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Luciana Bugni

Era feliz e não sabia: por que a gente é tão viciado em nostalgia?

Luciana Bugni

28/11/2017 08h00

"Esqueceram de Mim 2" fez 25 anos e eu tô tipo o Macaulay: já? (Foto: Reprodução)

 

"Eu era feliz e não sabia". "Ai que saudade de um tempo que não volta mais". O que não falta é ditado popular para enaltecer o passado. O que já foi é sempre incrível. E o presente, bem… é só olhar pra 2017 para perceber a bucha que é o presente.

Aí buscamos a cura na nostalgia. Ai, que tempo bom que era aquele em que a gente chegava de uniforme da escola e só se preocupava com o que ia ter para o jantar. Quando o auge da responsabilidade era estudar para duas provas no mesmo dia. Sinônimo de tensão era saber se minha mãe ia deixar eu ir na festa de 15 anos da Fernanda.

Outro dia, meus amigos de colégio reuniram a banda que tinham nos anos 90. Um show em comemoração ao tempo que passou. Na data, deixamos nossos filhos com os avós para celebrar o passado como se tivéssemos 17 anos outra vez. Uma balada em plena sexta-feira? Mas temos idade para isso? Logo a gente que tem ido dormir no máximo às 22h15 aos sábados… O repertório dos anos 90 nos cobria de nostalgia a cada acorde. I'm still alive. Olhávamos uns para os outros amando o que havíamos sido e o que nos tornamos. I love all of you hurt by the cold. Que tempo bom. Como se fosse possível, fugimos das contas para pagar, dos relatórios para entregar, dos prazos a cumprir, das mamadeiras para lavar por algumas horas e celebramos o passado e a amizade. Fuga, é como chama.

Mas… fugir do presente nesse tal "ai, como era bom" só funciona por algumas horas. Depois o que está nos esperando são os prazos, contas, relatórios e mamadeiras. E a gente encara, porque não tem jeito. Até a próxima portinha abrir para nos refugiarmos no conhecido antes.

Deve ser por isso que a gente não pode ler na internet que qualquer coisa foi há 20 anos ou mais que já sai logo clicando. Outro dia foi o filme "Esqueceram de Mim 2" que completou 25 anos. Faz 25 anos que Macaulay Culkin ficou sozinho em Nova York com aqueles ladrões no Natal. Não pode ser que estamos velhos desse jeito! Os lançamentos do cinema do seu tempo já são clássicos há décadas, aceita.

Fiquei olhando a vista da janela e pensando no que era mato, quando os vizinhos começam a decorar as varandas com as luzes de Natal. Logo seria minha vez de mexer nas caixas de bolas, festão e nostalgia e montar a árvore. O cheiro do passado em cada enfeite. Ai, que tempo bom, de estar com gente que foi embora. Naquela tristezinha de saudade, uma ponta de prazer. A árvore ficou pronta, pisca-piscando melancólica na sala.

Eu não sei se foi a banda dos meus amigos, os clássicos do rock dos anos 90, esses enfeites da árvore cheios de história, ou se foi esse menino esquecido em Nova Iorque com dois ladrões há tantos anos… mas que saudade desse tempo bom que não volta mais.

Mas pensa bem: se o Macaulay Culkin conseguiu sobreviver ao Natal sozinho duas vezes, eu e você também vamos conseguir.

Sobre a autora

Luciana Bugni é gerente de conteúdo digital dos canais de lifestyle da Discovery. Jornalista, já trabalhou na “Revista AnaMaria”, no “Diário do Grande ABC”, no “Agora São Paulo”, na “Contigo!” e em "Universa", aqui no Uol. Mora também no Instagram: @lubugni

Sobre o Blog

Um olhar esperançoso para atravessar a era digital com um pouco menos de drama. Sororidade e respeito ao próximo caem bem pra todo mundo.