seu matrimônio.

O ano era 1834. A homossexualidade era proibida no Reino Unido, e a palavra "lésbica" ainda não havia sido cunhada.

Mas Anne Lister, uma das protagonistas da cena, não combinava com as convenções da Inglaterra do século 19. Foi empresária, alpinista nas horas vagas e se aventurou na política.

Os detalhes de sua vida amorosa, registrados detalhadamente por meio de um código engenhoso em uma série de diários, levaram décadas para serem conhecidos. Uma vez públicos, eles mudaram a forma como se via a história do lesbianismo.

Os diários

Vestida de preto da cabeça aos pés, com roupas pesadas inclusive no verão, Lister era conhecida da Halifax do século 19. Os trejeitos de menino que exibia pelas ruas de paralelepípedos da cidade na zona rural do condado de Yorkshire eram motivo de chacota e comentários maldosos.

Os homens a pediam muitas vezes em casamento de forma jocosa quando ela passava. Outros mandavam cartas anônimas tirando sarro de sua aparência. Um chegou a colocar um falso anúncio em seu nome no jornal Leeds Mercury em busca de um pretendente. Também lhe deram um apelido cruel: "Gentleman Jack".

Ela dificilmente se deixava abalar. "As pessoas geralmente comentam, quando eu passo, o quanto me pareço com um homem", escreveu em seu diário, um ritual ao qual se dedicava todos os dias.

Desde pequena, Lister era diferente. Nascida em 1791, ela disse ter se tornado ainda cedo uma "mulher macho incontrolável", enviada a um internato aos 7 anos por sua mãe.

As professoras temiam que ela influenciasse as outras alunas com seu comportamento rebelde e, por isso, a confinaram em um quarto no sótão, onde vivia em quase total isolamento.

O diário virou seu confidente. Sentindo-se sozinha em um mundo no qual não se encaixava, derramou seus pensamentos mais profundos nos cadernos. Sua personalidade obsessiva não deixava passar batido nenhum detalhe: da hora em que acordava a quantas horas dormia, as cartas que recebia, o que comia, como estava o tempo.

Tudo o que aprendia também ia parar nas páginas do diário: grego, álgebra, francês, matemática, geologia, astronomia e filosofia. Lister era dona de uma inteligência voraz e, em uma era em que as mulheres eram excluídas das universidades, estava decidida a aprender tudo o que um homem poderia aprender. Ela também registrava detalhadamente suas aventuras amorosas.

A invenção do código

Sua primeira experiência sexual foi com uma colega, Eliza Raine, com quem dividia o sótão do internato. Filha ilegítima de um cirurgião inglês, a moça também era uma espécie de pária social. Com 15 anos, as duas jovens engataram um romance em segredo bem debaixo do nariz dos professores.

Em seus respectivos diários, ambas escreviam "felix", palavra que significa "feliz" em latim, para registrar os encontros sexuais. Lister ia além e tecia mais detalhes, usando um código com elementos do grego e do latim, símbolos matemáticos, elementos de pontuação e do zodíaco para disfarçar seus sentimentos mais íntimos. Daquela forma, acreditava, seriam completamente indecifráveis.

Ainda que estivesse apaixonada, tinha também um lado calculista e implacável, alimentado pelo sonho de um dia ser rica. O romance com Raine - que, no futuro, herdaria uma fortuna - também era um investimento, uma possibilidade de ela desfrutar da vida da alta sociedade sem ter de se casar com um homem.

Com o tempo, entretanto, ela foi se sentindo mais segura em relação à sua sexualidade - sua "peculiaridade", como escrevia - e decidiu colocar fim no relacionamento. Raine caiu em depressão profunda e, anos depois, foi parar em um manicômio. "Você não sabe a dor que me causou", escreveu a jovem, desconsolada.

O sentimento de culpa não impediu Lister de se apaixonar de novo, desta vez por Mariana Belcombe, filha de um médico da cidade. Ela seria um de seus grandes amores, com quem viveria uma história de quase 20 anos que também terminaria com um coração partido.

