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Mães contam sobre a dificuldade de lidar com a depressão pós-parto

Do UOL, em São Paulo

17/02/2016 07h05

Tristeza, angústia e ansiedade no pós-parto são alguns indícios de que a mulher pode estar com depressão. O tema ainda é tabu e muitas mulheres escondem da família o que sentem para evitar julgamentos. No entanto, a mãe precisa da ajuda de profissionais e da família para sair desse quadro. A seguir, mulheres contam como lidaram --ou ainda lidam-- com o problema.

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    Fernanda Paschoalette, 29, e os filhos, Bernardo, 11 meses, e Valentina, 3

    "A depressão pós-parto veio oito meses depois que ganhei a minha primeira filha. Iniciei o tratamento com acompanhamento psiquiátrico mas, pouco tempo depois, abandonei os remédios e a terapia porque estava grávida de novo. Achei que conseguiria ficar bem com a nova gestação, mas foi só meu filho nascer para eu perceber que estava totalmente descontrolada. Eu me distanciei do meu marido e da minha filha, sentia pânico o tempo todo e abandonei os cuidados com o recém-nascido. Foi quando procurei o médico novamente e recomecei o tratamento. Foram dois meses até a depressão ser controlada. Tenho recaídas e ainda estou em tratamento."

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    Danielle Nayara Menuci, 20, e a filha, Ayra Giovana, 10 meses

    "No segundo mês de vida da minha filha, percebi que não estava bem. Não tinha vontade de sair de casa, conversar com ninguém nem de brincar com a bebê. Tinha medo de falhar no cuidado com ela, além de uma tristeza incontrolável. Também perdi a vontade de me arrumar e, quando saía na rua, achava que todos estavam com pena de mim. Por vergonha, não procurei ajuda médica. Na minha família, ninguém acredita em depressão, acham que é apenas uma tristeza passageira. Só conversava sobre meus medos e angústias com meu marido, mas a depressão fez a gente brigar muito. Ouvir histórias de outras mães que também passaram por isso me ajudaram a melhorar. Desde que a minha filha fez oito meses, os sintomas diminuíram. Não estou curada, mas luto para vencer a depressão diariamente."

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    Elda Cardoso Sena de Oliveira, 43, e o filho, Bruno, 26

    "Tinha apenas 17 anos quando engravidei. Depois de casar, mudei de cidade e me vi sozinha, pois meu ex-marido não era presente. Acho que esse cenário colaborou para que eu caísse em depressão após o nascimento do meu filho. Quando ele nasceu, eu não queria nem segurá-lo. Chorava todo o tempo e perguntava para a minha mãe o que fazer com aquela criança. Não conseguia amamentar nem demonstrar afeto. Quando minha mãe percebeu que eu só queria dormir, ela comprou fórmula e passou a alimentá-lo na mamadeira. Hoje sei que era depressão pós-parto. Na época, em 1989, pouco se falava sobre o assunto. Só fui melhorar seis meses depois, quando decidi terminar o meu casamento."

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    Talita Siqueira Esteves, 29, e o filho, Rafael, 2 meses

    "Engravidei sem planejar. Após uma cirurgia, tomei remédios que cortaram a eficácia da pílula. Por isso, demorei para aceitar minha gestação. Para piorar a situação, no fim da gravidez, uma amiga se suicidou após perder um bebê. Aquilo me assombrou por muito tempo. Quando o Rafael nasceu, achava que ele morreria de repente, então, passei a não dormir para ficar observando-o. Também tive muito problema para amamentar, o que me causava uma sensação terrível de invalidez. Eu me sentia triste e com raiva do meu filho. Passei a tratar meu marido mal e a desgostar do bebê. Minha baixa autoestima também colaborou com a depressão, eu me olhava no espelho e me via descabelada, com a barriga destruída e tinha vontade de morrer. A pior fase da depressão durou um mês. Não procurei ajuda médica, mas, ainda hoje, choro de culpa por ter odiado os primeiros momentos com meu filho (na foto, Talita com o filho e o marido, também Rafael)."

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    Camila Tandara Pereira de Souza, 26, e o filho, Lucca, 5 meses

    "Quando vi o Lucca pela primeira vez, não me emocionei ou chorei, como aconteceu com meu primeiro filho. Tinha passado por muito estresse. Foram 41 horas de trabalho de parto e, no fim, tive de fazer cesárea. Passei a me sentir triste já no hospital, mas o médico disse que era normal, por conta dos hormônios. Quando meu filho fez dois meses, a angústia e a tristeza aumentaram, só que novamente o médico falou que não era preocupante. Aos três meses de vida do Lucca, cheguei ao ápice da crise. Chorava muito, abandonei os cuidados com a casa e com o bebê. Então, quando comecei a pensar em me matar e também em matar meus dois filhos, procurei um psiquiatra. Cheguei ao consultório e desabei no choro, lembro que tremia muito. A médica diagnosticou a depressão pós-parto e comecei a me tratar com medicamentos. Os remédios me ajudam muito, mas ainda preciso me esforçar para trocar pensamentos ruins pelos positivos."

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    Erica Oliveira, 30, e a filha, Maria Clara, 1 ano

    "Quando minha bebê nasceu, sentia um medo imenso de ela morrer ou se machucar. Por isso, não deixava que ninguém se aproximasse dela. Era eu quem fazia tudo. Mas, com o tempo, começou a ficar difícil, chorava o tempo todo, não me alimentava ou dormia. Por sorte, meu marido me compreendeu, assim como outras pessoas próximas. Então, fui ao meu ginecologista e obstetra, que passou uma medicação para eu me acalmar. Ele também indicou uma psicóloga e eu fui, mas não quis mais voltar quando ela sugeriu a ida a um psiquiatra --tinha muito medo de acharem que eu era louca. Três meses depois do início da crise, comecei a melhorar."

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    Marília Mello, 31, e a filha, Ana Luiza de Mello, 10

    "Tinha um bebê de um ano quando soube da segunda gravidez. Foi um choque. Ao mesmo tempo, quando contei na empresa que estava grávida, fui demitida. Então, durante a gestação, precisei entrar com um processo judicial. Ganhei, mas fui diagnosticada com depressão pré-parto. Fiz acompanhamento com psiquiatra e tomei remédios controlados durante a gestação. Quando minha filha nasceu, o quadro piorou. Não quis amamentar e ela foi para a mamadeira logo no primeiro dia. Tinha crises de choro contínuas e não queria cuidar dela. Quem fazia isso era a minha mãe e o meu marido. Depois fui descobrir que era depressão pós-parto. Continuei com acompanhamento psiquiátrico e com medicamentos, mas só fui me sentir melhor quando ela completou seis meses."

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    Larysse Evem Andrade Santos, 30, e a filha, Heloisa Karlla, 4

    "Quando minha filha nasceu, eu me senti insegura e incapaz de cuidar dela, mas achei que era algo normal para uma mãe de primeira viagem. Porém, com o tempo, veio o choro, a tristeza e até o arrependimento por ter tido bebê. Minha família logo percebeu que eu estava com depressão e passou a me apoiar. Eu me sentia invadida, deixei de ser eu mesma para ser a mãe da Heloisa. Cheguei a me consultar com o meu obstetra, mas ele disse que não era necessário ir a um especialista e que, se tomasse medicação, seria difícil parar. Levei essa situação por um ano. Hoje, percebo que só melhorei quando voltei a trabalhar e retomei a minha vida como mulher."