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Contar ou não? Psicólogas dizem quando é melhor ser sincero com as crianças

A ideia de poupar o filho contando uma mentira pode ser desastrosa - Getty Images
A ideia de poupar o filho contando uma mentira pode ser desastrosa Imagem: Getty Images

Do UOL, em São Paulo

20/03/2016 07h15

Pais de crianças pequenas, muitas vezes, se veem em uma posição difícil diante de perguntas difíceis feitas pelos filhos ou mesmo frente a problemas da vida capazes de gerar sofrimento. Será melhor contar a verdade sempre ou é mais saudável poupá-los da dor?

A analista junguiana Hellen Mourão, psicoterapeuta de adultos, adolescentes e crianças, e a psicóloga infantil Daniella Freixo de Faria, especializada em psicologia analítica pela PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo, explicam qual a melhor maneira de agir em cada situação.

  • O coelho da Páscoa existe? É verdade que a cegonha traz os bebês?

    Quando a criança não tem maturidade para entender determinada questão, a fantasia pode ser uma maneira sensível de explicar o assunto a ela. Quando os pais fazem isso, entram no universo do filho e ele se sente seguro para aceitar a explicação dada. Conforme cresce, ele vai diferenciando com naturalidade o que é mito do que é verdade. Diante de questões mais concretas, como a origem dos bebês, o melhor caminho é sempre perguntar para a criança o que ela sabe sobre o tema. Baseado na resposta que der, os pais descobrem até onde ir. Explicações muito complexas podem deixá-la aflita, sem condição de digerir tanta informação. Quanto mais simples a reposta, melhor.

  • Para onde o vovô foi?

    Apesar de uma situação dramática para a família, ocultar a morte de um ente querido não é positivo. Com sensibilidade, é possível ensinar a lidar com a perda. O ego da criança se forma com o choque, portanto, esconder os acontecimentos não a prepara para a vida. A criança também precisa viver o luto. É o momento de dar colo, atenção e carinho até que a situação se estabilize, mostrar que aqueles que amamos estarão sempre em nossos corações. Mentir é pior. A criança ficará ainda mais angustiada vendo a excessiva tristeza de todos, sentindo que há algo no ar, sem saber o que é.

  • Quando a criança deve ser poupada?

    A adequação da linguagem segundo a idade da criança é a melhor maneira de poupá-la, sem abrir mão da verdade. É sempre possível encontrar uma forma mais suave de dizer o que precisa ser dito, ainda que recorrendo a uma fábula. Mesmo estando cientes das situações da vida, as crianças não precisam estar presentes em ambientes estressantes, como hospitais, enterros, velórios e tribunais. Existem assuntos que apenas os adultos irão tratar. As crianças merecem e devem permanecer como tais, pois têm seu emocional ainda em desenvolvimento.

  • Descobrindo a mentira...

    A ideia de poupar o filho contando uma mentira pode ser desastrosa. As crianças são mais espertas do que se imagina. São capazes de insistir até chegar à verdade. Ao se depararem com a mentira dos adultos, sentem-se decepcionadas, o que pode fazer com que percam a referência. Falar a verdade é uma questão de construir confiança. Quando a mentira aparece, uma distância se abre. As crianças também entendem que podem usar do mesmo recurso quando precisarem.

  • Verdade que machuca

    Saber que não atingiu a nota mínima para ser aprovada em um teste ou mesmo que não foi convidada para uma festa que desejava muito ir também podem ser grandes frustrações para a criança, capazes de abalar sua autoestima. Ainda nesses casos, é preciso ser sincero. É fundamental explicar que haverá momentos em que não teremos sucesso ou não seremos capazes de agradar a todos, e isso faz parte da vida.

  • Proteção que faz mal

    Uma criança que é constantemente poupada dos problemas torna-se um adulto imaturo, incapaz de aguentar frustrações. É aquela pessoa que leva a birra para a vida adulta e não sabe lidar com as pressões do trabalho ou do relacionamento. A criança pode se manter na ideia egocêntrica de que tudo tem de funcionar para ela e do jeito dela. Quando passa a se relacionar com o mundo, que não funciona dessa forma, as coisas começam a se complicar.

  • Papai pensa que sim, mas mamãe acha que não

    A melhor maneira de solucionar as divergências na educação dos filhos é o diálogo. É preciso conversar e tentar chegar a um meio termo entre a proteção excessiva e a dureza. Para Daniella, os pais devem buscar a coerência, principalmente em questões fundamentais da educação, como falar a verdade.