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Manual do flerte sem assédio: duas garotas juntas nem sempre são apenas amigas

Angélica Morango

06/07/2017 04h00

(Foto: Getty Images)

Outro dia saí do shopping e entrei num Uber. Um taxista parou ao lado. Tensão no ar! Nunca sei se as relações entre taxistas e motoristas particulares estão boas. Não entendi o que conversaram por uns dez segundos; mas aliviado e sorridente, o motorista virou-se para trás e me entregou um bilhete enviado pelo taxista.

Olá! Quem é você?
Me adicione ao seu WhatsApp.
…Vamos nos falar…
Pedro 99970XXXX
Se for comprometida,
MIL DESCULPAS!!!

Achei delicado, e, especialmente, não-invasivo.

Hoje em dia há muito melindre sobre esse assunto. Afinal, qual a diferença entre uma abordagem sutil e um assédio?

Um bilhete sem uma linguagem sexual é flerte. Se há palavras chulas ou provocativas, é assédio.

Se você está em um bar e dá umas piscadelas, envia um recado como o do Pedro, ou oferece uma bebida a alguém, é flerte. Se insiste, se aproxima, se encosta, senta à mesa sem receber um convite, é assédio.

Muitos casais de lésbicas se sentem constrangidas quando num bar ou restaurante convencional recebem bilhetes ou drinks de homens. Por outro lado entendo que, estando em um ambiente hétero, os homens não têm como adivinhar que duas mulheres sentadas juntas são um casal, e não apenas amigas. Por isso a educação e o bom senso devem estar presentes sempre, tanto na hora da paquera quanto da recusa. É uma questão de empatia e respeito.

E isso também vale pras mulheres que se interessarem homens que estiverem juntos, porque podem ser amigos ou namorados. Aqui a regra é a mesma: paquerar sem passar a mão, constranger ou intimidar.

Anos atrás passei por uma situação bem desagradável na inauguração de uma balada gay, inclusive. Um cara completamente bêbado e sem camisa agarrou e beijou o pescoço da minha namorada na época. Fui tirar satisfação e o bate-boca terminou com o segurança intervindo e expulsando o sem noção da casa noturna. A festa acabou pra ele, que ao ser repreendido ficou agressivo, e pra gente porque estragou o clima. O que era pra ser curtição virou tensão.

O problema não foi a presença de um hétero numa balada gay, porque não existe essa necessidade de segregação. As pessoas podem e devem se divertir juntas em qualquer ambiente, seja batendo o cabelo, seja na quermesse, porque o respeito não tem a ver com a condição sexual, demanda só bom senso.

Se interessou por alguém na balada? No metrô? Se apaixonou no busão de volta pra casa? "Faz tudo como se alguém te contemplasse", como diria Epicuro, um filósofo grego, há mais de dois mil anos. Demonstre com gentileza, com delicadeza.

No ambiente de trabalho a situação é mais complexa: independentemente da posição hierárquica, toda mensagem ou ligação com teor sexual e todo contato físico forçado é crime, punível com detenção e multa.

Não é difícil ser gentil e demonstrar interesse sem ser inconveniente, não é mesmo?!

Sobre a autora

Ana Angélica Martins Marques, a Morango, é mineira de Uberlândia, jornalista, fotógrafa e DJ. É também autora do livro de contos Quebrando o Aquário. Passou pela décima edição do Big Brother Brasil e só foi eliminada porque transformou o temido quarto branco no maior cabaré que você respeita. É vegetariana e cuida de três filhos felinos: Lua, Dylan e Mike.

Sobre o blog

Um espaço para falar de amor, sexo, comportamento feminino e feminismo com leveza e humor. Tudo sob o olhar de uma mulher esperta, que gosta de mulheres tão espertas quanto ela!