Múltiplas aventuras

À primeira vista, Lister era uma jovem inteligente e respeitável que passava boa parte de seu tempo livre estudando. Longe dos livros, ela gostava dos passeios e dos chás da tarde com as amigas endinheiradas, a fachada ideal para suas aventuras sexuais.

Sua "peculiaridade" a intrigava: folheava em vão livros de anatomia na tentativa de compreender de onde vinham seus sentimentos. À medida que foi conhecendo melhor sua sexualidade, entretanto, não havia espaço para sentimento de culpa ou de inferioridade. Seus sentimentos eram naturais, acreditava, e seu direito, divino.

As mulheres com quem se relacionava, ainda que muitas vezes ficassem confusas sobre o que sentiam, eram cativadas por ela. Antes de Belcombe, Lister teve várias parceiras.

Seu grande amor

Lister se apaixonou perdidamente pela jovem de 21 anos da alta sociedade de York. Durante anos, viajaram dezenas de quilômetros a cavalo e de carruagem entre York e Halifax para se verem. Quando estavam separadas, se escreviam a cada poucos dias. Chegaram a trocar aneis como sinal de compromisso. Tudo, claro, às escondidas.

A amizade mais íntima entre mulheres não era incomum naquela época. Pais e mães, com medo de uma gravidez antes do casamento, incentivavam as moças a se aproximarem umas das outras.

Lister não levava em conta as expectativas da sociedade. Queria tudo o que um homem poderia ter, inclusive uma esposa - e, por isso, começou a alimentar esperanças de que poderia construir um futuro com sua amante.

Em 1815, entretanto, Belcombe fez um anúncio dramático: tinha aceitado se casar com um viúvo rico. Lister assistiu à cerimônia, angustiada, em uma igreja em York. Mas algo ainda pior estava por acontecer.

Era comum na época que as amigas acompanhassem os noivos na lua de mel - e foi assim que ela embarcou para a viagem de núpcias do casal com duas irmãs da noiva.

De volta, retomou as aventuras com as mulheres de Yorkshire, entre elas a irmã mais velha de Belcombe, e registrou no diário toda a dor causada pelos acontecimentos mais recentes.

Um ano depois, Lister e Belcombe se encontraram novamente. Belcombe estava com dor de dente e usou isso como pretexto para levar Lister para seu quarto. Recomeçaram, assim, o relacionamento, que perdurou por anos entre encontros clandestinos e cartas apaixonadas.

Lister se encontrava com outras mulheres, enquanto a companheira se refugiava em sua mansão em Cheshire.

"Fizemos amor", escreveu Lister depois de uma noita juntas. "Ela me pediu que fosse fiel, disse que nos considera casadas. Agora vou passar a pensar e agir como se ela fosse minha esposa." Suas esperanças foram, entretanto, novamente frustradas.

A segunda paixão: as viagens

Para se afastar de Yorkshire e de Belcombe, em 1824, Lister decide ir a Paris para aprender francês, mergulhar na cultura local e, se desse sorte, conhecer uma mulher rica e sofisticada. Sentia-se em casa na capital francesa. O ambiente relaxado deixou-a mais à vontade para viver sua sexualidade, e ela não perdeu tempo.

Maria Barlow não era exatamente a dama da alta sociedade que Lister gostaria que fosse, mas ela se apaixonou mesmo assim. Nos diários, passou a descrever suas relações sexuais com mais detalhes do que antes. "Tremiam os músculos, os joelhos, minha respiração", lê-se em uma das passagens. As duas viveram um romance ardente até Lister se entendiar e voltar a Yorkshire sem olhar para trás.

Os oito meses em Paris, contudo, despertaram nela a paixão por viajar, o que a levaria a explorar mais de uma dezena de países nos 15 anos seguintes. As viagens satisfaziam uma ambição que crescia desde a infância: ver com seus próprios olhos os lugares sobre os quais tinha lido.

