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Como lidar com perguntas difíceis e comentários saias justas das crianças

Esses questionamentos são normais e os pais devem aprender a lidar com eles - Getty Images
Esses questionamentos são normais e os pais devem aprender a lidar com eles Imagem: Getty Images

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/05/2016 08h05

Não raro, as crianças colocam os adultos em alguma saia-justa. Geralmente, a partir dos quatro anos, elas têm curiosidade sobre muitas coisas, questionam o que não entendem, além de exporem sua opinião sem receio do que os outros vão pensar.

Confira como lidar com dez situações dessa natureza da melhor maneira possível:

Consultoria: Paula Saretta de Andrade e Silva, psicóloga e doutora em educação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); Luciana Fevorini, psicóloga e diretora escolar do Colégio Equipe, em São Paulo, e Dannielle Bracioli Silva, psicóloga materno-infantil, de São Paulo.

  • O que é sexo?

    Geralmente, as respostas que a criança procura são mais simples do que os adultos imaginam. Por isso, responda com o máximo de naturalidade possível e evite entrar em detalhes. Na maioria das vezes, ela nem tem condições de compreendê-los. Antes de responder, procure saber o motivo da curiosidade, em que contexto a criança ouviu a palavra. Afinal, ela pode ser usada em diferentes momentos (para indicar sexo feminino e masculino e para se referir à relação sexual). Esse cuidado é importante para verificar se seu filho não foi exposto a alguma situação constrangedora ou ameaçadora. Depois, recorra aos valores familiares para elaborar a resposta. Você pode, por exemplo, optar por responder que sexo é uma coisa que os adultos que se amam fazem quando estão com vontade ou quando querem ter um bebê. Também pode responder que é um tipo de namoro. Se sentir necessidade, procure livros infantis que tratam do assunto.

  • O que é motel?

    Novamente, é importante levar em conta as opiniões familiares a respeito e indagar à criança onde ela ouviu o termo. É possível explicar, por exemplo, que esse é um lugar onde casais vão passear ou que é um local para adultos namorarem. Sempre vale a pena deixar claro o termo adulto para que seu filho cresça sabendo que existem lugares que não podem ser frequentados por crianças em hipótese alguma. Assim, ele aprende, desde cedo, a se proteger de possíveis ameaças ou tentativas de abuso.

  • O que é camisinha?

    Respostas breves costumam atender às expectativas. "É uma proteção que os homens adultos usam" ou "É um plástico que homens adultos usam para proteger o pênis". Evite relacionar a camisinha à gravidez ou doenças sexualmente transmissíveis para que não surjam mais dúvidas.

  • Aquela mulher cheira muito mal!

    Com educação e discrição, repreenda imediatamente a criança, dizendo que não se deve dizer o que ela falou. Faça isso de forma breve e, em seguida, oriente-a a pedir desculpas à pessoa, que pode ter se sentido ofendida. Acompanhe-a nesse momento para evitar que ela seja mal tratada pelo adulto em questão. Depois, em outro momento, retome com a criança o ocorrido falando sobre como a pessoa pode ter se sentido ao ouvir o comentário. Ensinar a respeitar e a se colocar no lugar do outro significa não só falar o que é certo, mas principalmente moldar o comportamento que você quer que seu filho siga. Mais do que falar, portanto, aja de maneira que sirva de exemplo. Além de tudo isso, é fundamental procurar entender em que contexto a criança se expressou. Às vezes, ela reagiu para se esquivar de algo ou se defender. Nesse caso, busque orientá-la a agir de outra forma quando situações assim acontecerem novamente, chamando-lhe e explicando-lhe o que está ocorrendo, para que você possa cuidar dela e defendê-la.

  • Ele é muito gordo!

    Mais uma vez, é importante reprovar o comentário da criança e orientá-la a pedir desculpas imediatamente. Depois, converse com seu filho sobre a variedade de tipos físicos que existem e que nenhum deles deve ser motivo de comentários engraçados ou maldosos, pois isso é uma forma de discriminação. É importante também falar sobre outras características mais importantes que definem as pessoas, como simpatia e generosidade. Lembre-se de que aprender o respeito, a compaixão, a lealdade, entre outros, não é só um processo cognitivo, ou seja, acontece racionalmente. Então, mostrar às crianças como as pessoas se sentem quando são ofendidas ou discriminadas é um bom modo de conduzir a educação em uma perspectiva moral. Em hipótese alguma demonstre que achou o que seu filho disse engraçadinho, mesmo que a pessoa ofendida dê risada do que aconteceu.

  • Você é muito feia!

    Depois de reprovar o comentário e orientar que a criança se desculpe, a conversa a sós com seu filho tem de fazê-lo compreender que as pessoas são diferentes e que ele pode achar uma pessoa feia, mas outros podem achá-la bonita. Lembre-se também de dizer que antes de fazer comentários assim é importante se colocar no lugar da pessoa para imaginar como ela se sentirá. Considere que, quando pequenas, as crianças ainda estão aprendendo normas sociais, como não falar exatamente o que se pensou para uma pessoa se isso puder ofendê-la. Outra recomendação é buscar saber, na escola, como é o comportamento do filho e da turma de amigos dele, para conferir se lá esse tipo de agressão também ocorre e se a criança está aprendendo a falar esse tipo de coisa com algum colega.

  • Por que existem pessoas que moram na rua?

    É realmente difícil explicar às crianças as origens das desigualdades sociais. Ainda assim, elas não podem ficar sem respostas. Diga que não há um único motivo para pessoas morarem nas ruas, mas que, em geral, se isso acontece, é porque são pobres demais a ponto de não terem condições de pagar por um lugar para morar, estão sem trabalho ou se desentenderam com a família.

  • Papai Noel existe?

    Quanto menor a criança, mais vale a pena responder com outra pergunta: "O que você acha?". É importante que ela verbalize a própria opinião e chegue a uma conclusão com base nisso. Se depois de falar o que pensa, ela continuar em dúvida, diga que não é preciso ter pressa para concluir se ele existe ou não. No caso de crianças maiores, confira na escola, com o professor da turma, o que os colegas têm dito a respeito. Pode ser que seu filho seja o único a acreditar no personagem. Se for isso, avalie se não é hora de contar a verdade a ele. Se julgar que sim, comece a conversa perguntando o que os colegas da escola têm falado sobre isso e se ele acha que faz sentido. Dependendo das conclusões dele, ajude-o a chegar à realidade.

  • Eu vou morrer?

    Esse tipo de questionamento costuma aparecer quando alguém do círculo de relacionamento da criança morre. Seja breve na explicação, para não causar temores. Explique que sim, um dia, todos vamos morrer, mas geralmente isso acontece quando a pessoa é bem velhinha.