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Ex-ministra da Defesa do Japão luta sozinha por direitos LGBT

Tomomi Inada  - Getty Images
Tomomi Inada Imagem: Getty Images

Isabel Reynolds e Emi Nobuhiro

15/02/2019 15h31

Tomomi Inada não está tentando fazer com que o Japão legalize o casamento entre pessoas do mesmo sexo nem que proíba a discriminação contra cidadãos gays. A legisladora conservadora quer apenas "fomentar a compreensão" da problemática LGBT.

Mas até isso parece excessivo.

A ex-ministra da Defesa disse que não sabe se conseguirá aprovação para uma nova lei que busca maior tolerância a relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo devido à oposição de seus colegas do Partido Liberal Democrata (PLD). Membros do partido governante se opuseram publicamente a pedidos de mudança nos últimos meses, inclusive alertando que isso diminuiria a já anêmica taxa de natalidade.

"Houve quem me perguntasse se passei a ser de esquerda", disse Inada, executiva do PLD e assessora do primeiro-ministro Shinzo Abe. "É uma situação difícil para mim, mas acho que esta é uma questão de direitos humanos, não tem nada a ver com ser conservador ou liberal."

Enquanto outros países desenvolvidos, como EUA, Austrália e boa parte da Europa Ocidental, passaram a reconhecer o casamento homossexual, o tradicionalista Japão mal se imutou. Agora, grupos empresariais alertam que as políticas do país relativas à comunidade LGBT estão prejudicando a busca pelos melhores profissionais do mundo e ativistas argumentam que a situação pode causar constrangimento quando Tóquio for sede dos Jogos Olímpicos de 2020.

Um grupo de 13 casais do mesmo sexo entrou com um processo na quinta-feira - Dia de São Valentim, equivalente ao Dia dos Namorados - sobre o que eles alegam ser discriminação de casamento no Japão. O principal porta-voz do governo, o secretário-geral do Gabinete, Yoshihide Suga, transmitiu pouco interesse em uma mudança.

"Reconhecer ou não o casamento entre pessoas do mesmo sexo é um problema que tem a ver com as raízes de como deve ser uma família em nosso país", disse Suga ao Parlamento. "Por isso, é algo que precisa ser analisado com extrema cautela."

A batalha solitária de Inada para aprovar a legislação mostra como as sensibilidades japonesas podem estar mudando e o trajeto que os defensores têm pela frente. Inada, que comandou o Ministério da Defesa de agosto de 2016 a julho de 2017, é mais conhecida por justificar o passado de expansão colonial do Japão na Ásia do que por defender os direitos das minorias.

"Há tão pouca compreensão que alguns conservadores acham que reconhecer as pessoas LGBT vai destruir a família tradicional ou reduzir a taxa de natalidade", disse Inada, que é uma das 22 mulheres do comitê do PLD na Câmara dos Deputados, de 283 membros, em entrevista no mês passado.

Centro financeiro

Assim como em outros lugares, os japoneses que defendem os direitos LGBT encontraram aliados cada vez mais expressivos entre as corporações multinacionais, que consideram o assunto uma questão de competitividade para a terceira maior economia do mundo. Uma decisão do tribunal de Hong Kong que autorizou vistos dependentes para cônjuges do mesmo sexo no ano passado aumentou a pressão em lugares como Tóquio e Cingapura.

"Considerando Tóquio como um centro financeiro internacional e pensando sobe como atrair estrangeiros, seria melhor estabelecer uma estrutura para atrair pessoas talentosas", disse Hiroyuki Arita, diretor representante e presidente da unidade japonesa da gestora de ativos BlackRock, em entrevista.

A Câmara Americana de Comércio no Japão - com o apoio de organizações similares da Austrália, do Canadá, da Irlanda e do Reino Unido - deu um passo além em setembro com a publicação de um documento que pede igualdade total no casamento.

O povo japonês parece mais tolerante do que o PLD, que controla o governo desde 1955, com exceção de quatro anos. As relações homossexuais eram condenadas entre a classe samurai e os monges budistas antes da modernização do Japão em meados do século 19, quando o país adotou valores "ocidentais".