Nem a morte de seu amado tio James, que deixou para ela como herança a histórica casa Shibden Hall, foi suficiente para mantê-la no mesmo lugar.

Shibden: seu lar

De volta a Halifax, Lister novamente passou a circular entre a alta sociedade de York depois que uma amiga a apresentou a um grupo de aristocratas.

Lister sempre sentiu que aquele era seu habitat natural, um mundo sofisticado no qual havia lugar para sua sagacidade e sebedoria. Apesar de os Lister serem, de forma geral, um clã abastado, sua família direta era relativamente pobre.

Uma das mulheres que conheceu nessa época foi Vere Hobart, irmã do conde de Buckinghamshire. Juntas, elas viajaram a Paris e emendaram uma temporada na cidade costeira de Hastings, no sul da Inglaterra, onde passaram cinco meses. Lister pensava ter encontrado a mulher que realizaria seus sonhos românticos.

Hobart tinha a aparência, o berço e o patrimônio com os quais há anos ela sonhava. Mais uma vez, porém, a sociedade e suas expectativas prevaleceram, e a amante acabou aceitando se casar com um oficial do Exército. Com o coração partido e envergonhada, Lister chorou durante dias.

Sem dinheiro, escreveu no diário: "Meus planos de fazer parte da alta sociedade fracassaram. Realizei alguns caprichos, tentei, e me custou um preço alto". Decidiu então retornar a Shibden Hall e, pela primeira vez em anos, ficar por ali. "Aqui estou eu, com 41 anos e um coração por encontrar. Qual vai ser o desfecho?"

Empresária

A casa medieval Shibden Hall pertencia à família Lister havia mais de 200 anos. Ficava escondida atrás de uma colina, com sua fachada em branco e preto e uma infinidade de cômodos pouco iluminados.

Parte da raiva pela desilusão amorosa foi canalizada contra o imóvel, localizado na zona rural. Para ela, Shibden estava em péssimo estado de conservação. Depois de uma década circulando pelas mansões de ricos e nobres, queria uma casa maior e com jardins bem cuidados.

Foi desenvolvendo apreço pelo lugar com o tempo, especialmente depois de ver no complexo uma boa oportunidade de negócio. Diante do boom industrial de Halifax e do aumento da demanda por carvão, Lister resolveu expandir as minas de Shibden.

A determinação e praticidade a diferenciavam de outras mulheres que administravam seus patrimônios. Bateu de frente com os homens que comandavam o mercado local de carvão, que rapidamente perceberam nela um tino para negócios.

"Fui mais feliz aqui do que em qualquer outro lugar", escreveu ela em seu diário, com passaram a ser recheados com detalhes das operações envolvendo a propriedade. Mas, em meio a referências de horticultura e paisagismo, outro nome feminino passou a aparecer entre os registros.

Um novo amor

Com 29 anos, a tímida Ann Walker era herdeira de uma propriedade na região. As duas se conheceram muito tempo antes, quando Lister tinha 20 e poucos anos e Walker era apenas adolescente.

Uma semana depois do reencontro, Lister já as imaginava juntas. Assim como no passado, a fortuna da jovem herdeira era parte da atração. Ela esperava que os patrimônios de ambas, uma vez combinados, fossem suficientes para concluir seus planos para Shibden e permitir que elas continuassem viajando.

Passaram a se encontrar em uma casinha isolada no próprio terreno de Shibden, construída por Lister para que tivesse mais privacidade. Poucas semanas depois dos primeiros encontros, a relação já era íntima.

Sua vida amorosa entrava em colisão direta com a sociedade na qual estava inserida. Queria viver com uma mulher quando esse tipo de situação não tinha qualquer precedente.

Duas das ex-namoradas haviam decidido se casar com homens, algo que tinha mais a ver com a vontade de satisfazer as expectativas da sociedade do que com uma rejeição a Lister. Ainda assim, ela não se conformava.

