Parece tentador, mas vale a pena trocar refeições por shakes de emagrecer?
A proposta é tentadora: um líquido com nutrientes para substituir o almoço ou a janta e, assim, perder quilos. Mas, segundo os especialistas, os shakes não devem ser usados indiscriminadamente. “Não os considero como uma solução para perder peso ou contra a obesidade”, opina Fabiana Lopes Nalon de Queiroz, nutricionista e professora da Universidade de Brasília (UnB).
Primeiro, porque a restrição calórica --o método de emagrecimento promovido por essas bebidas-- não é considerada muito eficaz a longo prazo. Como reduz o consumo de calorias, o shake até emagrece, mas o efeito é praticamente temporário. Afinal de contas, a pessoa, eventualmente, terá que voltar a comer. E esse "vai e vem" não é nada benéfico.
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Se não houver uma reeducação alimentar envolvida e uma mudança de hábitos que inclua exercícios físicos, as chances de o peso voltar nessa hora são grandes. “O organismo passa a guardar energia para se defender da perda rápida, o que é até um dos fatores que facilita o reganho de peso”, explica Maria Edna de Melo, endocrinologista presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica).
E a saúde, como fica?
Ao apenas reduzir drasticamente as calorias do cardápio, há o risco de perder massa magra, em vez da gordura. E de nada adianta baixar o ponteiro da balança se for dessa maneira. “É como se a pessoa não tivesse emagrecido de verdade, apenas perdido peso”, comenta Fabiana. Daí a gordura segue existindo escondida, assim como o risco associado a ela de diabetes, hipertensão e outras doenças a longo prazo.
Sem contar que o radicalismo ameaça os rins. “Com menos calorias disponíveis da comida, o corpo passa a utilizar suas reservas de energia e isso a longo prazo pode alterar a função renal, o que favorece o risco de uma doença no órgão”, aponta Maria Edna.
Além da restrição calórica em si, o shake mal escolhido e indicado também pode fazer o órgão sofrer. É que algumas bebidas para atletas e idosos têm mais proteínas. “Se a pessoa consome um desses produtos e não é idosa ou atleta, e já tiver uma ingestão adequada de proteínas, pode haver uma sobrecarga desnecessária nos rins”, acrescenta a presidente da Abeso.
Por último, um grande ponto a favor da comida de verdade é a variedade de micronutrientes, como minerais e outras substâncias benéficas. “Os shakes são enriquecidos com nutrientes básicos e vitaminas, mas precisamos da diversidade de compostos oferecidas nos alimentos”, destaca.
Quando o shake é bem-vindo
O problema maior é recorrer a ele sem orientação médica e sem a adoção de hábitos saudáveis que mantenham essa perda de peso depois. Mas, com o devido acompanhamento, o shake faz parte de tratamentos para a obesidade e outras condições em que é preciso eliminar peso rapidamente --como alguém que irá se submeter à redução de estômago e precisa emagrecer antes do procedimento.
Outra situação em que ele pode valer a pena é ocasionalmente. “O ideal seria que ele fosse encarado como um substituto em refeições não-programadas. Por exemplo, se a pessoa não terá tempo de almoçar, mais vale tomar um shake do que comer uma coxinha”, explica Maria Edna.
Contudo, se a ideia é perder peso, não adianta nada cortar refeições ou aderir a dietas malucas.
Outros produtos
Para classificar uma bebida como substituta parcial de refeição, a Anivsa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) exige uma quantidade mínima de nutrientes básicos como carboidratos e proteínas, além de vitaminas e minerais.
Mas existem shakes e opções similares à venda com outras finalidades, por isso é preciso ficar de olho nos rótulos. Algumas bebidas para atletas, por exemplo, oferecem altas doses de proteína, sobrecarga potencialmente perigosa para os rins que não estão preparados para tal.
Fernanda Ferreira Corrêa, professora de Nutrição da Universidade Anhembi Morumbi, também foi consultada para esta reportagem.
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