Depois de poucos meses, deixou claras suas intenções para a nova parceira. Queria que vivessem juntas em Shibden, como duas pessoas casadas, e que compartilhassem suas propriedades e riquezas. Walker pediu seis meses para tomar uma decisão. Chegada a data, ela enviou uma carta: "Não consigo decidir".

Irritada, questionando o futuro da relação, Lister decidiu partir para Paris e, depois, Copenhague.

Meses depois, de volta a Halifax, Walker a esperava. Havia declinado um pedido de casamento - uma mensagem clara para ela. Aos 42 anos e depois de tantos anos buscando uma companheira, Lister estava finalmente a ponto de conseguir o que sempre quis.

As duas mudaram seus respectivos testamentos, fazendo uma usufrutária do patrimônio da outra. Lister resolveu contar à família sobre seus planos. Uma tia mais velha, o pai e sua irmã não se surpreenderam: todos haviam testemunhado sua proximidade com as mulheres ao longo da vida e apoiavam sua decisão. No diária, escreveu que haviam trocando alianças com Walker "como símbolo da nossa união".

Matrimônio

O "casamento" de Anne Lister e Ann Walker aconteceu na igreja Holy Trinity, em York, no domingo de Páscoa de 1834. O evento foi puramente simbólico: assistir à missa e tomar a comunhão era suficiente para Lister.

A partir dali, levaria a sério os valores de uma união tradicional. Seus dias de libertinagem haviam terminado. Belcombe, que havia continuado fazendo parte de sua vida e das viagens ao exterior, aceitou a derrota.

As "recém-casadas" embarcaram em uma lua de mel de três meses de viagem pela França e pela Suíça. Na volta, depois de um vai-e-vem de carros carregados de móveis entre as casas das duas, instalaram-se em Shibden. E a fofoca em Yorkshire correu solta: Anne Lister, que passara anos ouvindo provocações por parecer um homem, agora agia como tal.

Uma publicação no Leeds Mercury zombava do casal anunciando o matrimônio como sendo do "Capitão Tom Lister de Shibden Hall com a senhorita Ann Walker". Passaram a chegar cartas anônimas para o "Capitão Lister" felicitando o casal pela união.

A convivência não foi fácil. As duas tinham personalidades completamente diferentes. Lister administrava seu patrimônio e cada vez mais se envolvia na política local, enquanto sua mulher se sentia deixada de lado e, com frequência, se via triste.

Uma viagem final

Juntas, elas viajaram pela França, Rússia, pelo Cáucaso e pelos Pirineus - Lister praticava alpinismo. E foi no Cáucaso, em 1840, aos 49 anos, que ela faleceu. Acredita-se que uma picada de inseto foi responsável pela febre fatal.

Walker demorou oito longos meses para levar o corpo de esposa de volta para Halifax, viajando pelo norte da Europa com o caixão ao seu lado. Como estava previsto no testamento, ela herdou o patrimônio da companheira, Shibden inclusive.

Isso, entretanto, não durou muito tempo. Seus familiares, alegando que ela tinha problemas mentais, conseguiram que um médico, um advogado e a polícia entrassem em sua casa.

Foi encontrada encolhida atrás de uma porta, rodeada de papéis e com dois revólveres carregados. Ela foi para o mesmo manicômio para onde Eliza Raine, a primeira aventura de Lister, havia sido levada.

Decodificando os diários

A conservação dos diários de Anne Lister se deve em parte à companheira, que garantiu que os últimos volumes chegassem à Inglaterra sãos e salvos do Cáucaso. Foram precisos 150 anos, contudo, para que o mundo conhecesse o que eles guardavam.

Tudo começou por volta de 1890, quando, lendo à luz de velas em um dos muitos cômodos escuros de Shibden, John Lister contemplava as linhas com garranchos ininteligíveis que recheavam o caderno que tinha diante de si. O curioso código usado nos diários de sua antepassada sempre chamaram sua atenção. Naquela noite, ele estava decidido a decifrá-lo.

Para isso, pediu a ajuda de um amigo, o professor Arthur Burrell, que, depois de analisar alguns cadernos, estava confiante de que tinha conseguido codificar duas letras: "h" e "e". Algumas horas mais tarde, ambos conseguiram mergulhar no mundo que Lister registrara nos diários, inclusive as aventuras sexuais com as amigas. "Quase nenhuma escapou dela", recorda Burrell.

Sugeriu ao amigo que queimasse tudo para evitar um escândalo que macularia a imagem dos Lister. Ainda que estivesse boquiaberto com o conteúdo, que humilharia a família caso fosse divulgado, John não foi capaz de destruí-los. Escondeu os 26 volumes em uma estante secreta em Shibden, onde permaneceram até sua morte, em 1933.

Nos anos seguintes, quando a propriedade passou ao domínio do poder público, os diários foram descobertos e entregues à biblioteca de Halifax. Relutante por muitos anos, Arthur Burrell decidiu dividir o que sabia sobre o código secreto.

Um pequeno grupo de pesquisadores estudou as cartas e os diários. Um comitê do conselho da biblioteca exigiu acompanhar o trabalho para verificar a existência de qualquer "material inadequado". Os especialistas concordaram em manter sigilo do estudo.

Décadas depois, em 1982, Helena Whitbread, uma professora de 52 anos especialista em História, procurava um tema para um livro quando descobriu Anne Lister. Debruçou-se sobre o material na biblioteca, mas não conseguia decifrar os símbolos nos diários até uma funcionária lhe dar uma cópia do trabalho de decodificação de Arthur.

Desta vez, ninguém interferiu no trabalho. A pesquisadora levou para casa o diário de 1817 para começar a desvendar o mistério.

A primeira 'lésbica moderna'?

A compreensão moderna da história do lesbianismo, assim como as quatro décadas seguintes da vida de Whitbread, ficariam marcados pelo que a professora descobriria.

Foi um trabalho minucioso. Em 34 anos, Lister havia escrito 5 milhões de palavras em 26 volumes, com outros 14 diários de viagem. Aproximadamente um sexto do material havia sido registrado em código. Helena deu-se conta, por exemplo, de que "beijo" era código para sexo, enquanto "Q" com um laço denotava uma experiência sexual.

Depois de passar cinco anos detida nos diários escritos entre 1817 e 1824, ela publicou um livro no qual detalhava a intensa relação com de Lister com Belcombe e sua rede de amantes em todo o condado de Yorkshire.

O lançamento de I Know My Own Heart ("Conheço meu Próprio Coração", em tradução livre) em 1988 causou burburinho. Até então, não havia evidência de sexo entre mulheres no registro histórico. Os diários detalhavam um estilo de vida que muitos pensavam não ter existido no passado.

O comportamento de Lister mostrava não apenas que as mulheres a achavam atraente, mas também que o desejo sexual entre mulheres era muito mais comum do que se pensava. Os registros causaram tanto impacto que algumas pessoas chegaram a pensar que fossem mentira.

"Anne nos deixou esse registro volumoso, com o qual é difícil de trabalhar, mas nos disse muito sobre a vida lésbica no século 19", afirma a professora Caroline Gonda, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. "Ela nos conta sobre relações que não se encaixavam na ideia de amizade romântica desse período."

Um dos pontos cruciais da história é o fato de que Lister não estava sozinha. "Dizem que ela era exceção, mas Anne não era a única lésbica no povoado", acrescenta Gonda.

Hoje, uma placa em sua memória na igreja de Holy Trinity em York, local de seu matrimônio com Walker, a descreve como a "primeira lésbica moderna". A definição ainda está em debate, mas a importância de Anne Lister para a história do lesbianismo não pode ser questionada.